Estudo sugere que clima extremo pode agravar violência contra a mulher


Por: Cenarium*

04 de outubro de 2024
Mulher e criança caminham pelas águas da enchente no leste de Jacarta, Indonésia (Unicef)
Mulher e criança caminham pelas águas da enchente no leste de Jacarta, Indonésia (Unicef)

MANAUS – Um estudo publicado na quarta-feira, 2, por pesquisadores da University College London (UCL) sugere que mudanças climáticas severas podem estar associadas a maiores níveis de violência doméstica contra mulheres.

A pesquisa se baseou em 393 estudos com índices deste tipo de violência em 156 países entre 1993 e 2019, focados em mulheres com parceiros fixos. Os dados foram então cruzados com um levantamento de eventos climáticos extremos.

O resultado aponta para um aumento de casos de violência nos dois anos após alguns tipos de fenômenos climáticos, como enchentes, deslizamentos de terra e tempestades. De acordo com os pesquisadores, eventos climáticos extremos aumentam o estresse e a insegurança alimentar nas famílias, o que pode levar a um aumento na violência. Além disso, serviços de apoio a vítimas e canais de denúncias são muitas vezes impactados, com a mobilização de forças como a polícia para o atendimento imediato ao desastre climático.

Outros tipos de evento climático extremo, como secas, incêndios e terremotos, não apresentaram aumento nos dados coletados de violência de gênero. A pesquisa aponta que isso pode se dar porque os impactos sociais de diferentes tipos de eventos climáticos têm suas próprias janelas de tempo — e podem não se encaixar nos dois anos analisados.

Os pesquisadores citam, por exemplo, estudos que sugerem correlações entre ondas de calor e aumento de violência doméstica no curto prazo, algo que não se traduziria necessariamente em um aumento prolongado nas taxas ao longo do período analisado pela UCL.

Embora na análise países com maior PIB (produto interno bruto) tenham mantido taxas mais baixas de violência doméstica após eventos climáticos extremos do que países mais pobres, eles também apresentaram internamente aumento nas agressões. Isso, segundo os autores, aponta para uma tendência global.

Os maiores índices de violência foram medidos na República Democrática do Congo, Papua-Nova Guiné e Etiópia, enquanto o evento climático extremo mais comum durante o período coletado (de 1920 a 2022, em 190 países) foram as tempestades, que tiveram maiores índices na Índia e nos Estados Unidos.

Os pesquisadores apontaram entre as limitações do estudo a qualidade divergente de dados entre países, indicando a necessidade de melhoria na coleta de estatísticas de violência doméstica para pesquisas futuras.

O estudo aponta que o Peru é o país com dados mais robustos de violência contra a mulher no período analisado, afirmando que “isso mostra que a decisão de analisar cuidadosamente e com consistência a segurança da mulher é uma decisão tão política quanto de recursos”, e recomenda que doadores e autoridades passem a considerar como a mudança climática afeta mulheres para o planejamento de ações de mitigação de danos.

(*) Com informações da Folhapress

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