Estudante quilombola denuncia ataques racistas na UFPA


Por: Fabyo Cruz

12 de dezembro de 2024
Estudante quilombola denuncia ataques racistas na UFPA
Detalhe de uma mulher em silhueta (Joédson Alves/Agência Brasil)

BELÉM (PA) – Uma estudante quilombola de 37 anos, do curso de Letras da Universidade Federal do Pará (UFPA), polo de Belém, denunciou ter sido vítima de discriminação racial por parte de quatro colegas de curso. O caso foi registrado na Delegacia de Combate aos Crimes Discriminatórios e Homofóbicos (DCCDH), vinculada à Polícia Civil do Pará (PC-PA), e deu início a um inquérito policial com base na Lei do Racismo (Lei 7.716/1989).

Conforme relatado no Boletim de Ocorrência (BO), a vítima disse que, no último dia 10 de dezembro, por volta das 14h, recebeu via WhatsApp prints de mensagens que haviam sido postadas no status de um dos estudantes denunciados. Entre os comentários registrados, constavam frases como: “Tem que discriminar mesmo”, “Essa moça está esvaziando pauta”, e “Ela tem que lembrar que, antes de ser quilombola, ela é um ser humano e bem vagabunda”. Em uma das mensagens, a palavra “quilombola” foi riscada por um dos autores.

A situação teria sido motivada pela orientação de uma professora para que a estudante fosse incluída em um grupo de trabalho acadêmico formado pelos denunciados, o que, segundo o relato, gerou insatisfação entre eles. A vítima, pertencente a uma comunidade quilombola no município do Acará, a 66 quilômetros de Belém, destacou que desde sua entrada na UFPA se sente excluída por ser negra e quilombola, sendo frequentemente ignorada em trabalhos em grupo e outras atividades acadêmicas.

Pórtico principal da UFPA (Alexandre Moraes)

A estudante foi acolhida pela Superintendência de Assistência Estudantil (Saest) da UFPA, onde recebeu apoio psicológico. Ainda assim, decidiu prosseguir criminalmente contra os envolvidos, além de buscar reparação por danos morais.

Casos corriqueiros

À CENARIUM, o advogado da estudante, Márcio Nascimento, afirmou que o inquérito policial já foi instaurado. Segundo ele, o caso será tratado tanto na esfera penal quanto civil. “Vamos entrar com uma ação de danos morais, porque os prints que ela obteve mostram ataques racistas diretos, o que não pode ser tolerado”, destacou.

Nascimento também revelou a intenção de acionar a universidade para que medidas administrativas sejam tomadas contra os estudantes envolvidos. “A UFPA precisa agir de forma mais firme. Casos como este têm se tornado corriqueiros. Já houve relatos de racismo envolvendo professores e alunos em outros cursos”, alertou o advogado.

DCE exige medidas

Em apoio à vítima, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPA divulgou uma nota oficial de repúdio ao ato de racismo. No comunicado, a entidade expressa indignação e reforça a importância da luta contra o preconceito no ambiente acadêmico. Leia na íntegra a seguir.

“O DCE da UFPA vem expressar sua total indignação e repúdio ao ato de racismo sofrido por uma aluna quilombola do curso de Letras. Atitudes como essa são inaceitáveis e mostram o quanto ainda precisamos lutar para acabar com o preconceito dentro e fora da universidade.

O racismo, infelizmente, continua tentando barrar o acesso e permanência de pessoas negras em espaços que, historicamente, lhes foram negados. Mas deixamos claro: não vamos tolerar isso! A universidade é um espaço de todos e todas, e cabe a nós, enquanto comunidade acadêmica, lutar para que cada estudante se sinta respeitado e acolhido.

Nos solidarizamos com a estudante e reforçamos que estaremos ao lado dela e de todos que enfrentam essa luta diariamente. Reiteramos o nosso compromisso na construção de uma universidade com políticas antirracistas e exigimos que as medidas necessárias sejam tomadas para que os responsáveis sejam punidos.

Racismo não é opinião, é crime! Racistas não ficarão impunes e não passarão! Continuaremos na luta por uma UFPA antirracista”.

O DCE também destacou a necessidade de ações concretas da UFPA para combater o racismo dentro da instituição e garantir a segurança e o acolhimento de todos os estudantes, especialmente dos mais vulneráveis.

O que diz a UFPA

A CENARIUM solicitou um posicionamento da UFPA e aguarda retorno.

Leia mais: Quilombo do Abacatal luta por direitos e políticas públicas no Pará
Editado por Adrisa De Góes

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