Especialistas avaliam os desafios do atual cenário econômico no Dia do Consumidor; ‘a inflação atinge quase todos os setores’

Economic situation calls for caution, say experts (Ricardo Oliveira/Cenarium)

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS – Anualmente lembrado nesta terça-feira, 15, quando na teoria deveríamos comemorar o Dia do Consumidor, não há muitos motivos para celebração. Altas nos juros, os preços dos alimentos e combustíveis geram um ambiente de insegurança para quem quer fazer compras.

Pensando nisso, a REVISTA CENARIUM procurou economistas para além de sinalizar o momento econômico que vivemos, trazer algumas dicas de como “sair do vermelho” e, possivelmente, ter mais poder de compra.

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O professor universitário e consultor econômico Mourão Júnior salienta as dificuldades em consumir e comprar, principalmente, neste Dia do Consumidor, em um País em que a economia e os salários estão em baixa.

“E se os salários são baixos, o poder de compra reflete nisso. Para completar, no aspecto mais macroeconômico, nós temos uma inflação alta que vem já desde o ano de 2021e vai se estender para 2022”, explica.

Além disso, existe a questão dos juros altos que reflete sobre o poder de compra. “Essas duas variáveis pesam, principalmente, na questão do consumo, no momento em que o consumidor vai tomar a decisão das coisas que ele necessita”, afirmou o economista.

Segundo Mourão, o essencial é ter um planejamento das suas contas, a chamada educação financeira. “É importante para você poder visualizar o que você está gastando e qual é o seu poder de compra. Evitar questões de crédito, cheque especial e tentar economizar”, indicou o especialista.

O economista sugere aplicativos no smartphone. “Lugares para você colocar seus dados e fazer seu controle financeiro para a tomada de decisões; se você quer comprar um carro, viajar e outras coisas. Somente com o controle financeiro e com esse planejamento que o consumidor vai poder saber seu poder de compra. Importantíssimo para tomada de decisões e para uma excelente saúde financeira”, orienta o economista.

Internet pode ser mais barata

Economista e presidente do Corecon-AM, Marcus Evangelista afirma que a principal dificuldade do consumidor, hoje, é lidar com a inflação. “A cada mês o poder de compra vai diminuindo porque cada mês a inflação vem subindo no nosso País. Apesar da tratativa do governo federal em aumentar a taxa Selic para tentar segurar a subida dos preços, isso ainda não aconteceu”, explica.

Dando opções, Evangelista defende que a alternativa é buscar todos os meios para ter acesso a ofertas mais em conta. Outra dica é a utilização da internet. “A internet veio ajudar, neste momento, porque os e-commerce acabam tendo um custo menor e com isso praticando preços mais baixos”, explica.

Entretanto, o economista lembra ser preciso atenção e considerar os preços do frete. “É necessário para que aquela economia não seja absorvida pelo valor do frete, já que nós estamos isolados, geograficamente, do resto do Brasil”, disse o especialista.

Marcus Evangelista aponta que compras pela internet são opção de economia (Divulgação)

O economista Willander Buraslan afirma que todos precisam consumir produtos e serviços de alguma forma, mas a maior dificuldade, hoje, é justamente equilibrar o limitado orçamento aos constantes aumentos que estão acontecendo em toda a cadeia.

“Com o aumento dos insumos básicos para a produção de alimentos e mercadorias, o preço delas para o consumidor final também se eleva. Junta-se este fato ao aumento da gasolina, por exemplo, o custo logístico para transportar os produtos também acaba ficando caro”, disse Buraslan.

Além disso, o dólar alto favorece as exportações, então, é mais vantajoso para o produtor exportar a mercadoria que vender no mercado interno. De acordo com o especialista, isso gera escassez e, consequentemente, um aumento do preço para o consumidor brasileiro.

“No momento, tentar economizar e comprar apenas o essencial é a melhor opção. Nos mercados, uma sugestão é optar por marcas mais baratas ou alimentos complementares, mas infelizmente não há muita margem de ação, a inflação atinge quase todos os setores da economia”, explica o economista.

“Para ter um poder de compra maior, no cenário atual, é preciso focar em novas fontes de renda. A inflação faz com que o poder de compra seja reduzido, então, para equilibrar, será preciso complementar com rendas extras ou novas fontes de renda fixas até que os preços se estabilizem ou baixem novamente, mas o cenário não é otimista”, sugeriu.

Poder de compra despencou

Um levantamento inédito, em âmbito nacional, realizado pela proScore, bureau de crédito e authority de Score, baseado no seu índice autoral DPC (que dimensiona o Poder de Compra do Consumidor) demonstra que embora tenha apresentado uma sutil melhora de 76%, no primeiro trimestre de 2022, frente aos 86% de 2021, quando atingiu o menor percentual de liquidez para o período, nos últimos quatro anos, o poder de compra dos brasileiros segue baixo.

Levantamento aponta que poder de consumo ainda está baixo (Divulgação)

Da amostra trabalhada, a proScore apurou que a diferença para as pessoas ainda com capacidade de consumo para assumir novos compromissos financeiros foi concentrada em 3 faixas que demonstram que quanto maior seu percentual, maior a capacidade de adquirir bens e serviços de maior valor. O resultado foi o seguinte: Faixa 1 de 10% (5,3%), Faixa 2 de 20% (8,8%) e Faixa 3 de 30% (9,9%). 

Diante desta constatação, justamente no início da semana do consumidor, quando naturalmente ocorre uma chuva de ações de marketing e promoções que buscam estimular as vendas, segundo Mellissa Penteado, CEO da proScore, nem toda essa quantidade e diversidade de campanhas conseguirá animar os consumidores brasileiros. 

“Esse baixo percentual significa que ainda temos um longo caminho a percorrer frente a todos os esforços da retomada econômica. Muitas lacunas monetárias como a falta de emprego e geração de renda e o aumento dos preços em diversos segmentos, ao longo desses últimos 24 meses, infelizmente seguirão penalizando a circulação do dinheiro em si e comprometendo o poder de compra da população”, analisa a especialista. 

Aumento do grau de endividamento 

Outro índice apurado no estudo é o fator de endividamento potencial relativo que demonstrou uma tendência crescente de concentração do ticket médio de dívidas frente à geração de renda recorrente. Entre 2019 e 2020, momento pré e início da pandemia, tal fator indicava leve estabilidade, no entanto, para 2021 houve um salto significativo de 28%, reforçado no levantamento de 2022. 

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