Estados da Amazônia lideram ranking de focos de queimadas: ‘fumaça é ameaça à saúde’, diz especialista

No início da semana, uma nuvem de fumaça foi percebida sobre cidade e chegou a encobrir o alto dos prédios e pontos turísticos, como a Ponte Phelippe Daou, sob o rio Negro. (Revista Cenarium/ Ricardo Oliveira)

Márcia Guimarães – Da Revista Cenarium

MANAUS – Mato Grosso, Pará e Amazonas, maiores Estados da Amazônia Legal, ocupam os três primeiros lugares no ranking dos focos de queimadas acumulados em 2020, de acordo com relatórios divulgados no site do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe). Como resultado dos incêndios florestais, além de grandes áreas devastadas, estão as nuvens de fumaça que se formam sobre as cidades da região e que, segundo especialistas, representam uma ameaça à saúde da população.

O primeiro colocado, Mato Grosso, acumula 27,4 mil focos de 1º de janeiro a 10 de setembro deste ano, de acordo com o Inpe. Em segundo lugar está o Pará, com 18 mil focos acumulados e, em terceiro, está o Amazonas, com 13 mil focos.

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Mapa da região amazônica concentra boa parte dos focos de incêndios (Reprodução/Inpe)

O reflexo do grande número de incêndios florestais acaba sendo sentido nas grandes cidades da Amazônia, como vem ocorrendo em Cuiabá, capital do Mato Grosso, que em 31 de agosto teve uma manhã bastante cinzenta ao ser encoberta por uma densa nuvem de fumaça vinda de queimadas na Chapada dos Guimarães, conforme informado pelo Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Cimam-MT) à REVISTA CENARIUM naquele dia. A cidade tem vivido episódios recorrentes como esse do final de agosto.

Em Manaus, capital do Amazonas, a fumaça também tem deixado o horizonte cinzento nas últimas semanas. No início da semana, uma nuvem de fumaça foi percebida sobre a cidade e chegou a encobrir o alto dos prédios e pontos turísticos, como a Ponte Phelippe Daou sobre o rio Negro. A fumaça só foi amenizada no final da semana, com as chuvas desta quinta-feira, 10, e sexta-feira, 11, que contribuíram para ‘limpar’ o céu.

A pneumologista Joycenea Matsuda afirma que “a fumaça de queimadas é uma ameaça à saúde da população”. De acordo com ela, combinados a fatores climáticos deste período do ano, elementos tóxicos concentrados na fumaça podem provocar problemas respiratórios ou agravar sintomas para quem tem doenças crônicas como a asma.

“Estamos no verão Amazônico, com umidade relativa do ar baixa e clima seco, o que, adicionado às nuvens de fumaça provenientes das queimadas contendo diversos elementos tóxicos, acaba afetando a saúde humana”, afirma a médica.

O uso de máscaras em locais afetados pela fumaça ou áreas externas das residências também ajuda a amenizar os sintomas, diz a especialista. (Revista Cenarium/Ricardo Oliveira)

De acordo com Joycenea, alguns dos sintomas mais comuns são ardência na garganta, tosse seca, cansaço, falta de ar, dificuldade para respirar, dor de cabeça, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos, rinite e até pneumonia.

Cuidados

Para amenizar os efeitos da fumaça e do ar mais seco, a pneumologista recomenda manter ambientes da casa umidificados, com o uso de vaporizadores, bacias com água e toalhas molhadas. O uso de máscaras em locais afetados pela fumaça ou áreas externas das residências também ajuda a amenizar os sintomas, diz a especialista.

Joycenea alerta que a população que merece mais atenção são as crianças menores de 5 anos e idosos maiores de 65 anos. Segundo a médica, neste período do ano, costuma haver aumento na procura por atendimento de saúde para tratar problemas respiratórios.

“Sim, inclusive nos serviços de emergências e consultórios de pediatras. Pacientes asmáticos sofrem nesse período. Portanto, este ano é considerado atípico, por conta da pandemia. As pessoas têm medo de sair de casa e ir ao serviço de saúde com medo da Covid-19”, comenta a pneumologista, que trabalha na Fiocruz e na Policlínica Cardoso Fontes.

A pneumologista Joycenea Matsuda afirma que “a fumaça de queimadas é uma ameaça à saúde da população”. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Atendimentos médicos

A Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam) informou que não realiza uma estratificação de doenças respiratórias decorrentes de clima seco ou fumaça. Mas informou que, de acordo com o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), em 2019 foram realizados 2.243 procedimentos para tratamentos de doenças do sistema respiratório. Já neste ano, no primeiro semestre, foram realizados 5.964 procedimentos, incluindo tratamento de infecção pelo coronavírus.

Malefícios para a saúde

De acordo com informações do Sistema de Informações Ambientais Integrado à Saúde Ambiental (Sisam), também disponível no site do Inpe, “a exposição ao material particulado fino/fumaça (PM2.5) decorrente das queimadas além de prejudicar o bem-estar público ocasionando restrições na visibilidade, agrava a qualidade do ar nas áreas afetadas e causa efeitos graves na saúde como doenças do aparelho respiratório (falta de ar e asma), cardiovascular (isquemia, arritmia e infarto do miocárdio), além de uma variedade de outros problemas de saúde significativos, principalmente em crianças e idosos”.

Regulamentação

Ainda segundo informações do Sisam, a “Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o limite aceitável da concentração média diária (24 horas) de PM2.5 não pode ultrapassar os níveis de exposição de 25 mg/m3”.

No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), pela Resolução N°491 de 19/11/2018, estabeleceu padrões de qualidade do ar, de modo que, concentrações de poluentes atmosféricos que ultrapassarem os limites poderão afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, bem como ocasionar danos à flora e à fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral.

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