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Embrapa indica que vaca brava emite 40% mais gás metano e produz menos leite
Gado em fazenda de Escondido, na Califórnia (Ariana Drehsler/AFP)
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14 de dezembro de 2021
Com informações da Folha de S. Paulo
SÃO PAULO – A pecuária entra de vez na lista dos setores mais checados quando se trata de redução de gás metano, após o País ter assinado o Compromisso Global de Metano, na COP26. O Brasil e mais uma centena de países se comprometeram em reduzir em 30%, até 2030, as emissões de gás metano, provindas de aterros, decomposição de matéria orgânica e, principalmente, da pecuária.
Todo estudo é válido, e o mais recente da Embrapa indica que vacas bravas produzem menos leite e emitem 40% a mais de fermentação entérica (o arroto) por quilo de leite.
A pesquisa, conduzida pela Embrapa Gado de Leite, em Minas Gerais, e pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), demonstra que os animais mais arredios à presença humana e à ordenha, além de gerar uma emissão maior de gás, produzem menos leite.
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Um dos caminhos para a redução da emissão de gás metano na pecuária passa pela melhora do manejo dos animais e a busca por um sistema mais eficiente na produção de leite, segundo Mariana Campos, pesquisadora da Embrapa.
A manifestação das vacas mais bravas vem por meio de coices, agitação e menor velocidade na ordenha. E elas gastam energia com isso.
As mais calmas passam mais tempo ruminando e ficam mais tranquilas durante a ordenha, produzindo mais leite, segundo a pesquisadora.
Para a professora Aline Sant’Anna, da Universidade Federal de Juiz de Fora, o temperamento dos animais possui um componente herdável, mas as condições ambientais também interferem no caráter das vacas. É necessário um ambiente calmo durante a ordenha.
A redução da emissão de gás metano nas vacas leiteiras já ajuda no cumprimento do acordo. Segundo dados do IBGE, o rebanho brasileiro é de 218 milhões de cabeças de gado. Deste número, 16,2 milhões são vacas que foram ordenhadas no ano passado.
Maurício Antônio Lopes, pesquisador da Embrapa, afirma que a pecuária realmente é um problema na emissão de gás metano, mas que começam a surgir soluções para essa redução. E elas são necessárias porque o rebanho bovino mundial cresce ano a ano.
Dados do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicam que o rebanho mundial de bovinos é de 996,5 milhões de cabeças de gado e que, em um ano, estará em 1,01 bilhão.
O pesquisador da Embrapa afirma, no entanto, que o metano, o novo vilão da crise climática, não deve necessariamente ser encarado como um problema muitíssimo grave, como o CO₂.
“Além de ter vida curta na atmosfera terrestre, de 10 a 12 anos —o que nos permite manejar seu conteúdo em prazos reduzidos e a custos baixos—, o metano é um gás valioso, do ponto de vista do interesse humano.”
Ele acredita que a crise climática possa aguçar o interesse da sociedade pelas qualidades do metano como fonte de energia e matéria-prima para múltiplas indústrias. Um desses usos, por exemplo, pode ser a substituição do gás natural, derivado do petróleo.
No próximo ano, a New Holland coloca no mercado um trator movido a biometano. Por meio de biodigestores, as propriedades agrícolas podem produzir seu próprio combustível, gerar energia elétrica e vender eventuais sobras para a rede de distribuidoras.
Segundo a New Holland, ao usar o biometano, o impacto de carbono da máquina é virtualmente zero. Com relação aos desafios que a pecuária bovina terá, à medida que avançarem estratégias para redução do metano, o pesquisador já vê algumas soluções.
Serão necessários investimentos cada vez maiores no melhoramento genético para uma elevação da produtividade e garantia de carne e de leite. Essa evolução permite a existência de um número menor de bovinos e uma redução da emissão de metano.
Lopes afirma também que há evidências de variabilidade genética para emissão de metano. No futuro, haverá linhagem de animais geneticamente propensos a emitir um menor volume do gás.
Linhagens de animais de certa composição genética tendem a se associar a microrganismos que produzem menos metano quando provocam a fermentação anaeróbia do rúmen.
Outro aspecto interessante, na avaliação de Lopes, é a possibilidade de manejar a composição do chamado microbioma bovino, que compõe a enorme população de microrganismos que habitam o rúmen e provocam a fermentação anaeróbica da matéria vegetal ingerida pelos bovinos, o que leva à emissão de metano.
O manejo da alimentação, por exemplo, com a introdução de aditivos alimentares em rações, capazes de reduzir a produção de metano pela inibição de organismos metanogênicos no rúmen.
Segundo o pesquisador, a DSM, empresa dedicada à nutrição animal, recebeu recentemente aprovação para comercializar no Brasil um aditivo para rações que reduz o metano para ruminantes.
Consultada, a DSM informou que desenvolve pesquisa há dez anos em 13 países e que, colocado na ração das vacas (e outros ruminantes), o aditivo reduz em aproximadamente em 30% a emissão de metano entérico.
A pesquisa da Embrapa e da Universidade Federal de Juiz de Fora foi a base da tese de doutorado de Maria Guilhermina Pedroza em biodiversidade e conservação da natureza.
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