Especialistas explicam causas das fortes chuvas em Manaus durante o ‘verão amazônico’
Por: Ana Pastana
14 de outubro de 2025
MANAUS (AM) – O aumento das chuvas em Manaus durante o chamado “verão amazônico”, período tradicionalmente mais seco entre junho e novembro, está ligado à atuação de sistemas atmosféricos de grande escala, como ondas de instabilidade e zonas de convergência. Especialistas consultados pela CENARIUM explicam que a maior umidade na região favorece a formação de nuvens e intensifica as precipitações, fenômeno previsto nas análises meteorológicas da Defesa Civil do Amazonas.
Após dois anos de seca extrema, o órgão considera natural que a população ainda estranhe o retorno das chuvas mais intensas nesse período, e destaca, ainda, que a estação não é seca, e sim uma fase de menor incidência de chuvas.

“Do ponto de vista climatológico, não corresponde a uma estação seca, mas a uma estação menos chuvosa. Situações de tempo excessivamente seco, sim, configuram cenários fora da normalidade”, explicou a pasta à CENARIUM.
Segundo o aviso meteorológico do órgão, na tarde desta terça-feira, 14, a previsão é de chuva intensa, com nível alto para Manaus. O radar meteorológico da capital amazonense indica a presença de nuvens de chuva sobre a Região Metropolitana e municípios adjacentes, com possibilidade de pancadas de intensidade moderada a forte, principalmente na Zona Sul da capital.

A previsão indica, também, que há chance de descargas elétricas e rajadas de vento, incluindo o risco de alagamentos, enxurrada e inundações. No final da manhã desta terça, a forte chuva invadiu becos e causou alagamentos na Comunidade Portelinha, no bairro São José 2, Zona Leste da cidade.
Imagens gravadas por moradores mostram a força da enxurrada, que arrastou lixo e cercou casas localizadas nos becos da comunidade. Em alguns registros, é possível ver moradores tentando conter a entrada da água nas residências, enquanto um homem, com a água até os joelhos, tenta retirar uma motocicleta parcialmente submersa.
Municípios como Careiro da Várzea, Careiro Castanho, Nova Olinda do Norte, Manacapuru, Tapauá, Iranduba, Manaquiri, Borba, Caapiranga, Anamã e Novo Airão também são atingidos por tempestades fortes ou moderadas.
Segundo o prognóstico trimestral do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), os acumulados significativos de precipitação estão dentro da normalidade para este período do ano.
“Embora o período atual seja conhecido como “verão amazônico”, marcado pela redução do volume de chuvas, episódios de maior intensidade podem ocorrer em razão da atuação de sistemas atmosféricos de grande escala, como ondas de instabilidade e a maior disponibilidade de umidade. Esses episódios, ainda que menos frequentes, fazem parte da variabilidade climática da região“, disse a Defesa Civil do Estado.
De acordo com os órgãos meteorológicos, situações de tempo excessivamente seco é que configuram cenários fora da normalidade. Já episódios de chuvas mais intensas podem ocorrer devido à influência de sistemas atmosféricos de grande escala, como ondas de instabilidade, somados à maior disponibilidade de umidade na região. Esses fenômenos, ainda que menos frequentes, fazem parte da variabilidade climática amazônica.
Especialista explica
A meteorologista Andrea Mendes afirma que, apesar de o cenário estar dentro da normalidade, o volume de chuva em setembro ficou abaixo do esperado. Segundo ela, ao longo do mês foram registrados 70,1 milímetros, o que representa cerca de 89% do previsto para o período.
“Setembro é considerado um mês menos chuvoso na Região Norte, porque, diferente das demais regiões do País, aqui temos duas estações bem marcadas: o período chuvoso e o menos chuvoso. O menos chuvoso não significa ausência de chuva, mas sim uma redução no volume. A quadra mais chuvosa começa geralmente em outubro e segue até maio ou junho. De junho até setembro ou início de outubro, há uma tendência de diminuição das chuvas. Tanto é que, ao observar a climatologia de Manaus, é possível perceber essa sazonalidade”, explicou a especialista.
Para os próximos períodos, a previsão indica pancadas pontuais de chuva intercaladas por dias de tempo firme, com totais acumulados entre 10 e 30 milímetros em sete dias.
“A tendência, a partir de novembro, é o retorno das chuvas mais constantes, com o início do período mais chuvoso”, acrescentou. “Até lá, é esperado que as precipitações ocorram de forma isolada, após dois ou três dias de tempo seco — um comportamento típico da região. As temperaturas variam entre 22°C e 23°C pela manhã, chegando aos 34°C ou até 35°C em alguns momentos”, disse.
Seca
De acordo com os dados da Defesa Civil do Estado, todas as calhas dos rios estão em processo de vazante, com destaque para a Calha do Madeira, onde a redução do nível é mais acentuada e exige maior atenção. A previsão é de uma seca leve a moderada, com impacto estimado entre 20 e 30 municípios, afetando diretamente cerca de 120 mil famílias e 480 mil pessoas em todo o Estado.