Endividamento entre famílias de baixa renda supera 80%; especialista atribui situação à alta de juros
10 de outubro de 2022
Volume de famílias com contas atrasadas também alcançou a marca
histórica de 30% (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Karol Rocha – Da Revista Cenarium
MANAUS – O endividamento das famílias que ganham menos de dez salários mínimos chegou a 80,3% e o percentual de famílias inadimplentes atingiu 30%. Os dados, relacionado a setembro deste ano, tiveram os maiores valores desde a criação da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em 2010. O levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) foi divulgado nesta segunda-feira, 10.
A economista Denise Kassama atribui a problemática à alta de juros no Brasil. De acordo com ela, foi durante a pandemia da Covid-19 que as famílias aproveitaram para utilizar o cartão de crédito, já que tinham pouco dinheiro. Com a renda mínima, elas passaram a ter dificuldades para quitar a própria fatura.
“Isso refletiu na utilização do cheque especial, onde a taxa de juros chegou a 133% ao ano e, principalmente, os juros rotativos do cartão de crédito que chegou a 428% ao ano. Então, as pessoas que tiveram a renda reduzida na pandemia acabaram entrando no cheque especial e na hora de pagar, não conseguiram pagar o total do cheque especial ou o total da fatura, e gerou os juros no cartão de crédito. Foi-se criando uma ‘bola de neve’ até se chegar em um valor impagável“, disse ela.
O levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) foi divulgado nesta segunda-feira, 10 (Reprodução/Internet)
Realidades apontadas
O levantamento trouxe três dados importantes que revelam a situação de centenas de famílias pelo Brasil. Além do percentual de famílias inadimplentes, aquelas com dívidas em atraso, que atingiu 30% em setembro. O estudo mostra que, em agosto deste ano, o número de inadimplentes subiu para 29,6%. Na comparação com setembro de 2021, o indicador cresceu 4,5 pontos percentuais, já que o percentual era de 25,5% na ocasião.
Outro apontamento destacado pelo estudo é que a parcela de famílias endividadas, ou seja, com qualquer dívida (em atraso ou não) também bateu recorde no País em setembro: 79,3%. Em agosto, o percentual era de 79%. Em setembro do ano passado 74%.
Esta é a primeira vez que a parcela supera os 80% com o endividamento de famílias de baixa renda, ou seja, aquelas que ganham menos de dez salários mínimos, chegando a 80,3%.
“Embora os atrasos tenham crescido no mês e no ano entre os consumidores nas duas faixas de renda, as dificuldades de pagamento de todos os compromissos do mês são mais latentes entre as famílias de menor renda”, analisou a economista da CNC responsável pela apuração, Izis Ferreira.
Mulheres são mais endividadas
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) mostrou, ainda, que o endividamento avançou 0,9 ponto percentual entre as mulheres, de agosto para setembro (eram 80%, agora, são 80,9%), enquanto caiu ligeiramente entre os homens (0,1 p.p., de 78,3% para 78,2%). No intervalo de um ano, as mulheres também contrataram mais dívidas do que os homens (aumento de 5,9 p.p. e 5,1 p.p., respectivamente).
As mulheres são as mais endividadas no cartão de crédito e no cheque especial, atualmente. Nas demais modalidades de dívida, como carnês de loja, crédito pessoal, financiamento de carro e casa ou crédito consignado, por exemplo, o público masculino é mais numeroso, superando o feminino.
Denise Kassama sugere que os endividados negociem suas dívidas para, assim, evitar o acúmulo de juros. “Para quem está endividado, a dica que dou é entrar em contato com a entidade credora e negociar. Negociar em parcelas que caibam dentro do seu orçamento. Não deixe de fazer isso, porque quanto mais você demorar para negociar essa dívida, mais juros irão incidir sobre ela. Quando você negocia, esses juros cessam”, finalizou.
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