Entidade indígena da Amazônia Legal apoia povos Munduruku na expulsão de garimpeiros ilegais


01 de setembro de 2020
Entidade indígena da Amazônia Legal apoia povos Munduruku na expulsão de garimpeiros ilegais
A Coiab enfatiza que a Constituição Federal de 1988, no Artigo 231, garante que os territórios indígenas são de ocupação tradicional e de usufruto exclusivo dos povos indígenas (Evaristo Seavaristo/ AFP)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Após o Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA) receber uma carta do povo Munduruku, que busca expulsar garimpeiros ilegais de seus territórios tradicionais, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) manifestou nesta terça-feira, 1º, estrito apoio aos indígenas e expressou, novamente, repúdio ao governo Bolsonaro contra a regulamentação do garimpo no Brasil.

Segundo a entidade, em assembleia realizada na aldeia Waro Apompu, no Pará, entre os dias 20 e 22 de agosto de 2020, o povo Munduruku e as lideranças das suas associações de representação discutiram e deliberaram, mais uma vez, sobre o fechamento dos garimpos que estão dentro do território Munduruku.

“Também se manifestaram contrários ao Projeto de Lei 191/20 que prevê a regulamentação de garimpo e mineração em terras indígenas, exigindo do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, Ministro da Defesa, Ministério Público Federal, Policia Federal e Defensoria Pública da União, a execução urgente da operação para fechar todos os focos de garimpos nas Terras Indígenas Munduruku e Sai Cinza”, diz a Coordenação, em nota pública.

A “Carta do Povo Munduruku da região do Rio Cururu, Anipiri, Rio Tapajós e Kajerid para exigir o fechamento dos garimpos no Território Munduruku” explica que os indígenas estão cansados de denunciar as “constantes violações de direitos e ameaças” contra as vidas dos povos Mundurukus, cometidas pelas ações de garimpeiros dentro das terras indígenas.

“A nossa terra foi demarcada para proteger nossa integridade física, cultural e étnica. Nós exigimos que as autoridades competentes sejam justas e honestas no cumprimento da lei”, exigem o povo Munduruku, na carta ao MPF.

O que diz a Lei

A Coiab enfatiza que a Constituição Federal de 1988, no Artigo 231, garante que os territórios indígenas são de ocupação tradicional e de usufruto exclusivo dos povos indígenas.

“Ao permitir a exploração mineral em Terras Indígenas, sem um diálogo com os povos e suas organizações, o governo está desrespeitando o nosso direito à consulta e ao consentimento livre, prévio e informado, garantido na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e na Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU)”, explica a entidade.

A coordenação salientou, também, que ao promover a liberação da mineração em terras indígenas, o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros permitem que invasores continuem invadindo os territórios, ao invés de protegê-los.

Segundo eles, para atender aos interesses de grupos de mineradores, e justificar a entrega das terras indígenas, o governo argumentou que povos e comunidades indígenas desejam a mineração em seus territórios. De acordo com a Coiab, essa demanda, no entanto, é isolada de alguns indivíduos, não representando os interesses coletivos da maioria dos povos indígenas do Brasil.

A Coiab finaliza cobrando que o Governo Federal seja omisso da responsabilidade de proteger e garantir segurança e usufruto exclusivo dos territórios pelos povos indígenas.

Confira a nota na íntegra clicando aqui.

Entenda o caso

Na última quinta-feira, 27, o MPF/PA recebeu uma carta do povo indígena Munduruku pedindo a expulsão dos garimpeiros ilegais. Segundo eles, a invasão de garimpos vem se expandindo, provocando severos danos ambientais e levando os tráficos de drogas e de armas e a prostituição para muito perto das aldeias.

Após a visita do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, à cidade de Jacareacanga, no início do mês de agosto, em que ele conversou com garimpeiros ilegais e apoiou publicamente a atividade, os indígenas fizeram uma reunião de emergência entre caciques, guerreiros, professores e associações.

Conforme o MPF, o apoio do ministro aumentou a insegurança das lideranças que se opõem ao garimpo, com aumento das ameaças de morte.

Para a procuradora Ana Carolina Haliuc Bragança, da Força-Tarefa Amazônia do MPF, o que acontece, hoje, na Terra Indígena Munduruku, é exemplar da crise existencial se vive na sociedade, “ao permitir a dilapidação do meio ambiente que garante a vida a todos, pelo lucro de poucos”

Sobre a obrigação constitucional da instituição de avançar em ações e operações que reduzam a garimpagem ilegal, Ana Carolina enfatizou que é um modelo predatório que não produz desenvolvimento e riquezas.

Veja a íntegra da carta do povo Munduruku.

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