Em Roraima, Yanomamis relatam que criança recém-nascida foi levada por garimpeiros
30 de abril de 2022
Polo Base Maloca Paapiu, Terra Indígena Yanomami (Reprodução/ Twitter)
Ívina Garcia da Revista Cenarium
MANAUS – Após a denúncia de abuso sexual e morte de uma adolescente de 12 anos e o desaparecimento de uma criança de 3 anos, o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana, foi até a aldeia Aracaçá, na região de Waikás e Palimíu, em Roraima, e recebeu relatos do desaparecimento de um recém-nascido.
Entre os muitos crimes relatados desde que os garimpeiros passaram a invadir as Terras Indígenas em Roraima, nesta semana, segundo notificação do Condisi/YY, indígenas informaram que recentemente um recém-nascido foi levado para Boa Vista, capital do Estado, por um garimpeiro que alegava ser pai da criança.
De acordo com o informativo, os órgãos responsáveis foram informados sobre a situação frequente em território Yanomami e foram ao local para investigar as informações repassadas ainda no último dia 27 de março. A Funai, entretanto, publicou nota informando que as equipes não encontraram indícios de crimes contra mulheres e crianças na Terra Indígena Yanomami, as diligências foram encerradas e as equipes retornaram para Boa Vista no dia 28 de março.
O Conselho relata ainda que alguns indígenas foram coagidos e instruídos a não expor qualquer ocorrência que tenha acontecido na região. Outros chegaram a receber 5g de ouro para manter sigilo, o que pode ter dificultado o trabalho das equipes policiais que foram ao local investigar o caso.
Morte de criança indígena
O caso da adolescente, de 12 anos, foi denunciado na segunda-feira, 25, por Júnior Hekurari Yanomami. Nas redes sociais, o indígena relatou que a morte da menina aconteceu quando um grupo de homens do garimpo invadiu a comunidade e a levou, além de outras duas mulheres. A tentativa de sequestro resultou no sumiço de uma criança de 3 anos, filha de uma das adultas, que desapareceu no Rio Uraricoera.
A suspeita é que a criança e a mãe estariam tentando se defender dos garimpeiros, quando a filha da mulher se desequilibrou do bote em que estavam navegando. Os indígenas, revoltados e transtornados com a situação, foram orientados a não reagirem, pois os garimpeiros poderiam estar fortemente armados.
Júnior Yanomami mostra a destruição causada pelo fogo em Aracaçá, aldeia onde viviam, pelo menos, 24 indígenas (Arquivo/Júnior Yanomami)
A comunidade fica no município de Alto Alegre, na Terra Yanomami. A região se tornou uma espécie alvo de exploração ilegal de ouro sendo rota usada por garimpeiros para chegar aos acampamentos ilegais no meio da floresta. Com 27 mil indígenas, a região é considerada a maior reserva indígena do Brasil, com quase 10 milhões de hectares entre os Estados de Roraima e Amazonas.
Em nota publicada na quarta-feira, 27, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) também se pronunciou sobre o episódio e exigiu a retirada dos garimpeiros da região de Waikás, em Roraima. A associação ressaltou que está acompanhando o caso e salientou que, se confirmado, o episódio de violência sexual contra crianças e adolescentes não é o único ocorrido na região.
Além da associação, a ministra Cármen Lúcia do Supremo Tribunal Federal (STF) pediu, na quinta-feira, 28, investigação e esclarecimento sobre os fatores que rondam a morte da menina indígena. O pedido foi realizado durante a abertura de sessão do STF. A ministra afirmou que as mulheres brasileiras vivem um “descalabro de desumanidades”.
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