Em um ano, desmatamento da Amazônia avança 9,5% e chega a 11 mil km², diz Inpe

A análise foi feita pela ONG ICV (Instituto Centro de Vida) com base nos dados do Prodes, programa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que disponibiliza taxas anuais de desmatamento em biomas brasileiros. (Plaucheur/AFP)

Com informações do O Globo

RIO DE JANEIRO – O desmatamento na Amazônia Legal atingiu uma área de 11.088 km², um avanço de 9,5% em relação ao ano passado, e atingindo o maior patamar desde 2008. A informação, coletada pela ferramenta Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite, foi divulgada esta segunda-feira no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP).

O índice equivale ao desmate ocorrido entre agosto de um ano a julho do ano seguinte. Desta vez, portanto, foi entre agosto de 2019 e agosto de 2020. É a primeira vez que o período analisado pelo sistema abrange exclusivamente o governo de Jair Bolsonaro.

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O Pará concentrou quase metade (46,8%) do desmatamento observado pelo Prodes, seguido por Mato Grosso (15,9%), Amazonas (13,7%), Rondônia (11,4%), Acre (5,9%), Roraima (2,7%), Maranhão (2,6%), Amapá (0,7%) e Tocantins (0,2%).

De acordo com o Observatório do Clima, a taxa do Prodes oficializa que o Brasil descumpriu a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima, que preconizava que o país deveria reduzir o índice de desmatamento a um máximo de 3.925 km² em 2020.

“O país está 180% acima da meta, o que o põe numa posição em desvantagem para cumprir seu compromisso no Acordo de Paris (…) a partir do início do ano que vem”, afirmou a ONG. “Devido ao aumento do desmatamento, o Brasil deve ser o único grande emissor de gases de efeito estufa a ter aumentado em suas emissões no ano em que a economia global parou por conta da pandemia”.

Diversos fatores são apontados por ambientalistas como indicativos de que o governo Bolsonaro patrocina um desmonte na área ambiental, como a paralisação da cobrança de multas pelo Ibama, o congelamento do Fundo Amazônia, o aparelhamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente, a perseguição de agentes ambientais e o envio de propostas ao Congresso favoráveis à legalização da grilagem e do roubo de terras indígenas não homologadas.

O governo federal enviou este ano 3.400 militares à Amazônia, na Operação Verde Brasil 2, e instituiu uma moratória de 72 dias proibindo as queimadas no bioma, mas não conseguiu conter sua devastação.

— Desde sempre, quando o desmatamento sobe, a gente fica se perguntando o que due errado nas tentativas de controle do crime ambiental. Desta vez, a gente sabe que a alta aconteceu porque deu tudo certo para o governo —diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

O cientista da computação Gilberto Câmara, que dirigiu o Inpe entre 2005 e 2012, destaca que o desmatamento aumentou 50% em dois anos, mostrando que a devastação da floresta está “fora de controle”.

— O governo federal não anunciou nenhuma medida que pudesse conter o aumento do desmate na floresta, mesmo tendo os dados do Deter, um sistema que detecta o desmatamento em tempo real — avalia. — Foram gastos milhões de reais nas operações das Forças Armadas e não houve resultados. A estratégia de substituir o Ibama por militares não funcionou.

Os resultados do Prodes foram apresentados à imprensa pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia; pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. O diretor do Inpe, Clézio Marcos de Nardin, que acompanhou o anúncio dos números, levou a comitiva para conhecer o satélite Amazônia 1, o primeiro que será dedicado à observação ambiental com projeto, teste e operação realizados exclusivamente pelo Brasil.

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