Especialistas recomendam medidas nutricionais para enfrentamento da estiagem


04 de julho de 2024
Especialistas recomendam medidas nutricionais para enfrentamento da estiagem
Estiagem no Amazonas (Reprodução/Ricardo Oliveira)
Carol Veras – Da Cenarium

MANAUS (AM) – Com a aproximação da temporada de estiagem no Amazonas, especialistas alertam para o aumento dos casos de desnutrição na região. A seca prolongada ameaça a produção agrícola local, comprometendo o acesso a alimentos básicos e exacerbando a vulnerabilidade das comunidades ribeirinhas e indígenas.

A falta de chuvas impacta a pesca e a agricultura familiar, fontes primordiais de sustento para milhares de famílias. A CENARIUM coletou informações com nutricionistas sobre o que pode ser feito para frear a desnutrição da população no período de emergência.

“A população ribeirinha tem enfrentado a estiagem há alguns anos e desenvolveu estratégias de sobrevivência, como a estocagem de alimentos, incluindo a salga do peixe. Durante a estiagem, consomem alimentos não perecíveis e ultra processados, apesar de não serem ideais para a saúde, para garantir a sobrevivência” relata nutricionista Rosilany Acosta à CENARIUM.

Nutricionista Rosilany Costa (Reprodução/Arquivo Pessoal)

De acordo com ela, é preciso tomar cuidado com o consumo de alimentos industrializados, porque podem baixar a imunidade dos ribeirinhos, que geralmente consomem alimentos orgânicos. A mudança na alimentação torna-os mais vulneráveis a doenças. “A hidratação é essencial, pois fortalece a imunidade, melhora as articulações, evita prisão de ventre, remove toxinas e protege os órgãos vitais”.

A profissional conclui que “a nutrição tem um papel crucial nesse período, orientando sobre possíveis malefícios à saúde e a necessidade de reverter problemas o quanto antes”. Em entrevista à EBC, a Dra. Aline Ferreira recomendou o consumo de alimentos com alto teor de água, como abacaxi, melancia e melão. Ela também aconselhou evitar alimentos embutidos, como bacalhau, sardinhas, atum enlatado, carnes secas e o consumo excessivo de manteiga, pois “prejudicam a hidratação”.

De acordo com o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) As populações mais vulneráveis à seca incluem indígenas, ribeirinhos, quilombolas e moradores de áreas periféricas, que já enfrentam situações de vulnerabilidade. Estas comunidades sofrem com a perda de terras e recursos naturais e têm dificuldades de acesso a serviços básicos como saneamento, saúde e educação. Debora Nandja, chefe do escritório do UNICEF em Manaus, enfatiza que crianças e adolescentes são os mais afetados, e é necessário um esforço conjunto entre governo, sociedade civil e setor privado para responder de maneira eficaz às emergências.

Para enfrentar esses desafios, o UNICEF desenvolveu uma estratégia de ação integrada para apoiar crianças, adolescentes e suas famílias durante a seca. As ações são coordenadas com a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), o Governo do Amazonas, prefeituras e organizações indígenas, com financiamento da União Europeia. A estratégia inclui melhorar o acesso à água tratada nas comunidades mais remotas e fortalecer a capacidade de resposta local às demandas de saúde, saneamento e higiene.

De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), 24.462 pessoas contraíram doenças diarreicas em outubro de 2023, comparado a 19.155 no mesmo período de 2022. As comunidades, afetadas pela seca, muitas vezes recorrem ao consumo de água não tratada e de poços improvisados.

Previsão

O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), realizou em maio uma coletiva de imprensa para divulgar as medidas que o Executivo estadual deve tomar a respeito do período de seca previsto para a segunda metade de 2024. De acordo com o Painel do Clima, site de monitoramento do Estado, a previsão é que o nível dos rios atinja marcações tão baixas quanto o ano passado, o que resultou na maior estiagem dos últimos 100 anos.

Com o objetivo de mitigar os impactos, o governo anunciou a emissão de licenças ambientais junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para a dragagem em quatro trechos de rios do Amazonas. Com a regularização, o processo deve ser iniciado antes do período crítico. “Estive junto ao governo federal expondo a preocupação que nós temos com relação à estiagem deste ano, que deve ser muito severa”, afirmou Lima.

O trabalho de dragagem será feito pelo governo federal, por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), com previsão de início imediato a partir da emissão das licenças. Desde o ano passado, o rio ainda não atingiu seu nível de normalidade. Este ano, a previsão é que a seca impacte mais de 150 mil famílias.

“Nunca foi necessário, em 121 anos, fazer dragagem. Este ano nós nos antecipamos, porque tudo leva à convicção de que teremos uma outra estiagem tão forte quanto ao ano passado. A fase que está agora é que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Denit) pediu a licença do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para poder fazer o serviço”, afirmou o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), Serafim Corrêa, em declaração à CENARIUM.

Leia também: ‘Labclim’: pesquisador da UEA alerta para intensidade da seca no Amazonas neste ano
Editado por Jadson Lima

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