Especialistas associam alta de 106% em manifestações racistas ao ‘discurso de ódio’ de Bolsonaro

Ato Antirracista e Antifascista da sociedade civil contra o governo do presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista. (Felipe Campos Melo/Reprodução)

Victória Sales – Da Revista Cenarium

MANAUS – Especialistas associam que os discursos de ódio proferidos pelo presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) podem ter sido o “catalisador” do aumento de 106% em casos de discurso racistas noticiados na imprensa e nas redes sociais, entre o dia 1º de janeiro de 2019 até 6 de novembro de 2020.

Em números, os 49 casos de 2019/2020 superam a marca de 2018/2019, que fechou o período com 16 manifestações, inferiores as 33 do ano passado. O levantamento da diversas violências, manifestações e declarações racistas é feito pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e a Terra de Direito.

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Estímulo

Para o sociólogo Luiz Antônio, ainda existe uma boa fração da sociedade e de formadores de opinião que se opõem às práticas homofóbicas e racistas. No entanto, ele alerta para o movimento contrário. “Os racistas e os homofóbicos tinham pouco estímulo para expressar publicamente as suas opiniões e práticas. Não que antes não houvesse, sempre esteve ali”, destacou Antônio.

O estímulo para prática do discurso de ódio, segundo Luiz, ganha reforço do presidente da República, quanto ao obscurantismo no tratamento de questões raciais por Bolsonaro. “Formadores de opinião, pastores e veículos de comunicação que estimulam à violência racial em nome da liberdade de expressão, provocam um comportamento de ‘onda’ nas pessoas. Com isso, estas se sentem confortáveis para também fazer o mesmo”, ressaltou.

Para a secretária nacional de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Anatalina Lourenço, o aumento significativo de pessoas que se assumiram racistas é reflexo dos governantes. “O discurso de ódio de Bolsonaro incentivou o crescimento da violência e dos ataques contra a população historicamente perseguidas, não só os negros, mas também LGBTQ”, afirmou a dirigente.

Tensão racial

Em novembro de 2020, José Alberto Silveira, um homem negro de 40 anos, foi espancado por seguranças do supermercado Carrefour, em Porto Alegre. Assim como ele, o adolescente João Pedro Mattos, de apenas 14 anos, também foi morto em maio, durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil no Complexo do Salgueiro, localizado no município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro.

João Pedro, morto durante confronto das polícias Federal e Civil no complexo do Salgueiro

No Recife, Miguel Otávio Santana, de cinco anos, filho de uma empregada doméstica, caiu do 9º andar de um prédio no bairro de São José, no centro de Recife em junho. A criança havia sido deixada com a ex-patroa da mãe, a primeira-dama da cidade de Tamandaré.

Negacionismo

Mesmo em meio a tantos casos, Jair Bolsonaro e o general Hamilton Mourão insistem em minimizar as tensões raciais causadas pelo negacionismo dos chefes de Estado quanto ao racismo. O vice-presidente chegou a mencionar que “no Brasil não existe racismo”. “Isso é uma coisa que querem importar aqui no Brasil. Isso não existe aqui”, disparou Mourão.

Logo em seguida, Bolsonaro também endossou o discurso alegando que “querem colocar a divisão de raças no Brasil”. “Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e provocando conflitos atentam contra a nação e contra nossa própria história”, expressou Jair Bolsonaro.

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