Entre rios e gols: Copa da Floresta valoriza esporte e fortalece comunidades da Amazônia


Por: Bianca Diniz

27 de outubro de 2025
Entre rios e gols: Copa da Floresta valoriza esporte e fortalece comunidades da Amazônia

SÃO SEBASTIÃO DO UATUMÃ (AM) – O município de São Sebastião do Uatumã (AM) recebeu neste sábado (25) a final da terceira edição da Copa da Floresta, o maior torneio de futebol amador da Região Norte. Na grande decisão, a seleção do município de Fonte Boa (FB) conquistou o título ao vencer a equipe de São Sebastião do Uatumã (SDU) por 5 a 4 nos pênaltis, após empate de 1 a 1 no tempo regulamentar. A partida foi realizada no Estádio Municipal João Barreto de Almeida, o Barretão, que ficou completamente lotado.

Seleção de Fonte Boa vence a Copa da Floresta 2025 (Mateus Moreira/FAF)

Criada e organizada pela Federação Amazonense de Futebol (FAF), a competição reuniu 52 seleções e mais de dois mil atletas de todas as regiões do Estado. Foram quatro meses de disputa até a definição dos finalistas: o SDU, estreante na decisão, e o FB, vice-campeão em 2024 e agora campeão.

Sob o lema “A floresta é a bola da vez”, a Copa reafirmou seu papel como um dos maiores eventos esportivos do Brasil. Do lado de fora, centenas de pessoas acompanharam o jogo de pé, em grupos divididos entre carros e carrocerias de caminhões, transformando o entorno do campo em arquibancadas improvisadas, e gerações vibravam com cada lance, tornando o evento uma verdadeira celebração popular.

Assim como na edição anterior, a final foi conduzida pelo árbitro da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), Anderson Daronco. A partida também contou com o trabalho técnico de um trio feminino de alto nível: Noélia Chaves (assistente 1), Leide Laura (assistente 2) e Adriane Costa (4ª árbitra), que garantiram precisão nas decisões e equilíbrio na partida.

Daronco comandou a final com apoio do trio feminino de arbitragem: Leide Laura (direita), Adriane Costa (meio) e Noélia Chaves (esquerda).

Integração e identidade na floresta

Mesmo em sua terceira edição, a Copa organizada pela FAF apresenta evolução constante em prol do desenvolvimento do futebol no Estado. O torneio vai além do esporte, valorizando povos tradicionais, comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas, reforçando a diversidade plural da Amazônia.

A competição conta com o apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), presidida por Samir Xaud, e vice-presidida pelo deputado estadual Ednailson Rozenha, que também preside a FAF. O trabalho conjunto da FAF e da CBF engloba divulgação, estruturação e capacitação, além de ações de conscientização. Em cada partida, seja no Estádio Barretão ou em outros campos, placas e materiais educativos reforçam campanhas contra homofobia e racismo, mostrando o compromisso social da competição.

À CENARIUM, Rozenha ressalta a dimensão da Copa para além do futebol: “A Copa da Floresta não é apenas futebol. Ela representa o reconhecimento do talento e da diversidade do povo da Amazônia. É sobre dar visibilidade aos atletas e às comunidades do interior, aos povos tradicionais e originários que fazem parte desta terra”, ressaltou.

Com o apoio de prefeituras, associações e da própria CBF, a FAF investe em logística, capacitação de arbitragem e estrutura técnica, garantindo que a competição alcance comunidades distantes e se torne uma vitrine da Amazônia, onde futebol, cultura, tradições e floresta se encontram. Rozenha lembra que o valor da competição vai além do esporte: “É o maior campeonato amador da Região Norte, e seu impacto envolve desenvolvimento humano, social e econômico”, disse.

Ao centro, presidente da Federação Amazonense de Futebol (FAF) e vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednailson Rozenha (Mateus Moreira/FAF)

Cruzeiro da Floresta

Para a cobertura da grande decisão, a diretoria de Comunicação da FAF promoveu o Cruzeiro da Floresta. A expedição fluvial reuniu jornalistas, repórteres, fotógrafos e produtores de conteúdo esportivo para acompanhar o torneio. A experiência foi fundamental na divulgação do evento e consolidou a competição como um dos principais impulsionadores do cenário esportivo local.

Um jogo que atravessou rios e sonhos

A jornada da seleção de Fonte Boa até o título foi tão desafiadora quanto a própria final. O município fica a 978 quilômetros de Uatumã, um trajeto que exigiu combinação de barco, estrada e avião, testando não apenas a resistência física dos atletas, mas também sua determinação e espírito de equipe.

A grande final foi marcada pelo equilíbrio. Aos 17 minutos do primeiro tempo, Adailson ‘Dadá’, camisa 9 de Fonte Boa, abriu o placar. Aos 40’, Rodrigo Gladiador, zagueiro de São Sebastião, empatou.

O empate se manteve até os pênaltis, quando Ismael, camisa 14 de Fonte Boa, converteu a cobrança decisiva e garantiu o título ao município. “Primeiro lugar, agradecer a Deus. É um sentimento único que só quem está aqui entende. É inexplicável”, contou o jogador, emocionado.

À CENARIUM, os campeões relembraram cada etapa da viagem: “Para chegar hoje aqui, pegamos lancha, ônibus, lancha de novo e ônibus de novo. É um processo longo, muito longo, com muito trabalho e dedicação. Treinamos de segunda a sexta, às 15h, sob o sol, acreditando”, disse Ismael.

Jogador da seleção do município de Fonte Boa, Ismael, detentor da camisa 14 (Erik Oliveira/CENARIUM)

Espírito coletivo

Para Anderson Daronco, da FIFA, a Copa da Floresta reflete o espírito coletivo da Amazônia e a força do futebol amador no estado. “Venham conhecer. Quem é do Amazonas também pode participar, que participe, que mobilize seu município”, disse o árbitro.

