Exército indígena: dois mil voluntários arriscam a vida para combater incêndios na Amazônia

Indígenas, que estão combatendo o fogo em seus territórios, relatam a intoxicação pela fumaça e queimaduras (Imagem:Felipe Werneck- Ibama)

Náferson Cruz – Revista Cenarium

MANAUS – Enquanto o presidente do País Jair Bolsonaro (sem partido) culpou os indígenas pelas queimadas na 75ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 2 mil deles (indígenas) arriscam suas vidas na linha de frente das brigadas de combate ao fogo para protegerem o bioma amazônico.

Parte dos indígenas relatam que estão sofrendo com a inalação de fumaça e queimaduras. A ação voluntária dos chamados “guardiões” indígenas teve como ponto de partida a sequência de atos promovidos pelo Ministério do Meio Ambiente e considerados pelas entidades e organizações indígenas como “desastrosos”.

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Um deles foi o anúncio da suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia e Pantanal. A justificativa era o corte de aproximadamente R$ 60 milhões nos órgãos responsáveis pela preservação ambiental no País, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 

As invasões de áreas indígenas também são apontadas pelas entidades e organizações indígenas como fatores determinantes para a ocorrência de queimadas. No Relatório da Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, recentemente, publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), denuncia que, em 2019, foram registrados 256 casos de invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio, em pelo menos 151 terras indígenas, de 143 diferentes povos.

O desmatamento desenfreado tem afetado os ecossistemas da Amazônia brasileira, que são alguns dos mais biodiversos do mundo. Também está destruindo as terras às quais as comunidades indígenas locais têm direito – e das quais dependem para viver.

A porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace, Organização Não Governamental (ONG) Cristiane Mazzetti, diz que a situação do Bioma Amazônico ainda é muito preocupante, pois a floresta segue sendo queimada e desmatada em taxas inaceitáveis.

“Isso, obviamente é reflexo da política antiambiental implementada pelo governo Bolsonaro. Essa política enfraqueceu e tirou a autonomia dos órgãos de fiscalização, reduziu a quantidade de fiscalização, incentivando assim a impunidade. O pouco que o governo se propôs a fazer “enfrentar” a destruição da Amazônia já foi pensado para não ter resultado e, claro, a gente não esperava nada diferente, uma oratória que proíbe o fogo desassociada a forte fiscalização e com o emprego das Forças Armadas para fazer o combate ao desmatamento no lugar de órgãos com experiência nessa atividade, a gente tem essa situação dramática que pode ser observada nas estatísticas”, comentou Mazzetti.

Incêndio devora sem precedentes

A devastadora onda de incêndios que devora uma rica vegetação e fauna do Bioma Amazônico tem sido registrada e em um ritmo sem precedentes. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em setembro, os satélites registraram 32.017 focos de incêndio na maior floresta tropical do mundo, um aumento de 61% em relação ao mesmo mês de 2019.

Se comparado os focos de queimadas nos primeiros noves meses do ano com o mesmo período do ano passado, houve um aumento em 13%, deste modo, a floresta vive o pior período de incêndios em uma década.

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