Entenda o caso de injúria racial que motivou agressão em faculdade de Manaus
Por: Ana Pastana
10 de junho de 2025
MANAUS (AM) – Uma estudante do Centro Universitário Fametro foi agredida por outras duas mulheres em frente à instituição, localizada na Avenida Constantino Nery, no bairro Chapada, Zona Centro-Sul de Manaus, na noite desta segunda-feira, 9. Um vídeo que circula pelas redes sociais aponta que as agressões foram motivadas por um caso de injúria racial. A identidade das envolvidas não foi divulgada.
Segundo outros estudantes que presenciaram a cena, as mulheres são mãe e irmã de um funcionário do centro acadêmico, que disse ter sido vítima de ofensas racistas proferidas pela aluna. A instituição informou que apura o ocorrido.

Imagens registradas e compartilhadas por testemunhas mostram o momento em que a mãe do funcionário — que estava trajando um vestido florido — afirma que a aluna — que aparece usando uma blusa rosa — havia chamado o filho dela de “macaco” e, por isso, estaria agredindo a mulher.
“Respeita meu filho… [inaudível] de macaco. Essa égua. Tu não é racista?”, diz a mulher. Em seguida, uma pessoa não identificada tenta contê-la, mas ela volta a reafirmar que a aluna foi racista com seu filho: “Me solta! Ela chamou meu filho de macaco“, afirmou. Veja o vídeo a seguir.
Após o episódio, ainda na noite de segunda-feira, o funcionário da instituição, identificado como Gabriell Santos, confirmou ter sofrido ataques de cunho racial e disse estar abalado com a situação. No breve pronunciamento, ele também defendeu a atitude da mãe.
“Eu fui a vítima do racismo. Em pleno século 21, ainda existem pessoas racistas. A minha mãe fez o que fez […] uma coisa que qualquer mãe faria pelo seu filho. A minha mãe agiu para me defender, para defender a cria dela. Estou à disposição da unidade [Fametro]”, disse Gabriell em vídeo.
De acordo com a Lei Federal 7.716/89, cometer discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional é crime, com pena de reclusão de dois a cinco anos e multa. Também é considerado crime o ato de lesão corporal, que consiste em ofender a integridade corporal ou a saúde de outra pessoa. Segundo o Código Penal (Lei 2.848/40), a pessoa acusada pode ser condenada à pena de detenção de três meses a um ano.
Em nota, o Centro Universitário Fametro repudiou as agressões e qualquer ato racista. De acordo com o comunicado emitido pela universidade, os responsáveis estão apurando o caso e devem ouvir as partes envolvidas. Após isso, as medidas cabíveis devem ser tomadas. (Leia a íntegra ao final da matéria).
Advogado se manifesta
Em nota à imprensa, divulgada nesta terça-feira, 10, o advogado Jorge Vicente Borges Lira Júnior, que representa a mãe do funcionário, informou que o caso está sob apuração das autoridades competentes, no âmbito policial e na instituição onde ocorreu o fato.
“Embora não justifique qualquer ato de violência, é necessário compreender o contexto da indignação e dor que motivou a reação da mãe de um jovem que foi vítima de ofensa racista em seu local de trabalho”, diz o comunicado.

Agressão é registrada
À CENARIUM, a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) informou que um Boletim de Ocorrência (BO), referente à lesão corporal sofrida pela aluna, foi registrado na Central de Fragrantes da área. O 22° Distrito Integrado de Polícia (DIP) é o responsável pelo caso.
“A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) informa que um Boletim de Ocorrência (BO) referente a um caso de lesão corporal ocorrido na noite de segunda-feira (09/06), em frente a uma instituição de ensino localizada na Avenida Constantino Nery, bairro Chapada, zona centro-sul, foi registrado na Central de Flagrantes da área. O registro será transferido para o 22° DIP, delegacia responsável pela área do fato, por onde será dado andamento às investigações”, diz nota da PC-AM.
Veja a nota da Fametro na íntegra:
“O Centro Universitário Fametro vem a público manifestar seu repúdio a qualquer ato de racismo, agressão ou comportamento que fira os princípios de respeito e convivência ética.
Como instituição de ensino comprometida com a educação e o desenvolvimento dos nossos alunos, não toleramos atitudes discriminatórias ou violentas dentro ou fora do ambiente acadêmico.
Estamos apurando os fatos relacionados ao ocorrido e, após ouvir todas as partes envolvidas, tomaremos as medidas cabíveis para garantir a integridade, a segurança e o bem-estar de toda a comunidade acadêmica.
Reafirmamos nosso compromisso com uma educação de qualidade, inclusiva e com a formação de cidadãos éticos, responsáveis e conscientes do seu papel na sociedade”.