Evento em Brasília debate Amazônia, emergência climática e protagonismo de comunidades no mercado de carbono 

Projeto de Carbono Florestal do Povo Paiter Suruí, de Rondônia, o primeiro implementado no mundo, em terras indígenas, será exemplo no evento (Araquém Alcântara/WWF Brasil)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Dar protagonismo aos povos da floresta no mercado de créditos de carbono, discutir a emergência climática e ações de preservação da maior floresta tropical do planeta são pautas que sustentam um encontro entre comunidades tradicionais, instituições, organizações da sociedade civil, especialistas e consultores a partir desta terça-feira, 10, em Brasília. 

Trata-se de uma oficina que visa jogar luz sobre essa discussão, por meio de uma parceria entre o Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), o Instituto de Estudos Amazônicos (IEA) e a entidade Environmental Defense Fund (EDF). 

São 15 atrações entre palestras e debates, além da apresentação de cinco projetos de utilização de incentivos financeiros na redução das emissões dos gases de efeito estufa oriundos da degradação de florestas e do desmatamento, em curso, em Áreas Protegidas (APs) da Amazônia, como Reservas Extrativistas (Resex) e Terras Indígenas (TIs), os chamados REDD+

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O treinamento ocorre na Casa de Retiros Assunção, no DF, e vai até a próxima quarta-feira, 11.

Projetos de REDD+ consistem no sequestro de carbono por meio reflorestamento e da diminuição do desmatamento (Victor Moriyama/Greenpeace)

Paiter Suruí: pioneiros na Amazônia

Para o CNS, “projetos de carbono podem ser uma oportunidade para as Reservas Extrativistas se forem realizados com conhecimento técnico e parceiros de confiança do movimento”. Por isso, o Conselho afirma que ouvir extrativistas e lideranças que participam da implantação de projetos REDD+ nas Resex e TIs “será um elemento a mais no treinamento”.

Uma das convidadas a palestrar, apontando os benefícios sociais do sequestro de carbono para Povos Indígenas, é a indigenista e presidente da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Neidinha Suruí. 

A ambientalista apresenta o Projeto de Carbono Florestal Suruí (PCFS), o primeiro projeto REDD+ proposto em Terras Indígenas no mundo. Em andamento desde 2009, o PCFS ajuda a proteger a TI Sete de Setembro, localizada entre os Estados de Rondônia e Mato Grosso, região ameaçada por grileiros, desmatadores e madeireiros. 

A meta é conservar uma área de 13 mil hectares de mata e evitar a emissão de 7 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) até 2038.

Povo Paiter Suruí debate ações do Projeto de Carbono na Terra Indígena Sete de Setembro (Kanindé/Reprodução)

À REVISTA CENARIUM, Neidinha explica que levar esse conhecimento para outras comunidades, no evento, é importante para dar-lhes autonomia no mercado. 

“O que vamos falar no encontro é sobre todos os cuidados que se precisa ter com um projeto de carbono, principalmente, para que não se saia assinando qualquer contrato de empresas interessadas, pois existem muitos ‘cowboys do carbono’. O projeto dos Paiter Suruí é premiado e um exemplo para o mundo. Uma referência para todos”, afirma a ambientalista.

A indigenista, ambientalista e presidente da ONG Kanindé, Neidinha Suruí (Kanindé/Reprodução)

Neidinha Suruí ressalta que o projeto “trouxe muita coisa boa para o povo, mas também dificuldades”. Por outro lado, com o empenho, o resultado foi a primeira venda de créditos de carbono para a empresa brasileira de cosméticos Natura. A primeira negociação ocorreu em 2013. Foi também a primeira venda feita com certificação internacional no País. 

Segundo a Natura, a compra foi equivalente à emissão de 120 mil toneladas de carbono, para compensar as liberações de poluentes no processo industrial da companhia. Todo o dinheiro é revertido na preservação do bioma amazônico. 

As negociações, de acordo com a indigenista e presidente da Kanindé, acontecem com intermédio da Associação Metareilá do Povo Indígena Paiter Suruí, localizada no município de Cacoal, a quase 500 quilômetros de Porto Velho.

Renda alternativa

A prática de evitar que o carbono seja liberado se tornou uma fonte de renda alternativa para os Paiter Suruí que, hoje, são mais de 1.300 pessoas, segundo as contas do Instituto Socioambiental (ISA).

Na reserva, que tem quase 250 mil hectares de terra, os indígenas trabalham para preservar a Amazônia, evitando que a floresta seja desmatada e reflorestando áreas já afetadas.

A Natura não divulga os valores das negociações, mas o montante é destinado ao Fundo de Carbono Suruí. À frente do trabalho está o cacique-geral Almir Suruí, uma das mais importantes lideranças indígenas do País. 

O projeto dos Suruí será exemplo na oficina do Conselho Nacional de Populações Extrativistas e parceiros. 

“Como sempre fizeram, ao longo de suas histórias de mais de 40 anos de trabalho, o CNS, o IEA e o EDF buscam conciliar a sabedoria dos povos da floresta com o conhecimento técnico e científico de especialistas para formular projetos e políticas públicas que gerem impactos duradouros para as Reservas Extrativistas. Essa é uma excelente oportunidade de juntar forças para reduzir os impactos das mudanças climáticas, gerando renda e oportunidades para as futuras gerações”, afirma a entidade.

Veja aqui toda a programação do evento.

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