Especialista diz que tragédia em Manacapuru ‘poderia ter sido evitada’
Por: Carol Veras
10 de outubro de 2024
MANAUS (AM) – O fenômeno conhecido como “terras caídas” na Amazônia, utilizado para descrever desbarrancamentos de margens fluviais, voltou a chamar a atenção com o deslizamento ocorrido em Manacapuru, no Amazonas, na última segunda-feira, 7. Embora seja um processo predominantemente natural, fruto da combinação de diversos fatores, especialistas destacam que a ação humana contribuiu para a tragédia, devido a obras de um porto na região. É o que explica o professor doutor José Alberto Lima de Carvalho, geógrafo e especialista em questões ambientais.
À CENARIUM, o professor relatou que, no local, foi realizado um aterramento de material da terra firme sobre o sedimento típico da várzea, que possui baixa coesão e é altamente suscetível a deslizamentos. Carvalho comenta que fotos tiradas pelos moradores de Manacapuru revelam que essas rachaduras já eram visíveis antes do deslizamento, um sinal que poderia ter servido de alerta para as autoridades locais. “Foi registrado a rachadura naquele momento. Era necessário ter tomado a providência de isolar a área. A Defesa Civil deveria ter feito isso porque já se sabia que ia deslizar”, alertou o especialista.
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De acordo com as observações técnicas, o deslizamento no porto de Manacapuru foi resultado da instabilidade do solo, agravada pelo uso inadequado de materiais durante a obra. Esse processo de deslizamento já foi registrado em outros locais, como no Porto Chibatão em Manaus, ocorrido em 2010, e causou o afundamento de mais de 60 contêineres e 40 baús de carga nas margens do Rio Negro, de acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBAM).
O professor explica o processo do fenômeno: “Primeiro, borbulhas aparecem na superfície da água, indicando a quebra de resistência no fundo do rio. Em seguida, surgem rachaduras nas margens, um indicativo iminente de deslizamento”.
Responsabilidade
Em nota, o Governo do Amazonas disse que o porto é responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Na contramão, o Dnit negou a responsabilidade sobre o porto. “Ressaltamos que o Porto da Terra Preta não é de responsabilidade desta autarquia. Está sob a gestão do Dnit apenas a IP4 de Manacapuru”, destacou o órgão federal.
Técnicos do Dnit atuam no local para realizar uma inspeção detalhada, com o objetivo de avaliar a extensão dos danos e os riscos que ainda podem comprometer a segurança da estrutura.
Durante uma coletiva de imprensa, o secretário executivo da Defesa Civil do Estado, Coronel Clovis Araújo, confirmou que a área em questão pertence a um particular, o empresário José Maria, que já foi notificado e precisará prestar esclarecimentos. O proprietário estava realizando obras de terraplanagem e aterramento no local.