Início » Central da Política » Exército nega apoio para comitiva parlamentar visitar Terra Yanomami em Roraima
Exército nega apoio para comitiva parlamentar visitar Terra Yanomami em Roraima
Compartilhe:
13 de maio de 2022
BRASÍLIA – O Exército negou um pedido do senador Humberto Costa (PT-PE) de apoio logístico para que a comitiva de parlamentares que está em Roraima pudesse visitar as terras indígenas yanomamis.
A comitiva, composta por senadores e deputados federais, foi ao estado para apurar as recentes denúncias feitas por indígenas contra garimpeiros. A expectativa era de que seus integrantes pudessem visitar a aldeia de Aracaçá, que só é acessível de avião ou helicóptero e é próxima à base militar de Surucucu.
Por isso, o senador enviou um ofício ao comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, no último dia 5 de maio.
PUBLICIDADE
“Pleiteio apoio a Vossa Excelência no sentido de disponibilizar apoio logístico para o deslocamento interno de alguns membros da comitiva, aproximadamente 15 pessoas, de Boa Vista ao distrito de Surucucus, no dia 12 de maio, para que cumpram o múnus de averiguar aquela situação indigenista, para a qual a nação ora volta os olhos”, diz o texto, ao qual a reportagem teve acesso.
A resposta foi dada pelo general Francisco Humberto Montenegro Junior, apenas na última quarta-feira (11), quando os parlamentares já estavam em Boa Vista. “Não será possível prestar o apoio, tendo em vista a restrição dos meios aéreos disponíveis na região amazônica”, afirma a negativa.
Questionado pela Folha sobre quais seriam essas restrições, os militares responderam que “a demanda foi analisada e constatou-se que a única forma de conduzir com segurança os parlamentares ao Distrito de Surucuru seria por meio aéreo. Infelizmente, o Exército Brasileiro não teve condições de prestar o apoio devido à restrição dos meios aéreos disponíveis na região Amazônica, na data solicitada”.
Antes, no dia 4, a comitiva também pediu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que solicitasse à Força Aérea Brasileira (FAB) apoio logístico tanto para o deslocamento de Brasília a Boa Vista, como também da cidade até a aldeia.
Pacheco, no entanto, não colocou o ofício em votação nem o encaminhou à Presidência da República para que fosse repassado ao Ministério da Defesa. A reportagem o procurou, mas não obteve resposta.
Assim, a comitiva – composta pelos senadores Humberto Costa, Telmario Mota (Republicanos-RR), Chico Rodrigues (União Brasil-RR), Leila Barros (PDT-DF) e Elizane Gama (PDT-MA), pela deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR) e pelo deputado José Ricardo (PT-AM)– cumpre agenda apenas em Boa Vista.
Os parlamentares já se encontraram com lideranças indígenas, integrantes de instituições como Funai (Fundação Nacional do Índio) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), além de representantes da Polícia Federal e do Ministério Público.
A comitiva foi uma resposta à crescente tensão entre o garimpo ilegal e os yanomamis neste ano. Segundo relatos ouvidos pela reportagem sob condição de anonimato, lideranças indígenas, servidores da Funai e integrantes de ONGs vêm sofrendo ameaças e estão com medo de que a violência cresça ainda mais.
O paradeiro dos yanomamis da Aracaçá virou caso de polícia desde que a comunidade foi encontrada queimada e vazia, após a Condisi-YY (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana) denunciar que uma menina de 12 anos teria sido estuprada e morta por garimpeiros. A Polícia Federal diz que não encontrou indícios deste crime até agora.
Após o presidente da Condisi, Júnior Hekurari, afirmar que os desaparecidos tinham sido encontrados, ele revelou à Folha que diz ter descoberto que os indígenas foram cooptados pelos garimpeiros da região. “Estão na mão do garimpo. Eles estão coagidos, os garimpeiros entraram na cabeça deles”, disse.
Cogitou-se, inicialmente, que o desaparecimento dos yanomamis fosse parte ou de um ritual de luto após a morte de um parente. Também especulou-se que eles poderiam ter se mudado por serem um povo nômade, ou até que estariam escondidos na floresta, como estratégia de defesa.
Hekurari diz que, por enquanto, ainda não é possível ter certeza de quem queimou a aldeia e qual teria sido a razão. Mas afirma que é remota a possibilidade de que os yanomamis tenham feito residência em outro lugar. “Eu sou yanomami. Eles não fizeram preparo para ir para outro lugar”, afirma, de acordo com o que viu na visita ao local, no fim do mês passado.
violência de garimpeiros contra yanomamis em Roraima não é novidade. Na noite da última quinta-feira (5), por exemplo, a PF prendeu um condenado de participar do massacre do Haximu, ataque do garimpo que deixou 12 indígenas mortos, em 1993.
Em 2021, a região de Palimiú, vizinha de Aracaçá, sofreu ataques de garimpeiros armados. Em 2020, uma decisão do Tribunal Regional Federal determinou que o governo federal retirasse o garimpo ilegal da terra Yanomami em Roraima, o que ainda não aconteceu.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.