Equilíbrio: regeneração da Amazônia é maior onde não há disputa com áreas agrícolas, indica mapeamento inédito

The area of forest regeneration is fifty times the size of the state of Acre (Reproduction/Imazon)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) — A Amazônia Legal brasileira tem ao menos 7,2 milhões de hectares de mata nativa em processo de recuperação florestal, uma área quatro vezes superior ao tamanho do Amazonas, a maior Unidade Federativa integrante do bioma, ou ainda 50 vezes a extensão do Estado do Acre. Desse total, 5,2 milhões de hectares, ou seja, 73% de toda a zona que se recupera das feridas deixadas pelo desmatamento, estão em locais onde a floresta não precisa competir com o agronegócio — as chamadas áreas de baixa aptidão agrícola, onde o plantio de grãos é mais difícil.  

Os dados são de um mapeamento inédito feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em parceria com o projeto Amazônia 2030, e publicado nesta semana. O estudo é uma amostra de que preservação ambiental e produção agropecuária podem coexistir em equilíbrio. 

“A gente já observou que a Amazônia tem, de certa forma, uma facilidade em regenerar aquelas áreas que foram abertas e, depois, de alguma maneira, acabaram isoladas ou abandonadas, não havendo uma nova conversão daquela floresta”, explicou a pesquisadora do Imazon e integrante do estudo Andréia Pinto à CENARIUM.

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Apesar do avanço, a Amazônia tem ainda 2 milhões de hectares em áreas onde a agricultura oferece riscos, além de 800 mil hectares que ainda devem avançar em regeneração (Reprodução/Imazon)

Economia verde

Paulo Amaral, que também é pesquisador do Imazon, esclarece que as áreas de baixa aptidão agrícola são aquelas que apresentam declínios (descidas) ou aclives (colinas) muito acentuados, “geralmente às margens das bacias hidrográficas”, segundo ele. “Essas áreas são muito importantes para gerar benefícios ao produtor rural, para as metas que o Brasil tem que cumprir e para a regulação climática”, destacou. 

“O agricultor familiar pode usar essas áreas em processo de restauração para zerar o passivo ambiental [danos ambientais] em relação às Áreas de Preservação Permanente (APPs). Além disso, é possível usá-las para a produção de mercadorias não madeireiras, para sistemas agroflorestais e incorporá-las na renda da agricultura familiar”, disse ainda.

Paulo Amaral destaca que a preservação ambiental gera uma economia alternativa e sustentável (Reprodução/ Revista Cenarium)

Em outras palavras, recuperar a floresta em larga escala não significa perder terras agricultáveis, de acordo com o mapeamento, visto que o produtor rural pode lucrar ainda mais por manter a mata em pé. Para isso, basta que ele se disponha a obedecer às leis ambientais em vigor. 

“Para os grandes produtores, é uma grande oportunidade. Ou seja, aquelas áreas que foram desmatadas indevidamente entram em processo de recuperação e, com isso, geram a regularidade ambiental do imóvel rural”, detalhou o pesquisador. 

Neste sentido, uma ótima alternativa seria a venda de frutas nativas, como o açaí e o cupuaçu.

O extrativismo vegetal serviria, segundo os especialistas, como uma fonte de renda alternativa em propriedades rurais (Valdemir Cunha/Greenpeace)

Perigo à espreita

Por outro lado, o Imazon também acende o alerta: a Amazônia ainda tem 2 milhões de hectares de florestas em regeneração natural localizadas em zonas consideradas de fácil plantio, que são aquelas onde a degradação ambiental pode voltar, com a abertura de lavouras e de campos para a boiada pastar.

A agricultura é permitida em 72% delas, sendo algo equivalente a quase 1,5 milhão de hectares. E a maioria desses locais são lotes privados, assentamentos ou terras públicas não destinadas.

A agricultura é permitida em 72% das áreas com alto potencial agrícola em recuperação na Amazônia (Reprodução/Imazon)

Apesar do avanço em regeneração, o déficit ainda é grande. Cerca de 800 mil hectares precisam avançar na recuperação do maior bioma brasileiro. “Então, temos que estancar o desmatamento das florestas primárias, mas também nestas que estão revivendo. Precisamos protegê-las e favorecer seu crescimento, porque elas trazem o benefício climático global de estar retirando CO2 (dióxido de carbono) da atmosfera”, alertou a pesquisadora Andréia Pinto.

Para Andréia Pinto, preservar as áreas de florestas dentro de propriedades rurais é garantir benefícios climáticos locais e globais (Reprodução/ Revista Cenarium)

O clima (e o planeta) agradece(m)

Uma das grandes lições deste estudo, como bem destacam os pesquisadores, é a de ser possível conciliar o suprimento da grande demanda pela produção de agro produtos e abastecer os celeiros do mundo sem continuar matando o planeta. Tanto que a “manutenção da área de regeneração natural ajuda o produtor a quitar déficits e a ficar regular perante a lei”. 

Nas propriedades rurais onde existem APPs, por exemplo, os benefícios são bem mais notáveis, como lavouras que resistem melhor às chuvas e ventos extremos e outras adversidades naturais. 

“Além dessa importância climática local, de proteger as propriedades, temos que considerar que a regeneração natural é a que traz a maior possibilidade e a menor custo” reafirmou a pesquisadora Andréia Pinto. Quando o agronegócio acontece em um País que cumpre as metas de reduzir emissões, de recuperar a vegetação nativa, ou de reflorestamento, isso melhora a imagem dele como um todo e, também, os ambientes de negócios local e internacional”, segundo ela.

A pesquisadora avalia que “enquanto de um lado” existe um problema muito sério, configurado pelo desmatamento de florestas originais, que resultam no lançamento de mais gases de efeito de estufa, “do outro lado da equação” está a possibilidade de “ao conduzir a regeneração, permitir que ela persista”. Assim, a meta de um meio ambiente ecologicamente equilibrado pode se tornar mais alcançável caso esse compromisso seja levado adiante e os dados computados tomados como exemplo, de acordo com as conclusões do Imazon. 

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