‘Espalharam para o Brasil que matamos 11 pessoas porque éramos do PT’, diz pesquisador

Pesquisador do Amazonas foi pioneiro no País a iniciar estudos com a cloroquina em pacientes graves. (reprodução/internet)

Luís Henrique Oliveira – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com uma foto de Fábio Nutti, para Revista Exame, o pesquisador Marcus Vinícius Lacerda, líder do primeiro ensaio clínico controlado do mundo com cloroquina, para formas graves de Covid-19, realizado em Manaus, desabafou por meio das redes sociais na manhã desta quinta-feira, 21.

“Espalharam pro Brasil que havíamos matado 11 pessoas de propósito, porque éramos do PT e porque queríamos derrubar a menina dos olhos do presidente. O poder dessa notícia impregnou a sociedade leiga, médica e científica. […] As fake news encontraram terreno fértil na ignorância e no conceito popular de que: ‘onde há fumaça, há fogo.’ Quem acreditou na notícia deve ter o hábito de julgar os outros pelo que ele próprio teria coragem de fazer”, disse.

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Nas últimas semanas, o pesquisador foi alvo de diversas críticas, a nível local e nacional, por conta dos resultados preliminares do estudo CloroCOVID19, realizado nas dependências do pronto-socorro de referência para o tratamento da Covid-19 no Amazonas, o Delphina Aziz.

Os resultados iniciais do estudo mostram que pacientes graves com Covid-19 não devem usar doses altas de cloroquina. A pesquisa, que teve como objetivo avaliar a segurança e a eficácia de duas dosagens diferentes do medicamento, analisou 81 pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), envolvendo mais de 70 pesquisadores, estudantes de pós-graduação e colaboradores de instituições científicas renomadas, como a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), a Universidade do Estado do Amazonas, a Universidade de São Paulo e a Fiocruz.

Publicação foi feita na manhã desta quinta-feira, 21. (reprodução/Instagram)

Ainda na publicação desta quinta, Marcus Lacerda reforça. “Após a publicação dos dados, em que demonstramos que a droga não elimina o vírus, e que não se devem tentar doses mais altas, fomos vítimas de uma terrível fake news oriunda de algum gabinete do ódio. […] A sociedade amazonense se calou, e perdeu a oportunidade de defender um dos seus patrimônios: a pesquisa clínica em doenças infecciosas, que aqui tem mais de 40 anos de excelência. Quem cala consente, quem cala apoia o novo regime”, completa.

Governo ‘receita cloroquina’

Nesse sentido, por conta das diversas falas sem comprovações ou cuidados técnicos, vindas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o pesquisador e sua equipe lamentam as futuras mortes que venham a acontecer.

Para se ter uma ideia, o governo de Jair Bolsonaro mudou nesta quarta-feira, 20, a orientação para médicos que tratam pacientes com a Covid-19. O documento assinado pelo Ministério da Saúde, pasta ainda sem um ministro oficial, afirma que a droga pode ser receitada até no caso de sintomas leves da doença.

“Uma pena que não haverá responsáveis pelas mortes de idosos com Covid-19 usando cloroquina em casa, de forma indiscriminada. A eles nosso mais profundo respeito, por pagarem o preço das escolhas erradas de uma Nação. Nosso luto será ainda maior. À sociedade amazonense, minha gratidão pelo que me proporcionaram até aqui, e um pedido de que conheçam melhor suas instituições, seus filhos de ‘bravos que doam’, e aqueles que pra cá migraram por opção. Como quis dizer o governador Eduardo Ribeiro, ao colocar uma bandeira na cúpula de seu teatro: ‘aqui também somos Brasil'”, finalizou Lacerda.

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