Estados na Amazônia lideram homicídios de mulheres no Brasil
Por: Marcela Leiros
13 de maio de 2025
MANAUS (AM) – Estados da Amazônia concentraram as maiores taxas de homicídios de mulheres em 2023, segundo dados do Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Roraima liderou o ranking, com uma taxa de 10,4 mortes a cada 100 mil habitantes, quase o triplo da média nacional, que foi de 3,5. Amazonas, Bahia e Rondônia também registraram índices elevados, todos com 5,9 mortes por 100 mil mulheres. Mato Grosso também figurou no ranking com 5,7, mesma taxa de Pernambuco.
A pesquisadora sênior do fórum, Manoela Miklos, apontou que cada localidade tem sua especificidade. No caso de Roraima, por exemplo, foi considerado a questão do garimpo ilegal. “Fizemos com Roraima um estudo de hipóteses que envolve a presença do garimpo, então é um trabalho que precisa ser feito de olhar com lupa para cada uma dessas unidades e entender quais fenômenos específicos fazem essas taxas se manterem altas”, disse Manoela.
Veja o ranking:

Em contraste, Estados do Sudeste e Sul apresentaram os menores índices de homicídios de mulheres. São Paulo registrou a menor taxa do País, com 1,6 mortes por 100 mil habitantes, seguido por Minas Gerais (2,6) e o Distrito Federal (2,7).
A advogada Amanda Pinheiro, presidente do Instituto As Manas, observa que a violência contra as mulheres é resultado de uma cultura que as objetifica. “A cultura patriarcal que enraiza a educação no machismo faz com que mulheres sejam objetificadas, vistas como propriedade de seus companheiros, que não aceitam que elas sigam suas vidas após o término das relações. Nossa população é de origem miscigenada entre indígenas, povos europeus e nordestinos, o que demonstra que o machismo e a misoginia são uma violação universal de direitos humanos, sendo a violência contra a mulher ainda ‘tolerável e justificável’ pela sociedade”, declarou.
Os dados do Atlas da Violência têm como base o Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde. Por isso, há diferenças entre os números usados no estudo e as estatísticas divulgadas por secretarias estaduais de Segurança Pública e pesquisas feitas a partir de dados criminais. Já os microdados de 2023 do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, também do Ministério da Saúde e usados para as informações sobre agressões, são preliminares.
Nacional
No contexto nacional, os registros de violência contra mulheres no Brasil tiveram alta em 2023, enquanto os homicídios estagnaram, apesar de uma redução geral nos assassinatos no País. Foram 275 mil notificações de agressão, ante 221 mil registros em 2022.
Já a taxa de homicídios ficou em 3,5 mortes por 100 mil habitantes nos dois anos. Números de 2023 mostram 3,9 mil homicídios registrados, com alta de 2,5% ante 2022, que teve 3,8 mil vítimas.
Seis de cada dez casos de violência — 177.086 no total — ocorreram em casa. Em seguida, aparecem registros de violência comunitária (59.611) — aquela praticada por pessoas sem vínculo familiar, como vizinhos, colegas ou desconhecidos—, violência mista (34.653) e do tipo institucional (3.925), quando há algum tipo de hierarquia envolvida.
Todas essas categorias registraram aumento na comparação entre 2022 e 2023.
Tipos de violência
A violência mais frequente em 2023 foi a física (37,4%), seguida pela múltipla (30,3%). A negligência representou 12% dos casos, e a psicológica e a sexual tiveram proporção, respectivamente, de 10,1% e 9,5% dos casos.
Ao longo da trajetória de vida, a negligência é a principal forma de violência contra mulheres de 0 a 9 anos de idade, com 49,5% dos casos. A sexual se torna a mais frequente na faixa de 10 a 14 anos (45,7%). Dos 20 aos 69 anos, é a física a que mais aparece nos registros. A negligência, então, volta a ser a predominante (33,3%) a partir dos 70 anos.
Raça
No recorte por raça, mulheres negras são as vítimas mais frequentes de homicídio, aponta o Atlas, com 2,6 mil mortes, ou 68,2% dos casos. “Os números evidenciam o trágico encontro entre a cultura patriarcal e o racismo estrutural, ambos fortemente enraizados no Brasil”, afirma a publicação.
A variação entre as unidades da federação também indica a necessidade de políticas públicas focadas. É o caso de Roraima, por exemplo, que tem 10,4 mortes de mulheres por 100 mil habitantes, muito acima da média nacional, de 3,5 mortes.
“Fizemos com Roraima um estudo de hipóteses que envolve a presença do garimpo, então é um trabalho que precisa ser feito de olhar com lupa para cada uma dessas unidades e entender quais fenômenos específicos fazem essas taxas se manterem altas”, diz Manoela.