‘Estão de olho na segunda maior reserva de água doce do mundo’, diz Marcos Terena à REVISTA CENARIUM

Hospedado em Parintins, Marcos Terena deixou mensagem dedicada a consciência da proteção ambiental. (Reprodução/Yapuanna Rocha)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Uma das maiores lideranças indígenas do Brasil, Marcos Terena, esteve em Parintins (distante 369 quilômetros de Manaus) para participar do seminário avaliativo da Associação Folclórica Boi Garantido (AFBBG) no último final de semana. Por tocar na questão indígena, o festival de Parintins tem singularidade no mapa cultural brasileiro.

Conhecido por sua articulação, Terena recebeu convite do atual presidente do Garantido, Antônio Andrade, para palestrar no seminário cultural. À reportagem da REVISTA CENARIUM, ele conversou sobre temas sensíveis às comunidades tradicionais como políticas ambientais, demarcações, eleições americanas e diálogos com o homem branco.

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Terena à reportagem da REVISTA CENARIUM: “Aparelharam a Funai com os cabeças do agronegócio” (Reprodução/Yapuanna Rocha)

As primeiras observações são no contexto das queimadas que assolaram o Pantanal e as insinuações de Brasília de que seriam os indígenas a atear fogo na região. “Nós temos o costume de manejar o fogo sim, o fogo é sagrado para nós, mas não o usamos de forma criminosa”, rebateu o líder indígena que é originário das terras do Pantanal.

Sem diálogo

Por insinuações dessa natureza, que Marcos Terena acredita ser impossível dialogar com o governo Bolsonaro e a Fundação Nacional do Índio (Funai). “Não é possível conversar com o Ricardo Salles (ministro do Meio Ambiente) e muito menos com o líder que ele reverencia”, disparou. “Aparelharam a Funai com os cabeças do agronegócio”, criticou Terena.

Outro ponto delicado exposto pelo representante do povo tradicional é algo revelador. “O aquífero Guarani está debaixo das terras indígenas a serem demarcadas e é claro que grandes interesses estão de olho na segunda maior reserva de água doce do mundo”, revelou. “O brasileiro não percebe essas manobras”, declarou Marcos.

Segunda maior reserva de água doce subterrânea, o aquífero Guarani está sob terras indígenas a serem demarcadas no Brasil (Reprodução/Internet)

“Por isso que o ‘antiministro’ do meio ambiente fez aquele comentário: ‘vamos aproveitar que todos estão voltados para a pandemia e passar a boiada’”, relembrou Marcos Terena, sobre a fatídica reunião em 22 de abril deste ano, onde o ministro Ricardo Salles fez o comentário que deixou perplexo ambientalistas e a opinião pública mundial.

Biden e festival de Parintins

Para completar, Marcos Terena lançou um olhar sobre o contexto mundial a partir das eleições americanas. “Veja bem, não consideramos o Joe Biden um santo, mas diante da perspectiva de uma reeleição de Donald Trump, que é seguramente uma fonte de inspiração para extrema-direita, fizemos orações para o Biden ganhar”, ponderou.

Questionado sobre o que entendia do festival de Parintins, ele explicou. “Pelo que pesquisei é uma forma de homenagear as primeiras nações a partir do olhar do povo daqui, e isso é muito válido”, declarou Terena. “Por isso vim aqui para ajudar a criar ainda mais consciência em defesa da Amazônia e do Pantanal”, pontuou.

Indagado pela reportagem se virá ou não para a próxima edição do festival folclórico no interior do Amazonas que aliás, segundo ele ainda não assistiu, Marcos Terena ponderou. “Se não tiver pandemia, eu virei, caso contrário não”, adiantou o líder. “Temos que respeitar os códigos da natureza”, finalizou Terena.    

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