Especial – Tragédia Yanomami: Terra Arrasada

Garimpo ilegal promove desmatamento, mantando a cobertura vegetal e espécies nativas de plantas e animais, além de desejar mercúrio nos rios (Divulgação/Isa)

Alessandra Leite – Da Revista Cenarium

MANAUS – O garimpo ilegal de ouro afeta o meio ambiente em toda a Amazônia, em particular as terras indígenas, como está ocorrendo, atualmente, na terra Yanomami. Cegos pela ambição de enriquecer, os garimpeiros derrubam árvores, destroem o solo, despejam mercúrio nos rios, não importando as consequências que, via de regra, passam pela destruição dos meios de subsistência e o adoecimento dos indígenas.

O médico especialista em Saúde Indígena e pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo César Basta, traz à tona o garimpo como promotor do desmatamento, cuja ação contínua acaba com a cobertura vegetal, coloca sob ameaça de extinção inúmeras espécies nativas, ocasionando um desequilíbrio no ecossistema.

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Garimpo ilegal (Divulgação/ISA)

“Isso vai se agravando, à medida que máquinas pesadas abrem clareiras, constroem pistas de pouso clandestinas, levam combustível para a região, o que leva a uma disruptura social, prejudicando a saúde dos indígenas de um modo geral, a começar pelo escasseamento das fontes orgânicas alimentares”, destaca.

Basta explica que o garimpo usa o mercúrio em larga escala para localizar o ouro, despejando nos rios, contaminando a biota aquática e todos os organismos que vivem na água. No caso dos seres humanos, esclarece, o evento mais grave é que o metil mercúrio (espécie mais tóxica do mercúrio) se instala no tecido muscular do peixe, exatamente na parte comestível do animal.

Garimpo ilegal promove desmatamento, mantando a cobertura vegetal e espécies nativas de plantas e animais, além de desejar mercúrio nos rios (Divulgação/Isa)

“Esse peixe muito provavelmente está contaminado. A contaminação por mercúrio nos adultos traz efeitos catastróficos, uma vez que, absorvido pela corrente sanguínea, tem predileção pelo sistema nervoso central, mas também pode causar diferentes lesões nos rins, coração, sistema hormonal e imunológico, dores de cabeça crônicas, insônia, depressão, alterações de visão, audição, olfato, dificuldades em se locomover em casos mais graves, entre outros”, enumerou o médico da Fiocruz.

Ocupação Ilegal

Segundo o professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Paulo Artaxo, “além dessa questão do garimpo, que está devastando enormes áreas da Amazônia, temos a situação da abertura de estradas, de grilagem de terras por atividades ilegais, que invadem terras indígenas e as ocupam de maneira ilegal”.

Para Paulo Artaxo, a Amazônia está virando terra sem lei, o que é prejudicial ao futuro do país como um todo (Acervo Pessoal)

Para Artaxo, que trabalha com Física aplicada a problemas ambientais, sobretudo no contexto amazônico, a Amazônia “está virando uma terra onde a lei não vale nada e isso, em pleno século 21, é extremamente ruim para o futuro do país como um todo”.

Na avaliação do especialista, a “carnificina” que está sendo feita na terra Yanomami, com a permissão da invasão dos garimpeiros que levam doenças de todo o tipo para os indígenas, além de devastar grandes áreas, não traz nenhum benefício em contrapartida para as populações. “Nenhum desses garimpos é legal e, obviamente, é fundamental pressionar para que a lei em nosso país seja cumprida, em benefício de toda essa população”, pontua.

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