Dia dos Povos Indígenas: em meio à pandemia, histórias de sobrevivência e resistência

Programação da Semana dos Povos Indígenas segue até a próxima sexta-feira, 23 (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – Os povos indígenas celebram nesta segunda-feira, 19, o Dia dos Povos Indígenas – popularmente conhecido como Dia do Índio – a data foi criada em 19 de abril de 1940, quando foi realizado o 1º Congresso Indigenista Interamericano, no município de Pátzcuaro, no Estado de Michoacán, no México. E para celebrar este acontecimento, o dia 19 de abril foi a data escolhida durante o governo de Getúlio Vargas, por meio do Decreto-Lei nº 5.540, de 1943. Os indígenas são parte fundamental e importante na formação da cultura brasileira e durante a pandemia da Covid-19 ficaram bem vulneráveis os que sobreviveram e resistiram aos impactos causados pela doença.

A influência dos povos tradicionais podem ser notadas diariamente no cotidiano da população e se revela nos costumes, no artesanato, na alimentação, na língua e na mistura étnica do povo brasileiro. No Amazonas são 65 povos indígenas. Algumas publicações citam até 72 etnias – sendo muitos deles clãs do mesmo povo – além de 29 línguas faladas.

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Os indígenas criaram um movimento durante a pandemia para chamar a atenção das autoridades, ‘Vidas Negras Importam’. (Bruno Kelly)

Resistência

Para o designer de moda João Paulino, de 25 anos, mais conhecido como Siodohi, da etnia Piratapuya, falar do dia dos povos indígenas é sempre recordar das singularidades de todos os povos do Pindorama (Brasil), conforme suas cosmovisões, língua, vivências e tons. Lembrar que a identidade indígena é imutável independente da época ou do lugar, seja na aldeia ou em centros urbanos.

João Paulino, de 25 anos, mais conhecido como Siodohi, da etnia Piratapuya (Reprodução)

“Saber que estamos em processos de descolonização e resistindo em coletivo, em uma época que falaram que não estaríamos mais vivos, tão pouco falando da nossa cultura também é um dos passos que temos dado. Ainda temos um longo caminho a percorrer, em País que nega sua origem e questiona a nossa identidade, utiliza termos colonialistas e genocidas, hoje estamos desafiando uma estrutura secular e um dos reflexos desta estrutura é a “cartilha do colonizador” impondo no que podemos ser, fazer, ter e estar”, destacou Sioduhi.

Sobrevivência

Em setembro do ano passado, o indígena Rucian da Silva Vilacio, da etnia Sateré-mawé relatou durante a 14ª edição do Fórum Internacional de Turismo do Iguassu como a pandemia de Covid-19 afetou a Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (Amism). Relatos sobre experiência da associação duramente afetada pela pandemia de Covid-19, se tornaram tema de trabalho do universitário do curso de engenharia de produção da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Por conta da pandemia, o setor de turismo foi o mais afetado o que acabou prejudicando as vendas dos artesanatos, foi quando apareceu a oportunidade de fazer da pandemia uma fórmula de ganhar dinheiro vendendo máscaras e banhos de ervas.

“Como resultado, percebemos que a associação se reinventou no planejamento e organização, confeccionando máscaras de proteção e produtos oriundos da floresta, como preparo de álcool e de banhos com ervas com os saberes e aromas da floresta, pautados nos conhecimentos da ancestralidade, se apropriando das redes sociais Facebook e Instagram para divulgar e vender os produtos aos turistas”, explicou Rucian, que mora na cidade grande em local cedido por uma associação a qual faz parte.

Programação

A Fundação Estadual do Índio (FEI) lança a Semana dos Povos Indígenas, com programação que inicia nesta segunda-feira, 19, e vai até a sexta-feira, 23, nas redes sociais do órgão, com vídeos de lideranças das mais diversas etnias.

Com o intuito de promover o etnodesenvolvimento sustentável e a preservação dos valores étnicos, culturais e históricos no Amazonas, a fundação selecionou três temas para serem trabalhados durante a semana: culinária indígena, medicina tradicional indígena e lideranças.

De acordo com o diretor-presidente da FEI, Edivaldo Munduruku, a ação nas redes sociais visa evitar aglomerações, fortalecendo os movimentos indígenas e enaltecendo a causa, a cultura e a história dos povos originários.

“A FEI busca o etnodesenvolvimento, a divulgação da cultura indígena, com as redes sociais e, como ferramenta de divulgação, criamos esta série com três episódios que irá abordar os segmentos de culinária, medicina e liderança indígena. Estamos orgulhosos do trabalho que está sendo desenvolvido para espalhar o que é ser indígena nesta data comemorativa”, disse.

“Como não podemos estar celebrando essa data de forma presencial por conta da pandemia de Covid-19, nos resta usar os meios digitais. O importante é que a data será lembrada e celebrada”, acrescentou Munduruku.

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