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‘Exaltação ao povo preto’: bailarina amazonense desfila na Comissão de Frente do Salgueiro
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25 de abril de 2022
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS — Terceira escola a desfilar na primeira noite de apresentações do Carnaval do Rio de Janeiro, o Salgueiro trouxe como tema para a avenida os territórios de resistência da cultura e povos negros do Rio de Janeiro: Praça XI, Gamboa e Santo Cristo, a Pequena África, e o próprio Morro do Salgueiro. Uma amazonense, estreante na Sapucaí, participou de um dos destaques do desfile da escola: a Comissão de Frente.
Há seis meses no Rio de Janeiro, a bailarina amazonense Ana Luiza Carneiro participou pela primeira vez do Carnaval mais famoso do mundo. “Já estou há seis meses aqui e está sendo a melhor experiência profissional que já tive na vida”, afirma.
Com experiência de cinco anos no Carnaval de Manaus, Ana conta à CENARIUM que foi a passeio para o Rio de Janeiro quando soube da audição para a Comissão de Frente do Salgueiro. “Quando soube da audição para a Comissão de Frente do Salgueiro, eu decidi estender para tentar, e consegui”.
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Ela conta que a paixão pela dança começou muito cedo, passou por jazz, dança do ventre e danças urbanas, quando, em um determinado momento, teve contato com o samba e descobriu uma nova paixão.
União perfeita
“Fazer parte de uma Comissão de Frente é a união perfeita das danças e culturas que eu mais amo: o samba e a base de danças urbanas, que é afro”. Ainda extasiada com a apresentação, a amazonense diz que a responsabilidade é bem grande, mas que o trabalho é desenvolvido por uma equipe enorme.
“É um trabalho muito sério que pode definir a posição de uma escola no campeonato. A Comissão de Frente nos últimos anos vem ganhando cada vez mais notoriedade, é um investimento muito alto em coreografia, figurinos, efeitos, história, estrutura, sendo assim, o bailarino tem que estar muito comprometido com o trabalho proposto, é muito cansativo e a dança é só o que será apresentado, mas nos bastidores há uma equipe muito grande”, explica.
Como mulher preta e resistente, a bailarina conta que participar de uma Comissão de Frente tão representativa aflora a ancestralidade da qual ela sempre se orgulhou.
“Sempre busquei referências da cultura e de pessoas pretas para imprimir no meu modo de viver e analisar as situações, no samba temos uma filosofia de entender o passado para compreender o presente e assim projetar o futuro; nós temos o direito de resgatar nossa história e lutar para que não sejamos apagados”, e conclui dizendo que está “cada vez mais envolvida e vivendo com o meu povo, é muito bom se enxergar em outras pessoas, meus projetos culturais e minha dança são sempre em exaltação ao povo preto”.
A Comissão de Frente da Salgueiro trazia o nome ‘Akikanju Ijó’, que significa ‘Dança dos Heróis’, em Iorubá. Na colonização do povo Iorubá, uma das maiores etnias do continente africano e ancestral do povo preto brasileiro, foram roubadas milhares de estátuas de bronze do Reino do Benim, muitas até hoje ainda espalhadas por museus na Europa e EUA.
Os bailarinos representavam os heróis de bronze nascidos no Brasil, como Zumbi e Dandara dos Palmares, Abdias Nascimento, Aleijadinho, Anastácia, André Rebouças, Chica da Silva, Machado de Assis, João Cândido, Tia Ciata, Mercedes Baptista, Mariana Crioula, Ruth de Souza, Chico Rei e Joaquina Lapinha, representada por Ana.
“Nossos ancestrais que deixaram os caminhos abertos num ritual com as iaôs e celebraram o legado vivo que é a Ingrid Silva”, explica a bailarina sobre a coreografia feita pelo corpo de dança.
Mais amazonense no Sambódromo
Após quase dois anos sem Carnaval, os apaixonados por essa arte voltam para a avenida e se envolvem com a magia do Carnaval novamente. Adan Silva, amazonense e amante da festa, conta que desde criança acompanhava o Carnaval carioca e paulistano pela televisão e já sentia a paixão pelo evento crescer.
Ele faz parte das milhares de pessoas que foram até o Rio de Janeiro, para apreciar de perto o Carnaval carioca. “Ver o desfile acontecendo normalmente deixou meus olhos marejados e agora espero o retorno de outras festas, como o boi em Parintins”.
Ele fala sobre a sensação de retorno depois de quase dois anos. “A sensação foi de esperança. A pandemia foi um período muito difícil para todos nós, ficamos sem os desfiles por um longo tempo. Quando retornou esse ano, houve o adiamento e o medo de que surgisse uma nova variante que fosse capaz de burlar a vacina”.
Felizmente a festa não foi interrompida e, para ele, esse é o momento de celebrar as vidas que não foram ceifadas pela Covid-19. “Alegria, esperança, gratidão pela ciência e um tantinho de tristeza por quem amava a festa tanto quanto eu, mas terrivelmente teve vida ceifada pela Covid-19”, completa.
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