Empresas do PIM preparam-se para crise pós-pandemia

Polo Industrial de Manaus - Foto: Divulgação

Stephane Simões – Da Revista Cenarium

MANAUS – No Amazonas, em média, 85% das empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM), reportaram medidas de enfrentamento ao Novo Coronavírus, vírus que causa a doença Covid-19, segundo informou a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).

Aproximadamente 15% das indústrias já entraram em férias coletiva, enquanto ao menos 35% das empresas já reduziram a produção, devido à falta de componentes. Algumas dessas empresas adotaram ações como férias parciais das linhas mais afetadas ou licença remunerada.

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O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, afirmou à Revista Cenarium que, entre os fabricantes da Zona Franca de Manaus (ZFM), o mais afetado será o setor de eletroeletrônicos. Porém, para ele, ainda é muito prematuro apontar os impactos que a economia deve sofrer, visto que o Amazonas ainda se encontra em meio à pandemia.

“O que há são previsões e estimativas que não podem ser consideradas, visto que ainda não temos uma certeza de até quando teremos que ter parte da indústria local paralisada, bem como não temos ideia de qual será o nível de produção desse período nem o valor de faturamento. A única certeza é que teremos uma queda considerável na produção e faturamento”, afirmou Silva.

Em relação a estudos que possam buscar medidas para amenizar o impacto econômico no Estado, o presidente da Fieam pontuou que é necessário que haja um levantamento da economia local, em todos os setores.

“Para isso, existe a necessidade de que os órgãos públicos forneçam os dados do período, o que achamos que deve demorar um pouco, porque eles também foram obrigados a entrar em recesso”, acrescentou Antônio Silva.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a produção de eletroeletrônicos, no Brasil, caiu 7% no mês de fevereiro deste ano, comparando ao mesmo mês do ano passado, por conta de problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos vindos da China.

Ainda conforme a Abinee, 30% das empresas acreditam que não irão cumprir o planejado para o primeiro trimestre deste ano, o que deve apresentar uma quebra de 34% para o setor, em todo o país.

Para o economista Inaldo Seixas, do ponto de vista da produção, o PIM deve acompanhar impactos que ocorrerão no cenário mundial, não necessariamente apenas no Brasil, por conta dos insumos que vêm de outros países. Porém, é necessário buscar medidas para que o País, no pós-pandemia, consiga recuperar as demandas e os impactos da crise, para que se possa sair em um espaço de tempo mais ajustado possível.

“Nós não temos ainda uma base da profundidade, pois estamos no meio da crise. O parâmetro mais próximo para fazer uma analogia seria a crise financeira de 2008, que muitos países custaram muito a sair daquela situação. A crise no Brasil e no PIM vai depender das políticas econômicas adotadas pelo governo atual. Pelo o que estamos vendo, o governo atual, já de início, não acreditava que a crise teria essa magnitude que estamos tendo”, pontuou.

Seixas acredita que o impacto econômico no PIM pode sofrer muito mais com políticas internas adotadas no Brasil. “No caso do Distrito Industrial, se a política do Brasil for errada, nós sofreremos com isso, pois nós dependemos da demanda do país. Se as pessoas não retomarem seus trabalhos, suas rendas, o Distrito também vai acompanhar essa situação”, ressaltou.

Segundo o economista, o que vai definir o tempo em que o País viverá em crise pós-pandemia são as políticas adotadas o quanto antes, enquanto estamos em meio a proliferação do vírus.

“Os governos de cunho neoliberal não vão tirar nenhum país da crise, precisamos voltar à políticas keynesianas, políticas que dizem que é necessário que o estado aumente o gasto público para investir e manter a demanda. Existe a possibilidade de que essa crise tenha um impacto grande, mas que a gente possa ter uma saída em ‘V’”, explicou.

“Nós vamos no fundo, mas teremos uma subida muito alta, como foi feito no Brasil de 2008, que no ano seguinte houve um grande crescimento no PIB. Ou pode ter uma saída dessa curva em ‘U’, quando você sai e fica lá embaixo por muito tempo”, afirmou.

Suframa estuda possíveis impactos

Conforme a Suframa, o setor de estudos econômicos da autarquia tem emitido, semanalmente, uma nota técnica apontando medidas que podem ser adotadas no PIM em meio a pandemia, demonstrando os riscos, desafios fraquezas e oportunidade nos três cenários tratados no documento.

A última nota, emitida no dia 31 de março, diz que, no primeiro cenário, é dar continuidade na produção. Porém, uma das fraquezas apontadas é a dependência de insumos que vêm da China, o que forçaria a paralisação compulsória de algumas linhas de produção ou fábricas inteiras.

Neste cenário, o estudo visa, também, oportunidades, devido ao risco de contágio, diversos produtos passam a ter um aumento nas demandas. No caso, o polo químico, relacionado à limpeza e higiene, medicamentos, produtos alimentícios e materiais hospitalares manteriam a produção em alta.

No segundo cenário, a nota técnica aponta o impacto que o PIM sofreria com a paralisação da produção por curto prazo, por até três meses seguidos, situação semelhante a China. Para a Suframa, essa medida impactaria diretamente na estratégia comercial das empresas, no fluxo de caixas, além de demissões ou suspensão de salários, o que afetaria a arrecadação federal, estadual e municipal, sofrendo quedas drásticas.

O terceiro cenário apresenta o impacto que as indústrias sofreriam com uma paralisação da produção por longo prazo, em um período de seis meses seguidos, caso a pandemia se alastre, tendo como exemplo a China. O estudo diz que uma pausa como esta traria péssimas consequências para o PIM, que passará a ter uma recuperação lenta. Além disso, ocasionaria, ainda, demissões em massa e fechamento de fábricas, principalmente as que possuem menor porte ou que estão em fase de implantação.

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