Escola de samba retrata Celso Sabino como indígena e é criticada; ministro votou pelo Marco Temporal
Por: Fabyo Cruz
08 de outubro de 2025
BELÉM (PA) – A escola de samba Rancho Não Posso Me Amofiná, uma das mais tradicionais de Belém (PA), anunciou nessa terça-feira, 7, a mudança do enredo que apresentará no Carnaval de 2026, depois de enfrentar reação negativa nas redes sociais. A polêmica começou quando a agremiação divulgou um tema em homenagem ao ministro do Turismo, Celso Sabino, que é paraense e deputado federal licenciado. Em 2023, Sabino votou a favor do Marco Temporal na Câmara dos Deputados.
O enredo original, intitulado “Guerreiro da Amazônia, Uma epopeia de coragem e preservação – Celso Sabino”, foi anunciado junto a uma arte gráfica que mostrava o ministro caracterizado como indígena — usando um cocar, segurando uma lança e cercado por animais da floresta, como uma onça e araras. A publicação rapidamente viralizou e foi criticada por internautas, que consideraram a representação inadequada e incoerente com o histórico político de Sabino.

Quando exercia o cargo de deputado federal, Sabino votou a favor do projeto que restringe a demarcação de terras indígenas, proposta amplamente rejeitada por organizações e lideranças indígenas em todo o País. Ainda no parlamento federal, ele foi autor da PEC da Blindagem, chamada na Casa Legislativa de PEC das Prerrogativas, proposta que buscava limitar a atuação da Justiça em processos criminais contra parlamentares e acabou arquivada no Senado em setembro deste ano.
Nas redes sociais, usuários questionaram a escolha da homenagem e o simbolismo da arte divulgada. “Não sabemos o que é pior: o histórico político dele ou uma escola de samba homenagear um político branco fantasiado de índio [sic]”, dizia um dos comentários mais compartilhados. Diante da repercussão, a escola apagou a publicação e se pronunciou oficialmente horas depois.
Em nota, o Rancho Não Posso Me Amofiná informou que o enredo oficial para o Carnaval de 2026 será “Amazônia — Uma epopeia de coragem e preservação – Belém, capital mundial do brega”. Segundo a agremiação, o novo tema “celebra a força e a resistência do povo amazônico, a riqueza da floresta e o orgulho da cultura paraense”, exaltando Belém como o berço do ritmo popular conhecido como brega, expressão musical típica do Pará e símbolo da identidade cultural da região.
“A publicação anterior foi removida por conter uma informação incorreta. Assim que o erro foi identificado, a direção agiu prontamente para corrigir e esclarecer”, afirmou a escola em comunicado. A direção também reforçou o compromisso “com a transparência, o respeito e a valorização da cultura amazônica e paraense”. O lançamento oficial do novo enredo deve ocorrer ainda nesta semana.
O ministro Celso Sabino, até o momento, não se manifestou sobre o episódio. A polêmica ocorre em meio a um momento delicado para o político: o União Brasil, partido ao qual ele é filiado, convocou reunião da Executiva Nacional para esta quarta-feira, 8, a fim de deliberar sobre sua possível expulsão por infidelidade partidária, após ele permanecer no governo federal mesmo com a legenda em posição de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Rebaixada no último Carnaval de Belém, a escola Rancho Não Posso Me Amofiná busca agora retomar o protagonismo no desfile de 2026, apostando em um tema que une identidade amazônica, cultura popular e música paraense, elementos que marcam a história do Carnaval na capital do Pará.