ESPECIAL | Uma economia para o amanhã – Matéria-prima x investimento

Em comunidades da Amazônia, há conhecimento tradicional sobre as riquezas da floresta, mas também carências, como a falta de transporte e até de água potável (Ricardo Oliveira/Cenarium)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A Amazônia é considerada a maior biodiversidade do planeta, abrigando 20% de todas as espécies de fauna da Terra. Para o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Edson Barcelos a região tem a matéria-prima necessária para expandir a bioeconomia no País.

Em contrapartida, existe uma grande parcela de empresas por todo o mundo interessadas e dispostas a usar os produtos da floresta amazônica, assim como também existem instituições e universidades no Brasil dispostas a somar esforços em pesquisas na região.

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“Para que isso ocorra, é necessário direcionamento governamental e é preciso que haja aporte de recursos. É preciso que haja foco, pragmatismo, ou seja, a biodiversidade só melhora a vida do nosso povo quando ela sair da floresta e chegar à mão do consumidor, e ela tem que garantir que a floresta fique preservada”, concluiu.

“É necessário direcionamento governamental e é preciso que haja aporte de recursos”, Edson Barcelos, pesquisador da Embrapa na Amazônia Ocidental.

Avanços

No Pará, a pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental Joice Ferreira lembra que a bioeconomia tem diferentes visões e versões. Para ela, geralmente, bioprodutos, uso de recursos que são renováveis e ciência avançada, como robótica, cultura celular, biologia sintética e inteligência artificial são o futuro.

Joice é uma das coordenadoras do Relatório do Painel Científico para a Amazônia (em inglês: Science Panel for the Amazon, ou SPA) que pretende realizar uma avaliação inédita por toda a bacia amazônica.

Segundo a pesquisadora, é preciso que instituições garantam recurso para a formação de pessoas e laboratórios, a fim de buscar desenvolvimento no setor, principalmente na Amazônia, onde há falta de incentivo financeiro e os desafios mais preocupantes de atuar com a bioeconomia são o desmatamento e a degradação da floresta.

“São problemas preocupantes porque reduzem a oferta de matéria-prima, se formos considerar principalmente às relacionadas às florestas, que é o nosso caso. Uma questão bem importante é que se a gente vai atuar na bioeconomia, nessa questão de tecnologia de aumentar a tecnologia, a inovação, a gente precisa de investimento em ciência e tecnologia”, destaca.

Segundo a pesquisadora, a Região Norte é onde há a menor taxa de investimento em tecnologia e ciência, além de existir muito menos cursos se comparada a outras regiões, como a Nordeste. Ainda conforme Joice, a Amazônia sofre com a infraestrutura no que diz respeito à bioeconomia, com a falta de transporte adequado, internet precária, entre outras situações.

“Tem situações em que nós não temos nem água potável, em que não há transporte. A gente precisa adaptar toda a forma de transporte. São muitos desafios que são importantes para a nossa região. Precisamos da floresta conservada”, frisa.

Normativo

Joice Ferreira salienta que a bioeconomia é mais do que um setor, ela é um normativo de produção sustentável e a sustentabilidade estaria no objetivo central do segmento. “A bioeconomia prega a substituição de combustíveis fósseis, a conversão de biomassa e de outros materiais biológicos em energia ao invés da energia por combustíveis fósseis. E só por essa questão, naturalmente, já tem a sustentabilidade como um princípio”, diz.

“É muito importante a gente enfatizar a bioeconomia com esse potencial de promover a biodiversidade florestal”, reforça. “Aqui na Amazônia, nós enfatizamos muito isso no capítulo Science Painel, de aproveitar essa visão para valorizar a biodiversidade das florestas e é muito importante valorizarmos ainda a sociobiodiversidade, ou seja, não apenas a biodiversidade das florestas, mas as pessoas locais, esses a quem chamamos de os ‘guardiões da floresta’”, finaliza.

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