Entidades repudiam ameaça de Bolsonaro à jornalista: ‘minha vontade é encher tua boca de porrada’

Desavença ocorreu após o presidente ser questionado sobre cheques de Fabrício Queiroz de R$ 89 mil para a primeira-dama Michelle Bolsonaro (Isac Nobrega/ PR)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Em mais um ato de desrespeito aos profissionais da imprensa no País, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ameaçou um repórter do jornal “O Globo” e disse, neste domingo, 23, que estava com vontade de agredi-lo. “A minha vontade é encher tua boca de porrada”. Após o episódio, entidades jornalísticas de todo o Brasil e membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) repudiaram a fala.

A desavença ocorreu após o presidente ser questionado sobre cheques de Fabrício Queiroz de R$ 89 mil para a primeira-dama Michelle Bolsonaro. O repasse da quantia foi revelado pela revista “Crusoé”, e o caso, segundo a reportagem, ocorreu entre 2011 e 2016, quando Queiroz repassou R$ 72 mil. Em 2011, a mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, repassou os outros R$ 17 mil.

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Primeiro, o presidente disse que não responderia as perguntas do repórter. O profissional, então insistiu sobre os cheques e Bolsonaro se dirigiu aos jornalistas ameaçando-os.

Para o sociólogo e membro do Comitê do Amazonas de Combate à Corrupção e ao Caixa Dois Eleitoral, Carlos Santiago, a postura do presidente foi lamentável e não pode servir de exemplo a ser seguido em um País onde há tantos casos de corrupção.

“O presidente tem de entender que em uma democracia e em um Estado democrático de direito, a liberdade de expressão, de trabalho, e a liberdade jornalística têm de ser respeitados. E ele [Bolsonaro], como um governante eleito, deve prestar todas as respostas e esclarecimentos sobre o que ele for questionado”, disse.

Santiago enfatizou que o Brasil vive uma democracia onde a imprensa é livre e a expressão de pensamento tem amparo constitucional, além da atividade jornalística que tem pleno apoio da Constituição brasileira.

“Como um governante, ele deve obediência à lei. Ele jurou cumprir, servir e obedecer a Constituição. A Constituição diz que todo agente público deve prestar esclarecimentos sobre seus atos, suas ações e de seus familiares. O presidente não pode se negar a responder um questionamento jornalístico e cometer um crime de ameaça, de agressão à liberdade jornalística profissional”, finalizou o advogado.

A postura do presidente foi criticada ainda por entidades e pelos presidentes da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, e pelo representante do Jornalistas e Companhia (J&Cia), Eduardo Ribeiro.

“É lamentável que mais uma vez o presidente reaja de forma agressiva e destemperada a uma pergunta de jornalista. Essa atitude em nada contribui com o ambiente democrático e de liberdade de imprensa previstos pela Constituição”, afirmou o presidente da ANJ em nota ao “O Globo”.

O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, manifestou solidariedade ao jornalista e ao jornal. Segundo ele, o presidente vinha muito bem nas últimas semanas, contribuindo para a pacificação do debate público. “Lamentável ver a volta do perfil autoritário que tanta apreensão causa nos democratas. Nossa solidariedade ao jornalista ofendido e ao jornal que o emprega”, afirmou.

“Desqualificado, autoritário e covarde”

O representante do Jornalistas e Companhia (J&Cia), Eduardo Ribeiro, também prestou solidariedade ao profissional.

“Nossa integral solidariedade ao jornalista e a todos os jornalistas do Brasil. País que, infelizmente, tem o infortúnio de ter um presidente desqualificado, autoritário e covarde, que gosta de atacar, principalmente, mulheres”, disse Eduardo Ribeiro, Publisher de J&Cia e demais membros da equipe de jornalismo.

Os partidos Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) também se pronunciaram e disseram que defendem a liberdade de imprensa e que o presidente volta a mostrar apreço por posturas agressivas e antidemocráticas

A Associação Brasileira de Imprensa tratou a fala de Bolsonaro como grosseira. “Mais uma vez o presidente choca o País com seu comportamento grosseiro. Tal comportamento mostra não apenas uma inaceitável falta de educação. É, também, uma tentativa de intimidação da imprensa, buscando impedir questionamentos incômodos”.

O Globo emite posicionamento

“Durante os governos de todos os presidentes, o GLOBO não se furtou a fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa, que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que precisarem ser feitas, neste e em todos os governos”.

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