Início » Cultura » Ex-interno de Centro de Detenção do AM expõe quadros com pinturas amazônicas
Ex-interno de Centro de Detenção do AM expõe quadros com pinturas amazônicas
No presídio, o pintor, que ganhava a vida com pintura de paredes, sentiu ainda mais necessidade de se expressar pela pintura e começou a fazer sua arte (Divulgação/ DPE-AM)
Compartilhe:
01 de outubro de 2020
Da Revista Cenarium*
MANAUS – A paixão pela Amazônia e o talento artístico nato são chave de vida nova para Oriney Bezerra Lira, de 34 anos. Nos dez meses em que esteve preso no Centro de Detenção Provisória Masculino 2 (CDPM2), em Manaus, no Amazonas, o pintor teve seu dom reconhecido ao pintar mais de 50 quadros e paredes do presídio com temas amazônicos e agora expõe parte de suas obras no anexo da sede da Defensoria Pública do Estado (DPE-AM), na Avenida André Araújo, 679, Zona Centro-Sul de Manaus.
O lançamento da exposição ocorrido nessa quarta-feira, 30, foi destinado apenas a membros da Defensoria e convidados, como medida de segurança para reduzir os riscos de contágio pelo novo Coronavírus. A exposição abre ao público nesta quinta-feira, 1º, e vai até 9 de outubro, das 8h às 14h. As visitas serão agendadas por meio de um link disponível em banner na página principal no site da Defensoria.
PUBLICIDADE
“Sou do interior e meu pai sempre cuidou de sítios. Ele me levava para pescar. Sempre via garças, vitória-régia e os animais e plantas. Sou apaixonado pela Amazônia, pelas árvores, pelas flores. Hoje quero mostrar mais ainda o grito da nossa Amazônia, das plantas e dos animais, porque é uma cultura que está morrendo. A gente está vendo tudo isso sumir. E, talvez, com essas telas, as pessoas consigam enxergar que estão ficando sem tudo isso”, explica Oriney.
Também por medida de segurança, o número de visitantes será limitado a dez pessoas por hora. A exposição deve seguir, posteriormente, para outros órgãos públicos, em cronograma ainda a ser definido. As obras expostas não estão à venda. Mas Oriney está aberto a pedidos de encomenda.
Todos os quadros de Oriney têm como tema a Amazônia, seus animais e plantas, além dos caboclos ribeirinhos, uma paixão que o pintor tem desde menino, quando, ainda morando em Maraã (a 632 quilômetros de Manaus). No município, ele pescava com o pai no rio Japurá.
Vida
Fazem duas semanas que Oriney deixou o CDPM2, onde estava preso por ameaças que fez à mulher em momentos de desentendimento. No presídio, o pintor, que ganhava a vida com pintura de paredes, sentiu ainda mais necessidade de se expressar pela pintura e começou a fazer sua arte com o que encontrava: material de artesanato dos cursos disponíveis no presídio, pedaços de compensado e até lençóis que não seriam mais usados.
Oriney estudou somente até a 6ª série do Ensino Fundamental e nunca fez um curso de artes. Vivia de bicos pintando paredes e propagandas em muros, mas sempre sonhando em ser artista de profissão. Tudo o que aprendeu sobre pintura de quadros e esculturas, diz, foi com amigos artistas.
“Me apaixonei pela arte dele e ele foi me dando uns toques. E assim fui me aprimorando. Nunca tive como comprar material. Tudo o que achava na rua e que desse para pintar em cima, eu levava para casa. E todo artista que eu encontrava virava meu amigo”, conta.
A pedido da Defensoria, Oriney foi posto em liberdade por meio de um Habeas Corpus concedido pela Justiça. Estava preso há dez meses sem julgamento. Além desse aspecto, pesou o fato de que a pena máxima para ameaça é de seis meses. Assim como muitos no sistema prisional do Brasil, Oriney já havia cumprido a pena sem nem ter sido condenado. Agora está em liberdade, mas segue monitorado por tornozeleira eletrônica.
Apoio
O coordenador do Núcleo de Atendimento Prisional (NAP) da DPE-AM, defensor público Theo Eduardo Costa, diz que ficou impressionado ao descobrir o talento e as obras de Oriney dentro do presídio, tanto que foi seu primeiro cliente ao comprar um dos quadros pintados na prisão. “É muito importante dar visibilidade às vozes e rostos que estão encerrados nas celas das prisões, pois a Defensoria Pública, como órgão de execução penal, deve fomentar políticas públicas de inclusão social como mecanismo de ressocialização e diminuição da reincidência”, afirma o defensor.
Para Oriney, a exposição é a esperança de entrada em um futuro melhor, onde ele poderá se manter e sustentar sua família com os frutos do trabalho que verdadeiramente ama, a arte.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.