Eurodeputada grega Eva Kaili é destituída do cargo; ela teria recebido propina do Qatar
13 de dezembro de 2022
Eva Kaili, vice-presidente do Parlamento Europeu, discursa em cerimônia de premiação do European Book Prize, em Bruxelas (Eric Vidal/7.dez.22/União Europeia via AFP)
Da Revista Cenarium*
ATENAS – O Parlamento Europeu destituiu, nesta terça-feira, 13, a eurodeputada grega Eva Kaili do cargo de vice-presidente do órgão. Ela é acusada de fazer parte de esquemas de corrupção envolvendo o Qatar, País-sede da Copa do Mundo.
O resultado da votação foi emblemático: 625 parlamentares votaram a favor da destituição, apenas um, contra, e dois se abstiveram. Mais cedo, os líderes de bancadas da Casa haviam aprovado a decisão por unanimidade.
Kaili era uma dos 14 vice-presidentes do Parlamento e seu nome foi vazado à imprensa como sendo um dos quatro presos e acusados, na Bélgica, de receberem propinas e presentes em troca de garantir ao País do Oriente Médio influência no bloco — nenhum dos suspeitos foi publicamente identificado.
A deputada de 44 anos foi presa depois que investigadores belgas encontraram sacolas cheias de dinheiro em sua residência. Na última sexta, 9, promotores revistaram 16 casas e apreenderam ao menos € 600 mil (R$ 3,3 milhões) em Bruxelas como parte da investigação.
Eurodeputada socialista grega Eva Kaili, vice-presidente do Parlamento Europeu, presa por corrupção (Reprodução)
Paralelamente, a Grécia congelou ativos financeiros de Kaili. Um dos focos da operação é uma empresa imobiliária recém-criada junto a um italiano pela eurodeputada, no bairro de Kolonaki, uma área luxuosa em Atenas – o sócio também é investigado.
No fim de semana, o Parlamento Europeu já havia suspendido Kaili de suas funções na Casa, e seu partido, o Pasok (Partido Socialista Pan-Helênico), disse que a expulsaria de suas fileiras.
A defesa da eurodeputada se pronunciou, pela primeira vez, nesta terça e descartou que ela tenha recebido propinas do Qatar. “Ela não tem nada a ver com o financiamento do Qatar, explícita e inequivocamente”, disse seu advogado, Michalis Dimitrakopoulos, a uma emissora grega de televisão.
Seja como for, o escândalo provocou indignação em Bruxelas e levantou preocupações entre legisladores e líderes políticos da UE de que o episódio possa prejudicar a imagem do bloco.
Até por isso, a presidente do Parlamento, a maltesa Roberta Metsola, anunciou na segunda, 12, que o órgão deve abrir em breve uma investigação interna para apurar o suposto esquema. “Vamos iniciar um processo de reforma para ver quem tem acesso às nossas instalações e como essas ONGs e indivíduos são financiados e que vínculos eles têm com países terceiros”, disse. A reforma também foi defendida pela presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.
Diante do escândalo, a pauta do plenário parlamentar desta terça, em Estrasburgo, foi modificada, e será dedicada a debater o caso. Além disso, na quinta, 15, será votado um texto que pede mais transparência nas instituições europeias.
O escândalo, de certa forma, pode também afetar a relação entre o bloco e o Qatar — que, com a Guerra da Ucrânia, tornou-se opção para o fornecimento de gás; no mês passado, Doha fechou um acordo com a Alemanha por, ao menos, 15 anos.
Uma das atribuições de Kaili como vice-presidente era representar a presidente do Parlamento. Em novembro, ao visitar o País-sede da Copa, ela parabenizou o ministro do Trabalho por reformas e disse que o Qatar é um líder no setor. As legislações trabalhistas do País, porém, são alvo de várias críticas de organizações de direitos humanos.
Estariam ainda entre os detidos o ex-parlamentar italiano Pier-Antonio Panzeri e o secretário-geral da Confederação Sindical Internacional, Luca Visentin. Em entrevista na semana passada, Visentin também apontou progressos nas leis trabalhistas catarianas.
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