ESPECIAL | Uma economia para o amanhã – Bioeconomia na Amazônia

E a Amazônia, que concentra a maior biodiversidade, tem grande poder de desenvolvimento (Aguilar Abecassis)

Carolina Givoni e Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Transformar recursos naturais em negócios rentáveis sem destruir o meio ambiente. Esse é o poder da bioeconomia, modelo econômico baseado em cadeias produtivas que preservam a biodiversidade. No Brasil, o setor já movimenta cerca de US$ 326 bilhões, segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E a Amazônia, que concentra a maior biodiversidade, tem grande poder de desenvolvimento. A floresta em pé rende R$ 7 trilhões ao ano, estimam dois levantamentos. Mas, ainda é difícil mensurar o valor do setor na região e é necessário investir em ciência, tecnologia e infraestrutura para que a Amazônia possa transformar frutos e sementes nativas em crescimento econômico limpo.

O primeiro estudo que demonstra o valor econômico da floresta preservada é o Valoração Espacialmente Explícita dos Serviços Ecossistêmicos da Floresta Amazônica Brasileira, publicado em 2018 por Britaldo Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com o Banco Mundial. O segundo é da Changes in the Global Value of Ecosystem Services, que em português significa Mudanças no Valor Global dos Serviços do Ecossistema de 2014, liderado por Robert Constanza, da Universidade Nacional da Austrália.

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Mas, como a bioeconomia explora o meio ambiente preservando a biodiversidade? Utilizando cadeias produtivas que não destroem o meio ambiente, por meio de processos que substituem recursos fósseis e não renováveis na produção de bioenergias e de insumos químicos e produtos concebidos a partir da base biológica.

Na União Europeia, a bioeconomia é consolidada, sendo responsável pela injeção de €$ 2,3 trilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do bloco, além de possuir maturidade econômica empregando 18 milhões de pessoas no continente europeu, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD).

Baseada no Brasil desde 1980 com o Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), a bioeconomia em grande parte tem potencialidade e vantagem no uso da biomassa na produção de biocombustíveis. O Brasil, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é o segundo maior produtor de etanol mundial.

Na Amazônia Legal, os nove Estados concentram a matriz bioeconômica principalmente em frutos típicos de cada região. Mas, a região ainda enfrenta problemas básicos, como o desenvolvimento de ciência e tecnologia quase nulo e infraestrutura precária, o que dificulta em muito o avanço de negócios da bioeconomia. Há esforços sendo feitos, mas dados sobre o setor são de Biotecnologia da Amazônia (CBA) e o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), que atuam com bioeconomia, não possuem levantamentos com dados gerais sobre quanto o setor movimenta na região.

Porém, é possível ter uma noção do potencial amazônico para a bioeconomia. No Amazonas, maior Estado da Amazônia, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti) estima que o setor representa menos de R$ 100 milhões, ou menos de 1% do PIB estadual. Para o titular da Sedecti, Jório Veiga, o segmento ainda “engatinha” no Amazonas.

Ainda segundo a Sedecti, a bioeconomia pode movimentar cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado de 15 a 20 anos. Em 2020, o PIB do Amazonas alcançou R$ 105 bilhões. Se a bioeconomia no Estado representasse 10% do PIB do ano passado, o setor movimentaria em torno de R$ 10,5 bilhões. E isso seria somente em um dos nove Estados da Amazônia.

Nesta reportagem, a REVISTA CENARIUM abordará nas páginas a seguir como a bioeconomia se sustenta como negócio na Amazônia, a inserção dos povos e comunidades tradicionais, bem como os principais responsáveis pela geração do desenvolvimento no setor. Cientistas, economistas, ambientalistas e outros especialistas detalham como o extrativismo e as atividades ligadas à bioeconomia impactam a região e avaliam rentabilidade, viabilidade e o futuro da atividade econômica na região.

(Renan Máximo/Cenarium)
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