Governos estaduais decidem recorrer da liminar de André Mendonça sobre ICMS do diesel

Governo Bolsonaro entrou no STF para desfazer acordo do Comsefaz que 'driblou' alíquota única nacional do imposto (Paulo Gueret/Agência O Globo)
Com informações do InfoGlobo

BRASÍLIA – Os governos estaduais decidiram neste sábado, 14, que vão recorrer da liminar concedida na sexta-feira, 13, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça,  sobre o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do diesel.

O magistrado atendeu ao pedido do governo federal suspendendo trechos do convênio firmado pelos Estados, em março, que regulamentava a nova lei sobre a cobrança do imposto sobre o combustível.

Em reunião virtual na manhã deste sábado, com a participação de representantes de todos os Estados, o Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz) decidiu os próximos passos da disputa, apesar de a liminar de Mendonça não ter impactos imeditados — o acordo que havia sido feito só teria efeitos a partir de julho.

PUBLICIDADE

“Fizemos uma avaliação técnico-jurídica. Nessa avaliação identificamos que o Comitê Nacional de Secretários, apesar de respeitar toda decisão judicial e cumprir decisões judiciais, mesmo assim, a gente vai recorrer. O Comsefaz vai recorrer, através das suas procuradorias, por entender que todos os requisitos da Lei Complementar 192 foram cumpridos”, disse o presidente do Comsefaz e secretário da Fazenda de Pernambuco, Décio Padilha, neste sábado, após a decisão. 

Ele citou que os Estados adotaram a incidência do imposto, apenas uma vez, chamada monofasia, e a fixação de uma alíquota única para o diesel de R$ 1,006 por litro.

Segundo Padilha, o documento, que vai embasar o recurso, ficará pronto na segunda-feira pela manhã e será encaminhado ao Colégio Nacional de Procuradores, que vai recorrer em nome de todos os Estados. 

‘ICMS não tem nada a ver’

“Também avaliamos que, mesmo o ICMS estando congelado, desde novembro, de janeiro a maio deste ano a Petrobras aumentou o preço do diesel em 47%. Isso mostra que o ICMS não tem nada a ver com essa conjuntura desfavorável para aumentos constantes dos combustíveis, que estão pressionando a inflação. O motivo disso é a cotação internacional do petróleo, que é um problema conjuntural da guerra com a Ucrânia, e também o câmbio elevado”, observou Padilha. 

Ele destacou que, com o congelamento do ICMS, desde novembro, os Estados vão deixar de arrecadar até o fim deste ano R$ 37,1 bilhões.

Nos bastidores, ação é vista como problema para governadores

Os secretários de Fazenda comentam, nos bastidores, que a decisão de Mendonça acaba criando um problema político para os governadores. Por isso, eles decidiram recorrer imediatamente. A explicação é que a liminar derruba a possibilidade de desconto no imposto, por cada ente, o que poderá resultar em aumento da carga tributária. 

O convênio cria o fator de equalização para a adoção de alíquota única de R$ 1,006 pelo litro do diesel. Esse valor foi fixado pelo Comsefaz para manter o nível atual de arrecadação dos Estados e tem base na alíquota mais alta, que é do Acre.

Sem esse instrumento do desconto, o preço subiria para R$ 1,15, aproximadamente, considerando a média nacional, explicou um interlocutor.   

Padilha, que se reuniu na quinta-feira, 12, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para prestar esclarecimentos sobre o preço dos combustíveis, defendeu a aprovação de um projeto (1472) que já passou pela Casa e está na Câmara dos Deputados.

A proposta cria uma espécie de fundo para minimizar a alta dos preços dos combustíveis para os consumidores. O governo federal não concorda.

Entenda o caso

Nesta sexta-feira, em uma vitória para o presidente Jair Bolsonaro (PL), em sua disputa com os Estados em torno da taxação do diesel, o ministro do STF deu uma liminar atendendo ao pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) para suspender trechos do acordo do Comsefaz que permitiu os descontos de cada Estado.

Na decisão, Mendonça diz que é preciso construir uma solução efetiva para o tema, e por isso a suspensão é necessária. Ele deu um prazo de cinco dias para que Câmara, Senado e o Comsefaz se manifestem sobre a questão.

Desde o ano passado, Bolsonaro culpa os governadores pelo aumento do preço do combustível nas bombas. O preço ao consumidor é afetado por duas variáveis-chave: cotação do petróleo e do dólar, os dois principais parâmetros na política de preços da Petrobras, além de margem do distribuidor e impostos.

Diante das cobranças públicas, os governadores decidiram, em novembro, congelar a alíquota do ICMS. Mas, com a alta do petróleo, após o início da guerra da Ucrânia, isso não foi o suficiente para frear os preços ao consumidor.

O governo reagiu, aprovando a toque de caixa, em março, uma lei, sancionada por Bolsonaro, em questão de horas, que zerava os impostos federais do diesel e obrigava os Estados a adotarem alíquota única sobre o combustível. Os Estados consideraram a lei inconstitucional e encontraram uma brecha para manter a cobrança do imposto exatamente como vinha sendo feita, com receio de que a lei levasse a perdas na arrecadação.

Eles definiram uma alíquota única, mas no valor de R$ 1,006, um patamar superior ao que a maioria cobrava antes. E, no âmbito do Comsefaz, decidiram que cada Estado poderia aplicar “descontos” sobre esse teto. Isso permitiu que cada um aplicasse o valor que já vinha adotando e não perdesse recursos no caixa.

Os Estados argumentam que já fizeram um esforço pela manutenção dos preços, pois calculam ter aberto mão de R$ 37,1 bilhões em arrecadação, desde que congelaram o valor do ICMS em novembro. E apontam que o “sacrifício” foi maior do que o feito pelo governo federal, que deixou de arrecadar R$ 20 bilhões, este ano, ao zerar o PIS/Cofins do diesel.

Especialistas, porém, ponderam que a mudança não garante que o valor cobrado na bomba cairá. Na sexta-feira, de acordo com a pesquisa semanal de preços da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio do combustível subiu pela quarta semana, chegando a R$ 6,847, patamar recorde. No ano, acumula alta de 24%.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.