Daronco destacou ainda a capacidade da competição de mobilizar comunidades e envolver todo o território: “A FAF faz um trabalho excelente nesse sentido, conseguindo canalizar toda essa energia do estado. É uma grande festa do futebol amador e do povo amazonense, que acaba mobilizando todo esse cenário”, completou.

O árbitro FIFA também manifestou a expectativa de retornar à competição em futuras edições: “Espero que no próximo ano eu retorne e que seja em um lugar igualmente incrível para conhecer, assim como foi São Sebastião neste ano. É uma experiência que vai além do futebol”, contou.

O árbitro Anderson Daronco, credenciado pela FIFA, participa da Copa da Floresta pela segunda vez (Mateus Moreira/FAF)

Futebol como vetor econômico no interior

A Copa da Floresta também se mostrou um importante vetor de economia e circulação de renda. Além do reconhecimento esportivo, a final contemplou as equipes com premiação financeira, entregue de forma imediata via PIX pela Federação Amazonense de Futebol (FAF). A iniciativa reforça a valorização do futebol amador no Estado e estimula a competitividade das seleções participantes.

O vice-campeão, São Sebastião do Uatumã, recebeu R$ 30 mil, enquanto o campeão, Fonte Boa, foi contemplado com R$ 60 mil. O repasse direto, segundo os organizadores, demonstra a eficiência da gestão da federação e o compromisso com a profissionalização e sustentabilidade das equipes do interior do Amazonas.

Repasse da premiação foi feito de forma imediata (Mateus Moreira/FAF)

Impacto positivo na economia local

O torneio também movimentou setores como transporte fluvial, alimentação, confecção de uniformes e comércio ambulante, impulsionando a economia dos municípios do interior. No dia da final, a cidade registrou intenso fluxo de pessoas e de comércio. Barracas de comidas típicas e ambulantes se concentraram ao redor da Arena Barretão.

A autônoma Jariane Mendes, que montou uma barraca para vender comidas, destacou a importância do evento para os trabalhadores informais: “Eu sempre estou aqui para vender meus produtos, como tacacá, salgado, bolo e cascalho. A cidade fica movimentada, é inédito para nós”, disse.

A ambulante Jariane Mendes comemorou o aumento nas vendas durante a final da Copa da Floresta
(Erik Oliveira/CENARIUM)

A poucos metros dali, Nildo ‘do Chapéu’, vendedor de bebidas, ressaltou o impacto coletivo da competição: “A Copa da Floresta tem um diferencial. Além de movimentar o futebol, fomenta o comércio local. É muito bom para nós, cidadãos, que podemos vender mais. Está lotado, e todo mundo trabalha feliz”, celebrou.

Vozes da floresta

No interior, o futebol é mais do que lazer, é pertencimento. Em comunidades onde o acesso a oportunidades chega a ser escasso, o esporte atua como ferramenta de transformação social e emocional. A aposentada Valquíria Cantel, de 73 anos, viu na Copa uma continuidade da história da própria família.

“Meu marido era desportista, tá com 15 anos que faleceu, mas eu continuo sempre fiel. A gente colocava time, os filhos jogavam. Essa Copa é boa pra resgatar o futebol na floresta. Ajuda muito a comunidade, o povo caboclo, os povos indígenas. Nossos meninos que estão se perdendo em droga e bebida, aqui revivem, amadurecem. É uma bênção“, disse Valquíria.

A aposentada Valquíria Cantel, de 73 anos esteve na grande final (Erik Oliveira/CENARIUM)

O professor e assessor de educação Carlison Monteiro reforça o orgulho coletivo. “A Copa da Floresta não traz só visibilidade pra quem é de fora. Mostra o talento do nosso povo, mostra que o interior tem força. Essa torcida imensa aqui está mostrando pro mundo que a Copa da Floresta é do Amazonas, é nossa”, comemorou.

Carlison Monteiro vibrou muito na decisão (Erik Oliveira/CENARIUM)

Cultura, esporte e identidade amazônica

A final da Copa da Floresta não foi a única atração deste final de semana em São Sebastião do Uatumã. Além da grande final, ocorreram ainda dois outros eventos simultaneamente: a 23ª edição da Festa do Tucunaré, evento cultural e gastronômico tradicional do município e o III Torneio de Pesca Esportiva.

Realizado entre 24 e 26 de outubro, o torneio atraiu pescadores e turistas de diferentes regiões do Brasil e premiou o maior tucunaré capturado com um carro zero quilômetro. A competição movimentou a economia local, mostrando a relevância da pesca esportiva para o turismo no interior do Amazonas.

Presença ilustre

O repórter e criador de conteúdo Lucas Strabko, o Cartolouco, acompanhou a final da Copa da Floresta e permaneceu em São Sebastião do Uatumã para prestigiar a Festa do Tucunaré. Ele aproveitou ainda para acompanhar a movimentação da população local, mostrando a conexão com a energia do evento e da cidade.

Lucas Strabko, o Cartolouco, acompanhou a final da Copa da Floresta a convite da FAF (Erik Oliveira/CENARIUM)

“Sensacional, foi incrível viver tudo isso. Vou ficar mais dois dias aqui, o Uatumã está no meu coração pra sempre. Baita campeonato, baita festa, baita premiação”, disse Lucas. O repórter aproveitou para convidar novos turistas a conhecer o Amazonas. “Essa terra é abençoada, linda, com pessoas maravilhosas. O Norte precisa ser mais conhecido. Aqui é uma terra incrível, que eu quero voltar muitas vezes, se não ficar de vez”, vibrou o Cartolouco.

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.