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ESPECIAL | Uma economia para o amanhã – Qualidade de vida
As populações tradicionais da Amazônia, que vivem do extrativismo, estão no centro das discussões sobre a bioeconomia (Ricardo Oliveira/Cenarium)
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19 de setembro de 2021
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – “Precisamos que esse caboclo tenha uma vida digna, para que não precise dela pidar a biodiversidade”, defende o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na área da Amazônia Ocidental, Edson Barcelos da Silva. Para ele, a bioeconomia poderia contribuir mais efetivamente para a melhoria da vida das famílias que vivem de extrativismo na região amazônica.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define a bioeconomia como “um mundo onde a biotecnologia contribui com parcela importante da produção econômica”, relacionando um “fator emergência” a princípios relativos ao desenvolvimento sustentável, bem como à sustentabilidade ambiental. Uma cadeia que envolve elementos como conhecimento, biomassa renovável, integração entre aplicações, além de biotecnologia.
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Segundo o pesquisador, no entanto, o conceito de bioeconomia tem sido moldado de acordo com conveniências e não no real potencial amazônico. “Hoje, a bioeconomia pode ser o etanol, a produção de borracha, pisicultura, tudo que é produção vegetal, biológica pode ser enquadrada na bioeconomia”, salienta Barcelos.
Realidade x expectativa
Edson Barcelos lembra ainda que o “imaginário popular” sobre a bioeconomia gera uma expectativa sobre a atuação do segmento ser um processo altamente evoluído, que utiliza os itens vegetais da Amazônia para produzir moléculas milagrosas de fármacos, bem como para curar doenças, como o câncer ou o HIV.
“[As moléculas] que vão mudar nossa vida, mas que, na verdade, não é isso. Essa é uma das partes da bioeconomia voltada para fármacos, fitoterápicos e cosméticos, ou ainda para a produção de óleos de alto valor agregado. Esse é um grande mercado e a indústria brasileira não tem tradição de desenvolver produtos fármacos”, pontuou o especialista.
Desafio
O grande desafio mundial, conforme Barcelos, é buscar uma solução para que o desenvolvimento seja sustentável, ocorra por meio da bioeconomia e da biodiversidade. Isso exigiria um esforço muito maior do que o habitual, com investimento em formação de mão de obra especializada, infraestrutura, assim como a construção de laboratórios, desenvolvimento de energia, abertura e manutenção de mercado, além da criação de produtos de alta qualidade capazes de atender à exigência de mercados internacionais.
“O que se investe em pesquisa é muito pouco comparado com o tamanho da região e com o desconhecimento sobre a amazônia. Não se tem de onde copiar, ou seja, temos outros lugares que desenvolvem conhecimento, mas nós temos que desenvolver o nosso próprio, de acordo com as nossas potencialidades”, comentou Edson.
Questionado sobre o motivo da dificuldade em desenvolver a Amazônia por meio da bioeconomia, mesmo o Brasil possuindo 20% da biodiversidade mundial e a maioria dessa porcentagem pertencer à Floresta Amazônica, Edson Barcelos explicou que o segmento é quase 100% baseado em ciência e tecnologia de ponta, algo longe da realidade da região.
“O que se investe em pesquisa é muito pouco comparado com o tamanho da região e com o desconhecimento sobre a Amazônia”, diz Edson Barcelos, pesquisador da Embrapa na Amazônia Ocidental.
Biodiversidade
São exemplos de uso da biodiversidade amazônica, árvores como a seringueira, mesmo que a região não produza mais borracha. Assim como o cacau, a castanha e o açaí. Frutos como o guaraná, bem como a pupunha e a andiroba, copaíba, entre outros.
A curto e médio prazo e por meio do extrativismo, a população local pode se beneficiar com a bioeconomia, produzindo matérias-primas essenciais para subsistência, a exemplo do açaí. A longo prazo, à medida em que há a domesticação de frutos, legumes ou outros materiais de uso da biodiversidade, espera-se mais qualidade de vida para os povos da Amazônia.
Edson Barcelos defende que é preciso assegurar esses benefícios para a população, aliados à floresta amazônica em pé. “Não adianta o caboclo estar com o oxigênio ‘até o tucupi’, mas estar com fome, com a criança doente, ficar sem saúde e educação. Precisamos que esse caboclo tenha uma vida digna, para que não precise delapidar a biodiversidade”, frisa.
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