Especialistas analisam consequências do culto à beleza em tempos de redes sociais

Como as redes sociais influenciam na saga em busca da aparência perfeita. (Samuel KNF/Revista Cenarium)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Likes, compartilhamentos, comentários e selfies, ferramentas necessárias para compor um perfil esteticamente bonito e sedutor nas redes sociais. Especialistas entrevistados pela REVISTA CENARIUM detalham as distorções causadas pela comum e incessante busca pelo corpo perfeito e os exageros para se encaixar no conceito de “belo”.

Para o cirurgião plástico Israel Oliveira de 44 anos, as redes sociais impulsionaram as cobranças com relação à aparência. “Essa mudança revolucionou não só a indústria da beleza pela amplitude da divulgação dos tratamentos. Ser visto traz cobranças pela aparência, o que resulta na busca por tantas intervenções estéticas”, revelou o médico.

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O cirurgião plástico Israel Oliveira explica que já contraindicou cirurgias cerca de 20 vezes. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Oliveira diz que o culto exagerado ao corpo pode prejudicar o senso crítico e estético. “Na cirurgia plástica são 11 anos, mas é preciso outros 11 anos para saber contraindicar um procedimento. Pesquise muito, hoje a internet pode ser uma aliada. Recomendo buscar profissionais credenciados e aptos para conduzir casos em que ocorra alguma complicação”, orienta o especialista.

“Já contraindiquei cirurgias umas 20 vezes, mas os pacientes não recebem isso muito bem. Existem pacientes que não esperam o tempo de cicatrização e já querem fazer outro procedimento. Ainda há aqueles que não foram autorizados pelo cardiologista e continuaram insistindo, alguns foram encaminhados ao psicólogo”, pontuou Israel.

Autoafirmação

A psicóloga Keila Gomes alerta para o cuidado com excessos e o constante uso de ferramentas como filtros na busca pela autoafirmação. “Não é de hoje que as redes sociais estão a todo momento disseminando um padrão de beleza massificado ao coletivo, mesmo de forma inconsciente aderem a tais padrões irreais que são considerados ideais”, diz a especialista.

Gomes também atenta para os cuidados à saúde e ressalta sobre o diagnóstico de Transtorno Dismórfico Corporal (TDC). “As pessoas precisam se atentar que essas questões podem ser gatilhos para um TDC, uma distorção da própria imagem e vários outros problemas como a bulimia, anorexia, depressão e ansiedade”, frisou a psicóloga.

Morte

O caso da modelo e influencer digital, Liliane Amorim, 26 anos, que morreu no último dia 24 de janeiro, no Ceará, é um exemplo claro de que quando o limite do corpo não é respeitado há sérias consequências. A modelo faleceu devido a complicações causadas após uma lipoaspiração.

A Modelo e digital influencer, Liliane Amorim, tinha 26 anos e morreu após complicações ocorridas durante uma lipoaspiração. (Reprodução/Instagram)

Dona de uma beleza dentro dos padrões impostos pela própria mídia, a influencer que produzia conteúdos voltados para beleza e moda pode ter se deixado levar a acreditar que seu corpo esbelto e cintura fina não eram suficientes. Com mais de 170 mil seguidores, Liliane tinha grande abrangência nas mídias sociais e acabou sendo vitima desse “recorte” da beleza cotidianamente divulgado em sua própria rede.

1 bilhão de usuários

Segundo um levantamento divulgado pelo G1 em outubro de 2020, o Instagram é uma das redes sociais mais usadas no mundo e já teria atingindo a fragorosa marca de 1 bilhão de usuários. Ficando somente atrás do próprio Facebook com 2,6 bilhões de usuários, do YouTube com 2 bilhões e do WhatsApp com 2 bilhões.

Segundo um levantamento divulgado pelo G1 em outubro de 2020, o Instagram é uma das redes sociais mais usadas no mundo. (Reprodução/Internet)

Uma pesquisa realizada pela Royal Society for Public Health (RSPH), intitulada “Status of Mind”, estado mental em tradução literal, apontou que o Instagram é a plataforma social que mais afeta as mentes dos jovens, prejudicando a saúde e a autoestima destes usuários.

Já a realizada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) apontou que no Brasil houve um aumento de mais de 140% nos procedimentos estéticos feitos em adolescentes de 13 a 18 anos nos últimos dez anos. A procura é relacionada ao poder de influência gerada pelas redes sociais.

Aceitação e autoconfiança

Aceitar o corpo e descobrir o belo em você pode não ser fácil. O primeiro passo para que isso aconteça é se desprender dos padrões impostos pela sociedade, que atinge principalmente as mulheres. Compreender que conceito de beleza deve ser subjetivo e implícito a cada indivíduo é o caminho para mostrar que esse tal padrão de beleza na verdade não existe.

Ter seletividade e consumir conteúdos nas redes também é uma grande responsabilidade. Não deixar que o culto ao corpo e essa permanente adequação à beleza afete a saúde mental, ao ponto de tornar os usuários refém desses conteúdos como se isso fosse a fórmula da felicidade. Acima de todo e qualquer conceito pré-estabelecido não podemos esquecer que o fator diversidade cultural e étnica deve ser respeitada.

Entender que a beleza ideal nao existe é o primeiro passo para a autoconfiança (Reprodução/Internet)

Além disso, é importante frisar que a intenção da matéria visa confrontar quem busca melhorias mentais, emocionais e físicas, mas levar a uma reflexão sobre os conteúdos disseminados nas redes sociais. Cirurgias plásticas, dietas, procedimentos estéticos são bem-vindos e o ser humano é livre para buscar melhorias adequadas para cada um.

Se questione

Talvez o grande X da questão é se questionar antes de tomar qualquer decisão permanente. Será que realmente preciso passar por isso? Há outra alternativa menos radical? Realmente quero ou só estou contagiada pela tendência? O autoconhecimento é fundamental para saber quem você é e quais mudanças você almeja para seu corpo.

Não é ser contra a vaidade, mas sobre não aceitar padrões e conteúdos impostos e disparados a todo momento que possam levar a uma saga cruel para se encontrar e se encaixar nos padrões aparentemente perfeitos. É não ignorar o fato de que essa busca pode ter sérias consequências para a saúde ou até mesmo custar a vida.

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