Estudo mostra que um em cada quatro municípios não fez reajuste salarial de professores


04 de agosto de 2022
Estudo mostra que um em cada quatro municípios não fez reajuste salarial de professores
Professor em aula (Foto: Reprodução)
Com informações de Estadão

MANAUS – Um quarto dos municípios brasileiros não concedeu reajuste aos professores neste ano ou ainda não decidiu sobre o aumento. Uma portaria publicada pelo governo federal previa reajuste de 33,2% nos salários em 2022, passando de R$ 2.886,24 para R$ 3.845,34. O cálculo para o aumento porcentual vem causando controvérsia – o argumento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) é de que o mecanismo de reajuste na lei do piso do magistério perdeu a eficácia legal.

O levantamento foi realizado pela CNM, entre 6 de abril e 20 de julho. Segundo a pesquisa, 75,1% dos municípios concederam reajuste dos vencimentos dos professores em 2022, enquanto 16,2% não deram aumento e 8,7% ainda não haviam decidido, até a data da pesquisa, sobre o reajuste. Quatro em cada dez municípios (42,9%) adotaram porcentuais diferentes dos 33,2% anunciados pelo governo federal.

Professor
Segundo levantamento do CNM, 75,1% dos municípios concederam reajuste dos vencimentos dos professores em 2022. Foto: Werther Santana/Estadão

Uma lei de 2008 instituiu o piso salarial para os profissionais do magistério público. Essa norma previa atualização anual do valor do piso em janeiro de cada ano, levando em consideração o crescimento do valor por aluno anual do Fundeb, o principal mecanismo de financiamento da educação. Em 2022, seguindo esse parâmetro, o reajuste deveria ser de 33,2%.

Para a Confederação Nacional dos Municípios, porém, após a aprovação de mudanças na lei do Fundeb em 2020, o critério para calcular o reajuste perdeu a “eficácia legal” e é necessária uma regulamentação em lei específica. Em fevereiro, o governo Jair Bolsonaro publicou uma portaria oficializando o reajuste de 33,2%.

A CNM, no entanto, pondera que essa portaria é infralegal – não tem força de lei. Diante do que chama de “insegurança jurídica” sobre a regra, a confederação tem orientado que cada município avalie suas possibilidades fiscais para conceder o reajuste do piso do magistério.

Piso mais baixo

O pagamento dos professores representa um dos maiores custos para as contas de Estados e municípios. Boa parte dos governos locais tem dificuldades para honrar com o piso. Enquanto isso, professores brasileiros estão entre os mais mal pagos do mundo. Relatório de 2021 da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que o piso do magistério no Brasil é o mais baixo entre 40 países avaliados.

Conforme pesquisa da CNM, um terço dos municípios (1.250) concedeu o reajuste de 33,24%. Outros 742 municípios deram aumento menor, de 10,16%, seguindo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e 24,4% dos municípios optaram por porcentuais variados. “Os dados mostram que o alcance da medida anunciada pelo MEC não repercutiu em todos os municípios”, aponta a CNM.

A pesquisa aponta, ainda, que o reajuste do magistério concedido pelas gestões municipais compromete os limites com gasto de pessoal estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal em 1.036 municípios (25,8%). Um terço desses municípios concedeu o reajuste anunciado pelo governo federal.

“Falta base legal, não existe mais a forma de correção do piso, tem de ser feita uma lei”, defende Paulo Ziulkoski, presidente da CNM. Um projeto no Congresso sugere corrigir o piso pela inflação. Ele pondera que parte dos municípios que concedeu o aumento de 33% o fez sem lei municipal que embasasse a decisão.

“Como vai ser a situação desses municípios no futuro quando o Tribunal de Contas examinar os aumentos concedidos? Isso aí vai dar problema sério nas contas desses prefeitos”, acrescenta Ziulkoski. O presidente da CNM destaca que a própria Advocacia-Geral da União (AGU) já tinha reconhecido, em janeiro, que o critério de reajuste anual do piso foi revogado com a regulamentação do novo Fundeb.  

Sindicatos vão à Justiça pelo reajuste

A discrepância sobre os reajustes concedidos também tem levado sindicatos locais à Justiça. Em pelo menos 314 municípios, já houve ações ajuizadas pelos professores reivindicando ou questionando o reajuste do piso do magistério concedido em 2022, de acordo com a pesquisa da CNM.

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), o piso do magistério está estabelecido em lei e deve ser pago pelos gestores. “Todos os municípios devem aplicar o reajuste (33,24%) estabelecido pela lei”, afirmou, em nota.

A entidade orienta os sindicatos a negociar o pagamento imediato do reajuste do piso do magistério. “Em caso de negativa, os sindicatos devem formular denúncias aos órgãos de controle (Ministério Público e Tribunal de Contas) e/ou acionar o Poder Judiciário para cobrar esses direitos”, acrescenta a CNTE.

Parlamentares ligados à Frente de Educação também questionam a alegação de que há um vazio jurídico em relação às regras para o piso. “Não aceitamos essa leitura de vácuo jurídico”, diz o deputado federal Idilvan Alencar (PDT-CE), da Frente Parlamentar Mista de Educação. “Quando aprovamos o novo Fundeb, nossa intenção era clara, de valorizar o professor.”

Procurado, o Ministério da Educação não comentou.

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