Especialista avalia a crescente rejeição de Bolsonaro em época de pandemia

A maior rejeição de Jair Bolsonaro está entre os eleitores da população negra (Reprodução/ Eraldo Peres)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS- De acordo com uma recente pesquisa realizada e divulgada pelo Instituto Datafolha, a rejeição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aumentou significativamente. A pesquisa mostrou que, se tratando de eleitores negros, a avaliação negativa do governo é ainda maior. Seis em cada dez eleitores negros não enxergam com bons olhos a liderança presidencial.

Em fevereiro, o chefe de Estado bateu a média de 54% de rejeição, um aumento considerável se comparado ao mês anterior quando a reprovação batia a média de 48%. A pesquisa apontou ainda que o perfil das pessoas que acham o trabalho do presidente ruim ou péssimo é composto majoritariamente por brasileiros com ensino superior (65%), mulheres (58%), funcionários públicos (60%) e negros (61%).

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Avaliação

Para o professor de Serviço Social da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e militante social, Jeffeson William, a impopularidade do governo Bolsonaro se deve por vários fatores, mas, principalmente, a três deles. “Primeira pela ineficácia, para não dizer desastrosa, condução da pandemia que teve seu epicentro na negligência da compra de vacinas ao decorrer de todo o segundo semestre de 2020”, ressaltou o professor.

Ele relembra a tardia iniciativa do governo federal nas negociações com relação às vacinas, tomando à frente somente após a movimentação do Instituto de Pesquisa Butantan e Fiocruz. “O retardo dessa decisão, infelizmente, custou o preço incalculável de milhares de óbitos evitáveis, uma vez que há alta eficácia dos imunizantes, sobretudo prevenindo a forma grave da doença”, lamentou William.  

Em nova pesquisa, o atual mandatário brasileiro bateu a média de 54% de rejeição entre a população (Reprodução/Adriano Machado/Reuters)

O segundo e o terceiro motivo, Jeffeson aponta como temas distintos, mas que o governo federal acabou condicionando um ao outro. Ele se refere à renda emergencial básica, desemprego e aumento dos vários produtos que vai do combustível à cesta básica. O professor explica que houve precarização dos serviços públicos, uma vez que a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 186, pelos aliados do governo, se constitui em perdas no lugar de obter ganhos para a população, prova disso é a renda emergencial que será menor que 300 reais/mês e não alcançará todos os cidadãos que necessitam do benefício.

“Essa aprovação cumpriu mais uma parcela da “Reforma Administrativa”, os serviços públicos utilizados inclusive pela mesma população que necessita da renda emergencial ficarão mais precarizados, pois não haverá novos concursos públicos e os funcionários permanecerão sobrecarregados e com seus salários congelados por 15 anos! É dessa forma que o governo Bolsonaro vai ‘passando a boiada’. Sabemos que não havia a necessidade de uma emenda constitucional para a aprovação de um novo auxílio, uma vez que os recursos serão pagos por créditos extraordinários, o que inclusive tramitaria muito mais rápido”, explicou Jeffeson.

Taxas positivas em queda

A pesquisa também mostrou a porcentagem dos que acham o gerenciamento de crise ótima ou boa em queda. No primeiro mês do ano a taxa caiu de 26% dos que avaliavam positivamente para 22%. No perfil dos que aprovam estão inclusos: moradores do Centro-Oeste/Norte (29%), eleitores entre 45 e 59 anos (27%) e empresários (38%).

Jeffeson também ressalta que a imagem negativa se deve à percepção dos brasileiros sobre a desigualdade social e econômica. “Funcionários públicos e a população em geral, ambos passaram a perceber no bolso que a prioridade não é o povo, mas sim os bancos que tiveram seus lucros salvos com o generoso investimento do governo de 1,3 trilhão, inclusive com a compra de títulos no mercado secundário”, pontua o professor.

Vale ressaltar que a pesquisa nacional do instituto foi realizada nos dias 15 e 16 de março via telefone. Ao todo foram 2.023 pessoas ouvidas. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

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