EUA retiram tarifas de PCs, chips e celulares importados da China
Por: Cenarium*
12 de abril de 2025
MANAUS – O governo do presidente Donald Trump decidiu na noite desta sexta-feira, 11, pela exclusão de smartphones, computadores e outros eletrônicos das tarifas em vigor hoje, de 145% sobre importações da China e de 10% sobre outros países.
A lista de exceções foi publicada pela US Customs and Border Protection, a alfândega americana. Além de smartphones, estão isentos laptop, discos rígidos, processadores de computador e chips de memória — itens que, em geral, não são fabricados pelos Estados Unidos.
.De acordo com a agência de notícias Bloomberg, o alívio nas tarifas pode ser passageiro: as tarifas dos produtos excluídos podem ser substituídas em breve por outras alíquotas, mais baixas. A agência apontou que a medida protege consumidores de um choque nos preços, e, ao mesmo tempo, beneficia gigantes da tecnologia como a Apple e a Samsung.
O caso do iPhone é emblemático. Em relatório publicado antes da decisão, a consultoria TechInsights, voltada à indústria de semicondutores, afirmou que a fabricação nos EUA de um iPhone, hoje enraizada na China, poderia elevar o preço do smartphone a US$ 3.500 (R$ 20,5 mil).
A análise usa como base o iPhone 16 Pro com 256 GB de armazenamento. Nos EUA, o produto custa hoje US$ 1.099 (R$ 6.450, sem considerar impostos) .
Um dos objetivos de Trump é forçar as empresas a fabricar produtos —e gerar empregos— nos Estados Unidos. Mas a consultoria considera improvável a mudança da produção do celular para solo americano. Isso exigiria anos de investimento em automação e infraestrutura para se alcançar o patamar de 200 milhões de smartphones fabricados.
A mera importação do produto, com as taxas estabelecidas antes da exclusão dos smartphones, já faria com que o produto aumentasse de preço nos Estados Unidos. Com a taxa de 145%, o valor poderia saltar quase 70% e chegar a US$ 1.850 (R$ 10,8 mil), afirma a TechInsights.
Entre os produtos que não estarão sujeitos às novas tarifas, estão ainda máquinas usadas para fabricação de semicondutores, o que segundo a Bloomberg beneficiaria a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co., que anunciou um novo investimento nos EUA, bem como para outros fabricantes de chips.
As tarifas de Trump vêm atingindo com força as empresas de tecnologia. Desde março, a Apple fretou seis aviões cargueiros para transportar 600 toneladas de iPhones, totalizando cerca 1,5 milhão de unidades do smartphone, da Índia para os Estados Unidos.
O Financial Times lembrou que a administração Trump está moderando sua abordagem à guerra comercial, e que a suspensão acontece após semana de intensa turbulência nos mercados.
Os itens se somam a produtos essenciais que não haviam sido incluídos no tarifaço, como os farmacêuticos.
Impacto na inflação
O objetivo do tarifaço de Trump, que em 2 de abril anunciou a imposição de tarifas recíprocas —na prática, sobretaxas— sobre produtos comprados de outros países, é trazer empregos e fábricas de volta aos EUA.
O presidente americano justifica as medidas afirmando que outros países defendem suas indústrias cobrando dos EUA tarifas elevadas e que impor um sobrepreço a produtos hoje importados pelos americanos atrairia a produção de manufaturados de volta ao país.
Mas os economistas alertam que as tarifas podem impulsionar os preços americanos, impactar o crescimento econômico e prejudicar relações internacionais.
O alerta mais recente foi feito pelo chefe do Federal Reserve, o banco central americano (Fed) de Nova York, John Williams, que afirmou nesta sexta-feira, 11, que o tarifaço de Trump fará a inflação nos EUA disparar para até 4% este ano. Esse patamar seria muito acima do mandato de 2% do Fed.
Williams também disse que espera que o crescimento “desacelere consideravelmente em relação ao ritmo do ano passado, provavelmente para um pouco abaixo de 1%”, enquanto o desemprego pode subir dos atuais 4,2% para entre 4,5 e 5%.
De acordo com ele, um “sentimento de incerteza está se tornando cada vez mais evidente, especialmente em dados, como pesquisas e informações de contatos empresariais”. Ele acrescentou que houve “uma queda acentuada na percepção do consumidor, e as medidas da perspectiva empresarial também enfraqueceram”.
Na semana anterior, Jerome Powell, presidente do Fed, já havia alertado que as tarifas propostas pela administração foram maiores do que o esperado e o resultado provavelmente seria uma inflação mais alta e um crescimento mais lento.