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Emboscada: mais um indígena Kaiowá é morto em conflito de terra no Mato Grosso do Sul
A denúncia feita pela Grande Assembleia Guarani e Kaiowá (AtyGuasu)(Reprodução/ Internet)
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15 de julho de 2022
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS – O indígena Márcio Moreira Guarani Kaiowá, 35, foi morto a tiros na tarde dessa quinta-feira, 14, na cidade de Amanbaí, no Mato Grosso do Sul, em uma emboscada disfarçada de oferta de emprego. Márcio estava acompanhado de outros quatro indígenas Kaiowá.
A denúncia feita pela Grande Assembleia Guarani e Kaiowá (AtyGuasu). Segundo a associação, os cinco indígenas Kaiowá foram chamados para trabalhar em uma construção na beira da rodovia MS 386, perto da sede da Coamo Agroindustrial Cooperativa, quando foram surpreendidos pela emboscada por homens armados até então não identificados.
Um dos sobreviventes ao ataque, que acompanhava Márcio, era menor de idade e foi ferido por tiros disparados pelos dois homens que estavam em uma moto. O jovem conseguiu escapar da armadilha, mas foi atingido de raspão pelos tiros.
O Kaiowá Willis Fernandes, também atingido pelos tiros, foi preso e acusado pelos policiais de ser o autor dos disparos. A informação é negada pela Aty Guasu. Willis é filho de Vitor Guarani Kaiowá, 42, indígena morto durante conflito no final de junho, nessa mesma região. Dois guaranis seguem desaparecidos, e a suspeita levantada pela Atyguasu é de que eles estejam sendo torturados.
Manifesto
Nas redes sociais, indígenas e ativistas tem constantemente se manifestado, cobrando ações do Governo Federal e a cobertura da imprensa nacional da situação que ficou conhecida como “Massacre Guapo’y” com ataques que perduram há 2 meses no território.
Desde o início dos confrontos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não se manifestou sobre os casos, apesar da pressão feita por ativistas e os povos originários da região.
O líder indígena Márcio Moreira era conhecido como uma importante figura para os povos da região. Em vídeo gravado pelo jornalista Leandro Barbosa no dia 24 de junho de 2022, durante a retomada, Márcio falou que a presença dos “irmãos” não era temporária. “Essa terra que chama fazenda é terra indígena”, afirmou.
Conflitos na região
Desde o fim de maio, a CENARIUM vem noticiando os conflitos entre os Guarani Kaiowá e os fazendeiros da região. Alex Recarte Vasques Lopes, de 18 anos, foi uma das primeiras vítimas. O jovem foi assassinado em Coronel Sapucaia (MS), ao sair da Reserva Taquaperi para buscar lenha numa área próxima a uma fazenda.
O assassinato de Márcio é mais um que acontece desde o início dos ataques de fazendeiros e policiais contra os indígenas Guarani Kaiowá, durante a retomada da Tekoha Gwapo’y Mi Tujury, território ancestral pertencente ao povo, mas que atualmente está no nome da Fazenda Borda da Mata.
A morte de Vítor Guarani Kaiowá, ocorrida no final de junho, noticiada nas mídias, aconteceu durante a invasão das tropas de choque da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PM-MS) que atacaram, sem ordem judicial, a comunidade Guarani e Kaiowá. Na ocasião, o conflito ainda deixou outros 29 indígenas feridos.
A Polícia Militar chegou a alegar que os indígenas estavam armados e atiraram contra os policiais, mas a informação foi desmentida pela Cacica Guarani-Kaiowá Valdelice Veron ao Ministério Público Federal (MPF), e relatou que Vitor tinha problemas de locomoção o tornaria dificultoso o indígena estar utilizando ‘armamento pesado’ enquanto corria.
Histórico de violência
Segundo o relatório do Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (Cedoc-CPT), até maio de 2022, 19 pessoas foram assassinadas em conflitos no campo no Brasil. O número já atingiu metade (54%) do registrado em todo o ano de 2021, quando 35 homicídios foram registrados.
Dentre esses assassinatos está listada a morte de Alex Recarte Vasques Lopes, 18 anos, do povo Guarani Kaiowá. Ele foi morto ao sair da reserva Taquaperi, em Coronel Sapucaia (MS), para buscar lenha em uma área do entorno da Terra Indígena (TI). No local, foi assassinado e o corpo abandonado no Paraguai – em uma área a menos de dez quilômetros dos limites da reserva indígena.
Em abril deste ano, Erileide Guarani Kaiowá classificou a situação dos povos originários no Brasil como um “Genocídio planejado e silenciado”. A fala da líder indígena foi durante a participação na 21ª Sessão do Fórum Permanente da ONU sobre Questões Indígenas, realizado em Nova York no dia 28 de abril.
“Meu povo está morrendo de fome porque não temos terra para plantar. As poucas que nos restam, o governo brasileiro está arrendando para os agricultores do agronegócio (…) Minha comunidade sobrevive com menos de 50 hectares e estamos cercados de plantações de soja e milho. Denunciamos o impacto dos venenos em minha família e nas pessoas próximas a mim“, denunciou a Guarani Kaiowá.
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