Especialistas alertam sobre risco no aumento de desmatamento em terras de indígenas isolados

Povos indígenas isolados sofrem constantes ameças de invasores (Gleilson Miranda)

Victória Sales – Da Cenarium

MANAUS – Cerca de 200 hectares foram desmatados somente em julho deste ano em territórios ocupados por povos indígenas isolados. O salto foi enorme e chamou a atenção de especialistas em relação aos riscos que essa realidade pode trazer para essa população. De acordo com o relatório Sirad Isolados, produzido pelo Instituto Socioambiental (ISA) e divulgado no último dia 31, a alta foi de 236% em relação ao mês anterior e 118% em relação ao mesmo período de 2020.

Segundo o ambientalista Carlos Durigan, essa questão é muito complexa, pois existem vários povos identificados como isolados que são aqueles que não têm contato e aqueles que evitam contato com a sociedade. “E além disto, existem algumas dessas áreas que ainda não foram demarcadas ou são áreas que foram ocupadas ilegalmente por produtores rurais ou mesmo veleiros, e dentro desse processo de expansão da fronteira agropecuária na Amazônia, houve vários processos de invasão de terras”, destacou.

PUBLICIDADE

Durigan ressalta ainda que tudo isso culminou com o massacre de membros dessas etnias e isso tem levado para uma situação ainda pior. “Tem grupos isolados que ainda não têm sequer esses territórios conhecidos, quanto mais reconhecido, e torna ainda mais crítica, pois o marco temporal pode levar a uma fragilização de processos de identificação e reconhecimento desses povos”, ressaltou.

Povo indígena isolado avistado na Amazônia brasileira (Gleison Miranda/Funai)

O ambientalista salienta ainda que esses povos, muitas vezes por evitarem contato, acabam sofrendo com o que está acontecendo. “É uma situação que põe em risco a integridade de povos duramente castigados por conflitos históricos, muitos desses povos vivem em área de grande degradação. Há uma grande preocupação sobre esses contatos que acabam acontecendo e que geram conflitos, geram tragédia, entre outras coisas. E o avanço do desmatamento e das queimadas afeta as áreas de vida desses povos”, explicou.

Para o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Barroso, esses desmatamentos afetam diretamente os povos indígenas isolados. “Os parentes são afetados por conta da vulnerabilidade até mesmo do contato e com essas invasões, desmatamentos. Quando ela começa, já é uma ameaça ao território de quem estava livre e que não tinha essa preocupação ou perturbação, esse perigo”, explicou.

Estudo

Segundo o relatório divulgado pelo ISA, no total foram mais de 90 alertas de derrubadas em terras indígenas, em julho. De mais de 200 hectares registrados, 104 foram em território da etnia Uru-Eu-Wau-Wau, localizados em Rondônia, outros 78 hectares foram derrubados em território do povo Munduruku, no Pará. Os outros 20 foram em terras Arariboia, no Maranhão.

Ainda de acordo com a pesquisa, em terras dos Uru-Eu-Wau-Wau, houve também um aumento nas queimadas, que subiram de 12 mil hectares queimados em julho, contra 366 em maio, segundo informou dados do satélite da Amazonas Dashboard (GFED), que monitora queimadas no bioma amazônico. Os munduruku sofrem com pressões do garimpo ilegal, o qual identificado mais de 40 pontos de mineração ilegal na área.

Desafio

Marivelton ressalta o desafio enfrentado por esses povos, pois o que era para ser controlado e combatido, que é o desmatamento ilegal de áreas indígenas, sobretudo esses que requerem uma proteção maior, acaba não tendo pelos órgãos de controle. “A própria Fundação Nacional do Índio está desmantelada, está sucateada, não consegue de fato nem assegurar e muito menos fazer o seu papel hoje que é de coordenar a política indigenista no País”, relatou.

“Essa questão do desmatamento vem de uma forma muito violenta, de uma forma invasora de que os empresários tomem de conta dessas áreas, de um modo ilegal, fazendo e cometendo um crime ambiental, que a gente tem lutado e buscado poder preservar e garantir o nosso território, não só pela própria preservação, mas pela reprodução física e cultural”, afirmou Marivelton.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.