Erika Hilton sofre comentários racistas após reviravolta na Câmara Federal
06 de junho de 2024
Deputada Erika Hilton (Composição de Weslley Santos/CENARIUM)
Carol Veras – Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Após um discurso na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 5, Erika Hilton (PSOL) sofreu ataques racistas na internet. Os comentários surgiram após Erika dizer que uma parlamentar da Câmara, Julia Zanatta (PL), precisava “hidratar o cabelo”.
A discussão aconteceu durante uma sessão da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, em um debate sobre o uso de banheiros por pessoas trans e a definição do conceito de “ser mulher” para o Ministério das Mulheres. Zanatta discorda do discurso onde Hilton afirma que mulheres são além das pessoas que gestam, incluindo mulheres trans e mulheres que por algum motivo, possuem impedimento de fertilidade.
Nas redes sociais, apoiadores do Partido Liberal resgatam a fala da deputada do PSOL e propagam discursos racistas a respeito do cabelo naturalmente crespo da parlamentar. A oposição chega a comparar a aparência da deputada negra com a deputada branca, natural de Santa Catarina. “Teve a cara de pau de chamar Julia Zanatta de feia?”, comenta um ex-deputado de São Paulo, do Partido Republicanos.
Erika Hilton teve a cara de pau de chamar Julia Zanatta de feia? KAKAKAKAKAKAKAKAKAKKA pfv né? Preciso dizer mais nada… pic.twitter.com/VLI1DZIsCO
Em outro post, um internauta que se intitula influenciador de política ironiza a hidratação do cabelo de Hilton e a compara com outra pessoa, em tom de piada: “Porque Érika Hilton fala em hidratação de cabelo?”. Esses tipos de discursos podem ser considerados racismo recreativo, crime oficializado pela Lei Nº 14.532.
A ativista Rafaela Fonseca, da Associação Crioulas do Quilombo, pedagoga e mestra pelo Instituto Federal do Amazonas (Ifam), explica que “o racismo recreativo pode ser interpretado como um tipo de comportamento individual e falta de sensibilidade em relação ao outro sendo um sistema de dominação”. Fonseca ressalta que outros corpos também sofrem racismo: “Vale lembrar que não é somente os negros que passam por racismo, os indígenas, asiáticos também são vítimas”, completa.
“Mulher é uma gama plural e diversa”, discorre Erika Hilton para a Ministra Cida Gonçalves na reunião. A pauta de políticas públicas para as mulheres no País foi marcada por comentários contra os direitos das mulheres trans no conceito de feminilidade. Deputados do Partido Liberal discursaram contra a inclusão de mulheres fora do conceito conservador na participação política da Assembleia.
“Para o Estado brasileiro, mulheres transexuais também são mulheres e esta não é uma vontade da extrema-direita, esta é uma definição do judiciário brasileiro, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal [STF]”, completa. Erika chega a comentar sobre as opiniões contrárias de parlamentares ao uso do banheiro feminino por mulheres transgênero, assunto em pauta pelo STF.
Deputada Erika Hilton (Reprodução/Câmara dos Deputados)
“Nós vivemos em uma sociedade misógina, patriarcal, que estimula a cultura do estupro. E é isso que muitas vezes esses senhores vestindo a carapuça de homens de bem querem. [..] Não importa qual é a definição de mulher, desde que todas elas consigam ser atendidas pelas políticas públicas“, explica a deputada.
Confira o discurso na íntegra:
A reviravolta
A última quarta-feira foi marcada por discussões entre parlamentares. Após a intriga entre Erika e Julia, o deputado Nikolas Ferreira (PL) retrucou a deputada representante da pauta LGBTQIAPN+ com uma reprodução do discurso transfóbico recorrente do deputado federal: “Pelo menos ela é ela”.
Ferreira também foi o centro de outra briga intensa dentro das dependências do poder público. André Janones (Avante) participou de um conflito físico com o deputado mato-grossense. O embate foi transmitido ao vivo pelo empresário Pablo Maçal, convidado para participar da reunião sobre políticas públicas para as mulheres, embora ser crítico direto na causa feminista.
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