Estudo mostra potencial de libélulas no ecoturismo de base comunitária
Por: Fabyo Cruz*
30 de outubro de 2024
BELÉM (PA) – Um estudo conduzido por cientistas da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade do Algarve (UAlg), de Portugal, revelou como as libélulas, insetos da ordem Odonata, podem se tornar protagonistas no ecoturismo de base comunitária na Amazônia brasileira. Publicado na revista Global Ecology and Conservation, o trabalho indica que essas criaturas, conhecidas localmente como jacinas, não apenas embelezam o ambiente, mas também ajudam a conscientizar a população sobre a biodiversidade e geram renda para as comunidades locais.
A pesquisa, intitulada “Neotropical dragonflies (Insecta: Odonata) as key organisms for promoting community-based ecotourism in a Brazilian Amazon conservation area”, foi conduzida pelos especialistas Mayerly Alexandra Guerrero-Moreno (Ufopa), Leandro Juen (UFPA) e José Max Barbosa Oliveira Junior (Ufopa), com o objetivo de entender o impacto cultural e ambiental das libélulas.
Os dados coletados na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, localizada nos municípios paraenses de Santarém e Aveiro, indicam que 98,55% dos entrevistados reconhecem as libélulas e lhes atribuem valores estéticos, culturais e econômicos. Esse entendimento popular é fundamental para o desenvolvimento de uma consciência ambiental sólida e duradoura.

A inclusão das libélulas no ecoturismo, afirmam os pesquisadores, tem potencial para atrair um público diversificado e fortalecer os laços das comunidades com a natureza. Apesar da importância ecológica, os invertebrados raramente são destacados em atividades ecoturísticas.
A pesquisa mostrou que 96,38% dos entrevistados apontaram a ausência de informações sobre esses seres nas atividades atuais. “As libélulas são vistas como símbolos culturais e ambientais importantes, e sua inclusão pode fortalecer a conexão entre a comunidade, os visitantes e a biodiversidade local”, afirma Mayerly Guerrero-Moreno.
Com base na pesquisa, a maioria dos moradores da reserva manifestou interesse em participar de atividades ecoturísticas focadas nas libélulas (99,04%) e em desenvolver ações de turismo sustentável com esse foco (89,88%). Esses números indicam que, com um planejamento adequado, as libélulas podem gerar novas fontes de renda e melhorar a conservação ambiental por meio do ecoturismo de base comunitária.
Avanços e desafios
Para transformar o ecoturismo com libélulas em uma realidade sustentável, o estudo aponta a necessidade de políticas públicas, financiamento e treinamento das comunidades. Leandro Juen, um dos autores do estudo, reforça a importância de programas como o Monitora, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que avaliam a biodiversidade em áreas protegidas e podem ser integrados ao ecoturismo. “Essa integração fortalece a proteção ambiental e valoriza a cultura local”, destaca.

José Max Oliveira Júnior, professor do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) da Ufopa, vê o ecoturismo de base comunitária como uma ferramenta poderosa para a inclusão das comunidades tradicionais e a valorização de seus conhecimentos sobre a biodiversidade. “Esperamos que esta pesquisa ajude a impulsionar o ecoturismo focado em Odonata em unidades de conservação, integrando conhecimento científico e saberes populares, promovendo, assim, a sustentabilidade e o empoderamento das comunidades’.
Perspectivas para o futuro
A implementação de programas educacionais e de treinamento voltados para a gestão de atividades ecoturísticas com libélulas é essencial para que as comunidades locais desenvolvam um turismo sustentável e inclusivo. Além disso, a criação de políticas de incentivo e financiamento técnico pode contribuir para o desenvolvimento dessas práticas, transformando as libélulas em um símbolo de preservação e prosperidade para a região amazônica.
O estudo abre portas para um novo modelo de ecoturismo que respeita e valoriza a biodiversidade e a cultura da Amazônia, mostrando que até os menores organismos podem ter um impacto duradouro na conservação ambiental e na economia das comunidades.