Estudo avalia modelos de negócios viáveis para restauração na Amazônia
Por: Ana Cláudia Leocádio
29 de novembro de 2024
BRASÍLIA (DF) – Um estudo da Aliança pela Restauração da Amazônia, com apoio da “The Nature Conservancy Brasil”, analisou 13 empreendimentos com atuação na região para saber de que forma esses modelos de negócio podem conservar a região, ser viáveis economicamente e trazer bem-estar às comunidades tradicionais.
Divulgada nessa quarta-feira, 27, a pesquisa “Restauração da Bioeconomia na Amazônia” abrangeu 61 casos potenciais, dos quais 13 foram selecionados e situados em quatro modelos de negócios que geraram restauração efetiva: sistemas agroflorestais, coleta de sementes nativas, restauração ecológica para geração de créditos de carbono e produtos da sociobiodiversidade, como o açaí e a castanha. Os empreendimentos analisados no estudo atuam nos Estados do Pará, Amapá, Acre, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso.
Os resultados da pesquisa quanto aos modelos de negócios dos “Sistemas Agroflorestais” mostraram que estes empreendimentos têm como objetivo promover a transição para práticas produtivas mais biodiversas, contribuindo para uma produção mais sustentável, a restauração e conservação de Áreas de Preservação Permanente e de Reservas Legais.
“Os impactos sociais desses empreendimentos incluem a geração de empregos e de renda, beneficiando principalmente agricultores familiares. O volume de recursos captados e o faturamento variam significativamente conforme o tipo de organização. Em 2023, os cinco empreendimentos avaliados nessa categoria abrangiam 28 mil hectares, envolveram 912 pessoas e movimentaram R$ 75 milhões”, informa o documento.
Em relação aos “Produtos da Sociobiodiversidade (PSocioBio)”, eles se caracterizam principalmente por cooperativas que buscam melhorar a qualidade de vida de comunidades tradicionais por meio do extrativismo, manejo sustentável de produtos não madeireiros e sistemas agroflorestais.
Segundo concluiu o estudo, além da geração de renda, os empreendimentos dessa categoria preservam a cultura, valores e modos de vida sustentáveis por meio da organização social, possibilitando a permanência de comunidades tradicionais nos territórios de origem. É o modelo que impacta o maior número de pessoas, mas enfrenta obstáculos para levantar recursos financeiros.

“De forma geral, esses empreendimentos têm dificuldade em captar recursos de investimento, sendo, portanto, a maior parte da movimentação financeira resultado do seu faturamento. Em 2023, os quatro empreendimentos avaliados nessa categoria abrangiam 4,5 milhões de hectares, envolveram 3.665 pessoas e movimentaram R$ 81 milhões”, constata o relatório.
As “Redes de Coletores de Sementes (RCSN)” analisadas se caracterizam pela comercialização de sementes de espécies nativas como estratégia para promover práticas regenerativas, o bem-estar da população local, além da troca de conhecimento. Os modos de vida acabam contribuindo para a conservação de vastas áreas e recuperação daquelas degradadas, porém, têm dificuldade também para conseguir financiamento para os projetos.
“A maior parte dos recursos vem de projetos a fundo perdido e, em menor escala, do faturamento de comercialização de sementes e serviços de restauração. Em 2023, as duas RCSN avaliadas abrangiam quase 20 milhões de hectares, envolviam mil pessoas e movimentaram cerca de R$ 5 milhões”.
O quarto modelo de negócio de “Restauração Ecológica via Créditos de Carbono”, que analisou dois empreendimentos, foi caracterizado por empresas relativamente novas, estruturadas para promover a restauração ecológica em larga escala gerando créditos de alta integridade para comercialização no mercado de carbono.
O principal impacto econômico é a captação de grande quantidade de recursos (centenas de milhares de reais) em curto espaço de tempo. Segundo o relatório, em 2023, as duas empresas analisadas abrangiam 20 mil hectares, envolviam 320 pessoas e mobilizaram R$ 775 milhões em recursos financeiros. “Seus impactos sociais estão relacionados principalmente à geração de emprego e renda por meio da permissão do extrativismo de produtos não madeireiros das áreas remanescentes e reflorestadas em suas propriedades rurais”, informa o estudo.
Sugestões de soluções
Os pesquisadores, além de fazer uma minuciosa pesquisa sobre os gargalos que atrapalham o desenvolvimento dos modelos de negócios na Amazônia, desde que aliados com a restauração do bioma e o bem-estar da população tradicional, também apresentam mais de 70 sugestões de soluções pré-competitivas para superar os entraves enfrentados.
O relatório pontua que as quatro categorias de empreendimentos analisadas demonstram forte alinhamento com as políticas e normas dos fundos e programas de aceleração gerenciados pelas organizações entrevistadas, mas o apetite por investimento nessas categorias varia de acordo com o perfil de cada investidor ou aceleradora.
