Enviado de Biden para o clima diz que, se EUA não dialogar com Bolsonaro, ‘Amazônia vai desaparecer’

Kerry disse que o governo Biden busca “uma nova estrutura de verificação e responsabilização” sobre o desmatamento (Paul J. Richards / AFP)

Com informações do O Globo

MANAUS – John Kerry, enviado do Governo Joe Biden para assuntos de clima, afirmou no Congresso americano nesta quarta-feira, 12, que o diálogo com o Governo Jair Bolsonaro é necessário para evitar que a destruição da Amazônia se torne irreversível.

Durante uma audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, na qual prestou contas de seus primeiros meses de trabalho, Kerry fez ressalvas a políticas ambientais do atual governo brasileiro, mas acrescentou que, em seu entendimento, renunciar a negociações terá efeitos mais negativos.

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“Nós estamos dispostos a conversar com eles, não de modo cego, mas sabendo o que cada um fez”, disse Kerry, em referência a Bolsonaro. “Se não conversarmos com eles, pode ter certeza de que a floresta [amazônica] irá desaparecer”, afirmou.

Kerry respondia a uma pergunta do deputado Albio Sires, democrata de Nova Jersey, sobre como o governo americano iria se comportar “diante da consistente falta de recursos para fiscalização ambiental adequada do atual governo brasileiro”.

Em sua resposta, Kerry classificou a pergunta como “excelente”, e disse que o governo Biden busca “uma nova estrutura de verificação e responsabilização” sobre o desmatamento.

Em seguida, ele se referiu de maneira positiva a medidas brasileiras adotadas a partir da gestão da gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, e usou tom crítico ao que chamou de “regime de Bolsonaro” — empregando uma palavra geralmente utilizada para se referir a regimes autoritários.

“O Brasil na verdade foi muito bem entre 2004 e 2012, eles fizeram progressos para parar o desmatamento”, disse Kerry. “Em 2020 e 2021, a Amazônia alcançou uma alta de 12 anos em seus índices de desflorestamento. Infelizmente, o regime de Bolsonaro reverteu parte da fiscalização ambiental”, destacou.

O diálogo na Câmara tem como pano de fundo reuniões bilaterais recentes envolvendo Kerry, o ministro do Meio Ambiente brasileiro, Ricardo Salles, e o então chanceler Ernesto Araújo.

Entidades da sociedade civil e membros da base democrata criticaram o governo Biden pela falta de transparência nas negociações sobre o clima, com o temor de que Washington fosse aceitar um acordo negativo do ponto de vista ambiental. Durante as conversas, o lado brasileiro manifestou querer receber pagamentos imediatos para inibir o desflorestamento, sem tomar medidas prévias nem se comprometer com metas ambientais.

Na audiência, o enviado de Biden para o clima também se referiu a estudos científicos que dizem que, se o desmatamento continuar nos atuais índices, a Amazônia pode “superar o ponto crítico que possibilita à floresta se sustentar”, em referência a pesquisas que apontam o risco de desertificação do bioma.

Kerry disse que “o lado brasileiro “agora diz estar comprometido a aumentar o orçamento, e que vão montar uma nova estrutura” de combate ao desflorestamento. Ele acrescentou que o governo americano irá monitorar esses esforços:

“Em resumo, vamos nos engajar para tentar descobrir o que é possível, e voltaremos a relatar nos próximos meses”, afirmou Kerry, acrescentando que mesmo antes da Conferência do Clima em Glasgow, em novembro, já deve ter uma ideia mais clara.

Em seguida, Kerry voltou a ser perguntado sobre o Brasil pela deputada democrata Susan Wild, da Pensilvânia, que pediu esclarecimentos sobre as conversas com o governo brasileiro. Kerry disse que as conversas foi positivas, mas estão em estágio embrionário.

“Estamos no meio dessa negociação. Na verdade, a começamos há somente algumas semanas. Tivemos algumas conversas positivas e esperamos poder traduzir nossas intenção em ações eficazes e mensuráveis”, disse Kerry.

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