O Amazonas já viveu dois picos trágicos da pandemia, com mais de 12 mil mortos e mais de 366 mil contaminados (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
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24 de maio de 2021
Camila Carvalho – Da Revista Cenarium
MANAUS – Amazonas, 23 de abril de 2021. Pela primeira vez, desde o fim de 2020, a fila de remoções de pacientes por Unidades de Terapia Intensiva (UTI) aérea do interior do Estado para Manaus foi zerada. No final do dia, 21 dos 62 municípios amazonenses estavam sem pacientes internados por Covid-19. Os dados foram divulgados pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), nas redes sociais, mas estão longe de garantir um cenário promissor. A taxa de ocupação de leitos de UTI, as constantes aglomerações, o desrespeito às medidas de prevenção com a falta de autorresponsabilidade de parte da população e novas variantes do novo coronavírus (SARS-CoV-2), causador da Covid-19, são encarados por cientistas e gestores públicos como prenúncio de uma terceira onda da pandemia na Amazônia.
A aparente queda no número de internações no Amazonas não reflete a realidade brasileira, especialmente a vivida nas UTIs de Estados da Amazônia Legal que ainda amargam taxas de internação superiores a 80%, segundo dados do Boletim Observatório Covid-19, produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com análise de dados do período de 4 a 17 de abril. Apenas três dos nove Estados da Amazônia Legal estavam com leitos de UTI abaixo dessa marca no período: Roraima (38%), Amapá (68%) e Amazonas (69%). O cenário era preocupante especialmente no Mato Grosso (96%); Acre e Rondônia (94%); e Tocantins (93%), nos quais a taxa de ocupação das UTIs era superior a 90%.
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Nesses Estados, há preocupação, ainda, em conter a transmissão do vírus especialmente para os povos tradicionais, indígenas e comunidades ribeirinhas. Com a dificuldade de acesso rápido a essas populações em decorrência das distâncias geográficas aliada à falta de assistência médico-hospitalar, especialistas e representantes dessas comunidades apontam que o contágio por Covid-19 em massa seria avassalador.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 23 de abril de 2021, o Brasil registrou 69.105 novos casos de Covid-19. Até essa data, em uma população de 210.147.125 habitantes, 14.237.078 tinham sido contaminados com o vírus. Dentre essas pessoas, 386.416 perderam a vida para a doença, 12.711.103 estão recuperadas e 1.139.559 estão em acompanhamento.
Em Manaus, em meio a irregularidades na vacinação, com denúncias de pessoas fora do grupo prioritário imunizadas, o prefeito David Almeida (Avante) chegou a declarar que poderia decretar lockdown (restrição máxima de circulação de pessoas) para conter uma terceira onda da doença, mas, até o momento, nada de efetivo foi feito pelo Executivo municipal da capital.
Aglomerações
Em paralelo ao cenário de guerra no combate à Covid-19 e mesmo com as medidas restritivas impostas pelos governos estaduais e municipais, aglomerações e festas clandestinas são comuns no Brasil. No Amazonas, um barco foi impedido de sair do Porto de Manaus com mais de 800 pessoas a bordo; no Pará, o presidente da República, Jair Bolsonaro, promoveu uma aglomeração de apoiadores em recente visita à capital paraense; em Mato Grosso, foram registradas aglomerações para vacinação; já no Maranhão, houve aglomeração em festa de posse de um prefeito e também na imunização de idosos; sem deixar de contabilizar as inúmeras festas clandestinas que já foram fechadas pelas autoridades locais.
A 3ª onda
Com o aumento na circulação de pessoas e sem respeito a medidas preventivas (como uso de máscara corretamente e álcool em gel), aliado às aglomerações e desrespeito às ações restritivas e de controle, especialistas da Fiocruz, da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM) e gestores públicos acreditam que estamos caminhando para uma terceira onda de contágio da Covid-19.
“A possibilidade de uma nova alça epidêmica não pode ser descartada diante de uma nova flexibilização das medidas de contenção, aliada a uma baaaixa cobertura vacinal determinada principalmente pela escassez deste insumo e pela possibilidade de mutação viral, com o aparecimento de variantes que possam interferir no curso e comportamento da epidemia”, afirmou o pesquisador da Fiocruz Amazônia, Bernardino Albuquerque.
Para os especialistas, nem mesmo a marca de 37.988.023 de doses de imunizantes aplicadas, com mais de 9 milhões de pessoas entre os mais de 211 milhões de brasileiros que já completaram o esquema vacinal, segundo dados do Ministério da Saúde e da Fiocruz, é suficiente para relaxar e voltar à vida normal.
Para mostrar de que forma estamos construindo um caminho rumo à terceira onda da Covid-19, especialmente nos Estados da Amazônia Legal, e como podemos mudar a rota rumo à cura, a REVISTA CENARIUM entrevistou especialistas, representantes de comunidades, pesquisadores, gestores públicos e pessoas que perderam familiares para a doença com o intuito de demonstrar que podemos vencer a pandemia, desde que a luta seja em conjunto.
“A possibilidade de uma nova alça epidêmica não pode ser descartada diante de uma nova flexibilização das medidas de contenção aliadas a uma baixa cobertura vacinal”, Dr. Bernardino Albuquerque, pesquisador da Fiocruz Amazônia.
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