Estudo afirma que agronegócio já avançou sobre 60% de terra indígena no oeste do Paraná
26 de abril de 2023
O avanço de atividades como o cultivo de soja e de milho seria tamanho que, em alguns casos, há apenas dois metros de distância entre a área plantada e as residências dos indígenas (Reprodução/Isadora Stentzler)
Da Revista Cenarium*
SÃO PAULO – Um estudo realizado pela Comissão Guarani Yvyrupa, que reúne comunidades Guarani de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, afirma que 60% de uma terra reivindicada por indígenas, no oeste do Paraná, já está dominada pelo agronegócio.
O local abriga comunidades Avá-Guarani, que, segundo o levantamento, atualmente, dispõe de apenas 1,13% da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá. Com 24 mil hectares situados entre os municípios paranaenses de Guaíra, Terra Roxa e Altônia, o território chegou a ser reconhecido, em 2018, pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), mas foi anulado sob o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Casa localizada na Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, no oeste do Paraná, a poucos metros de distância de plantação do agronegócio (Divulgação)
O avanço de atividades como o cultivo de soja e de milho seria tamanho que, em alguns casos, há apenas dois metros de distância entre a área plantada e as residências dos indígenas.
A restrição territorial imposta às comunidades estaria impactando, diretamente, o exercício de atividades tradicionais e de subsistência dos povos originários que habitam o local. Em alguns casos, famílias inteiras passaram a depender da coleta de restos de alimentos descartados no lixão municipal de Guaíra.
“São frequentes os momentos em que famílias Avá-Guarani passam fome ou estão na iminência de situações de fome”, diz o estudo da Comissão Guarani Yvyrupa. “Importa perguntar, afinal, por que há famílias passando fome em uma região onde predomina o moderno agronegócio, este que promete alimentar o mundo”, segue.
A Comissão Guarani Yvyrupa ainda manifesta preocupação em relação aos efeitos do uso intensivo de agrotóxicos, que estaria afetando o solo do entorno e, até mesmo, matando os animais criados pelos indígenas. “Na época em que os venenos são aspergidos, é recorrente encontrarem animais mortos, sobretudo, as galinhas”, diz o estudo.
Outro cultivo que estaria inspirando preocupação é o de eucalipto. Atualmente, a monocultura estaria ocupando 680 hectares da terra indígena — um avanço considerado expressivo em relação a 2010, quando esse tipo de plantação ainda não havia adentrado os limites do território de forma significativa.
A Comissão Guarani Yvyrupa ainda questiona o fato de o Estado brasileiro garantir ao setor ruralista diversos tipos de proteção, seja por meio de crédito rural ou de incentivos fiscais, por exemplo, mas não prover o mesmo tipo de benefício para os indígenas.
“Não é demais lembrar que, além de extremamente vulneráveis às alterações climáticas severas, toda a responsabilidade pela perda de seus plantios, frente a estes efeitos, recai, exclusivamente, sobre os próprios Avá-Guarani, que vêm perdendo sua biodiversidade agrícola sem qualquer proteção por parte do Estado”, afirma o estudo.
A Comissão Guarani Yvyrupa tem cobrado celeridade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em processos de demarcação de terras indígenas localizadas no Sul e Sudeste do País.
Segundo a entidade, mais de 70% dos 166 territórios do povo Guarani ainda não foram reconhecidos ou estão em processo estagnado de demarcação, o que faria do grupo o menos contemplado até então.
O estudo completo sobre a situação das comunidades Avá-Guarani, no oeste do Paraná, será lançado na quinta-feira, 27, durante o Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília.
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