Estudo prevê seca moderada no Rio Tapajós em 2025, no Pará
Por: Fabyo Cruz
17 de setembro de 2025
BELÉM (PA) – O Rio Tapajós, um dos mais importantes da Amazônia e fundamental para a navegação e o abastecimento de comunidades no Pará, deve enfrentar uma seca de intensidade moderada em 2025. A previsão é do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia (MME), que analisou os registros de 50 anos da estação de monitoramento instalada em Itaituba (PA).
De acordo com a nota técnica, o nível do rio deve cair para cerca de 2,2 metros durante a vazante, período em que a água naturalmente baixa, e atingir o ponto mais crítico na primeira semana de novembro. O relatório destaca que “o cenário mais provável para a vazante de 2025 aponta para uma seca de intensidade moderada, com níveis mínimos previstos entre 215 e 255 cm e um período de estiagem de aproximadamente 30 a 45 dias”.

O alerta do SGB vem um ano depois de o Tapajós registrar a pior seca de sua história. Em 2024, o rio chegou a 83 centímetros de profundidade, o que dificultou o transporte de embarcações, comprometeu o abastecimento de água e afetou populações ribeirinhas. Esse valor foi o mais baixo desde que as medições começaram, em 1974.
Para este ano, a situação deve ser menos grave. Isso porque o fenômeno climático El Niño, que provoca alterações nas chuvas da Amazônia e esteve muito intenso em 2023 e 2024, agora está em fase neutra. “A neutralidade do ENSO [El Niño-Oscilação Sul] no período anterior favorece a não ocorrência de extremos, tendendo a um comportamento mais próximo da média histórica”, explica o documento.

Dados históricos
O relatório também analisa o comportamento do rio ao longo das últimas cinco décadas. Segundo o levantamento, as secas estão se tornando cada vez mais severas. “Foi identificada uma tendência estatisticamente significativa de declínio à taxa de -1,36 cm/ano. Este resultado indica vazantes mais extremas, com as cotas mínimas tornando-se sistematicamente mais baixas ao longo das últimas cinco décadas”, afirma o estudo.
Em outras palavras, a cada ano o Tapajós atinge níveis ligeiramente menores durante a estiagem, e esse acúmulo, ao longo de décadas, aumenta o risco de secas mais duradouras e intensas.
Além disso, os pesquisadores notaram que, ao mesmo tempo em que os períodos de seca ficam mais críticos, as cheias também tendem a ser mais intensas. Isso significa que o rio vem apresentando uma maior variação entre os extremos, ou seja, muito cheio em alguns meses, muito baixo em outros, o que dificulta o planejamento para navegação e abastecimento.
Influência do clima global
Um dos pontos centrais do estudo é a influência dos fenômenos climáticos globais. O El Niño, por exemplo, mostrou forte relação com o regime do Tapajós. “Condições de El Niño em dezembro correlacionam-se significativamente com níveis mínimos mais baixos e estiagens mais longas no ano subsequente”, ressalta a nota técnica.

Já a Oscilação Decadal do Pacífico (PDO), que também atua sobre o clima mundial, não apresentou correlação direta com as secas na região de Itaituba. Ou seja, ela não serve como um bom indicador para prever a vazante do rio.
Importância do Tapajós
O Rio Tapajós é considerado uma das hidrovias mais estratégicas do País. Ele é utilizado para escoar grãos, combustíveis e diversos produtos, além de abastecer cidades e comunidades ribeirinhas. Por isso, qualquer variação em seus níveis afeta diretamente a economia e a vida da população local.
Com base nas análises, o SGB recomenda que as autoridades fiquem atentas e se preparem para possíveis restrições. “Recomenda-se que os órgãos gestores, autoridades locais e usuários do rio considerem este cenário de seca moderada (~220 cm, ~45 dias) como o mais provável para o planejamento de operações logísticas, navegação e abastecimento hídrico na região de Itaituba para o final de 2025”, conclui o relatório.