“Há maior interesse por parte dos investidores em iniciativas escaláveis e com potencial de retorno financeiro claro, especialmente nas áreas de créditos de carbono e produtos agroflorestais e da sociobiodiversidade com alto valor agregado. Por outro lado, iniciativas comunitárias, como redes de coletores de sementes nativas, tendem a atrair mais a atenção de investidores filantrópicos e órgãos de fomento, que reconhecem o impacto ambiental e social positivo dessas ações, mesmo sem a expectativa de retorno financeiro”, concluem os autores do estudo.
Outro entrave é a imaturidade organizacional e a falta de planejamento de longo prazo da maioria dos empreendimentos, que limitam o acesso a financiamentos e a atração de capital sustentável aos modelos de negócios na Amazônia.
O objetivo do estudo é estimular a implementação de soluções financeiras e políticas públicas para viabilizar a restauração florestal, promovendo um futuro de desenvolvimento sustentável e resiliente para a Amazônia.
Veja os 13 empreendimentos analisados
- “Arranjos Agroflorestais”
Negócios que combinam espécies nativas e agrícolas promovendo sistemas diversos e resilientes
Belterra Agroflorestas: possui certificação B que atesta impactos em governança, emprego, comunidade, meio ambiente e clientes e opera em quatro Estados na Amazônia: Mato Grosso, Pará, Rondônia e Amazonas, com sistemas agroflorestais em grande escala, segundo informa o documento.
Café Apuí Agroflorestal: restaura áreas de pastos abandonados ou improdutivos de produtores familiares assentados da Reforma Agrária nos municípios Apuí, Manicoré e Novo Aripuanã, no Sul do Amazonas, através da implementação de sistemas agroflorestais de café.
Coopercau: Cooperativa dos Produtores de Cacau e Desenvolvimento Agrícola da Amazônia (COOPERCAU), produz cacau em sistemas agroflorestais nos quais os cacaueiros se desenvolvem à sombra de espécies nativas, com manejo da regeneração natural.
Corageous Land: é uma Startup que emprega tecnologia própria para impulsionar sistemas agroflorestais e opera na fazenda Regenera, em Roraima.
- “Produtos da Sociobiodiversidade (PSocioBio)”
Reúne cooperativas voltadas para extração e processamento sustentáveis de produtos florestais.
Amazonbai: Cooperativa dos Produtores Extrativistas do Bailique e Beira Amazonas, nos municípios de Macapá e Itaubal (Amapá), produz açaí e coleta sementes e frutas de florestas nativas com manejo e certificação, promovendo restauração natural assistida.
Cooperacre: Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do estado do Acre, agrega 13 cooperativas singulares no Estado e tem associações parceiras em Rondônia, Amazonas, Mato Grosso e Pará. Comercializa produtos da floresta e da agricultura familiar.
Caepim: Cooperativa Agrícola dos Empreendedores Populares de Igarapé-Mirim, no Pará, produz açaí, cacau e outras frutas e sementes em floresta.
Cofruta: é uma Cooperativa dos Agricultores de Abaetetuba, no Pará, e opera com coleta de sementes nativas e Sistemas Agroflorestais e fabrica polpa de frutas, óleos e manteigas vegetais.
- “Redes de Coletores de Sementes”
Representam a mobilização de uma ampla rede de coletores de semente e restauradores dedicados à recuperação de ecossistemas degradados. Operam em regiões que incluem Unidades de Conservação, Terras Indígenas e propriedades rurais.
Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX): formada por coletoras e coletores de sementes nativas e técnicos que atuam nas bacias dos Rios Xingu, Araguaia e Teles Pires, comercializa sementes, atua com plantio direto (muvuca) em áreas de coleta e capacitação.
Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (RESEBA): atua em Rondônia em Terras Indígenas e não indígenas com comercialização de sementes, restauração de ecossistemas, plantio direto com muvuca e implantação de Sistemas Agroflorestais, sendo um negócio de impacto socioambiental.
- “Restauração Ecológica via Créditos de Carbono”
Caracterizada por empresas relativamente novas, com menos de cinco anos, especializadas na restauração ecológica de florestas tropicais em larga escala. Atuam tanto na Amazônia quanto em outros biomas brasileiros.
Mombak: Startup brasileira, fundada em 2021, que busca unir ciência, tecnologia e gestão florestal na restauração em grande escala de florestas nativas e biodiversas.
re.green: é uma empresa brasileira de restauração ecológica em grandes áreas de florestas degradadas, criada em 2021, com ênfase em pesquisa e desenvolvimento. Na Amazônia, atua no Maranhão e no Pará.