Facebook luta para conter polêmica sobre impacto do Instagram em adolescentes

O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, ajudou a aprovar a decisão( Reprodução/Internet)

Com informações da Folha de São Paulo

SAN FRANCISCO | THE NEW YORK TIMES – Nas últimas semanas, altos executivos do Facebook tiveram uma série de reuniões virtuais de emergência. Em uma delas, no último fim de semana, meia dúzia de diretores —incluindo Adam Mosseri, chefe do Instagram, e Nick Clegg, vice-presidente para assuntos globais do Facebook— discutiram fazer uma pausa no desenvolvimento do serviço do Instagram para crianças de 13 anos ou menos, disseram duas pessoas informadas sobre a reunião. O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, ajudou a aprovar a decisão, segundo essas pessoas.

As reuniões continuaram nesta semana, com um grupo maior que incluiu as equipes de “Resposta Estratégica” do Facebook, que são supervisionadas por Clegg e a diretora de operações, Sheryl Sandberg, segundo as fontes. Os executivos discutiram o que fazer sobre a pesquisa interna sobre os adolescentes e o Instagram, disseram elas, e decidiram divulgar publicamente parte das informações, mas com anotações para adicionar contexto.

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O Facebook esteve em tumulto nas últimas semanas, e as reuniões foram convocadas para acalmar os ânimos. A comoção começou depois que o Wall Street Journal (WSJ) publicou uma série de artigos, no mês passado, mostrando que o Facebok sabia sobe os danos causados por seus serviços, incluindo meninas adolescentes dizendo que o Instagram as fazia sentir-se pior sobre si mesmas.

Os artigos se basearam em grande número de documentos do Facebook, vazados por um denunciante não identificado. As revelações imediatamente provocaram uma onda de críticas de reguladores e legisladores, muitos dos quais agiram rapidamente para responsabilizar a companhia.

Conforme aumentou o escrutínio, o Facebook adiou o serviço do Instagram para crianças. Na quinta-feira, 30 Antigone Davis, diretora de segurança global do Facebook, foi questionada durante mais de duas horas por legisladores sobre o custo mental e emocional que seus serviços podem impor às crianças.

Campanha e apoio

Dentro do Facebook, altos executivos foram envolvidos pela crise, com as consequências se espalhando por áreas da companhia e perturbando o “Grupo da Juventude”, que supervisiona a pesquisa e desenvolvimento de produtos para crianças, como o Messenger Kids, segundo entrevistas com uma dúzia de atuais e antigos funcionários, que não tinham autorização para falar em público.

Para contornar a polêmica, Zuckerberg e Sandberg aprovaram decisões sobre como reagir, mas deliberadamente se mantiveram fora da atenção pública, disseram duas pessoas informadas das reuniões. A companhia se apoiou em suas equipes de “Resposta Estratégica”, que incluem funcionários de comunicações e relações-públicas.

O esforço exigiu tanto tempo que vários projetos que deveriam ter sido concluídos nesta época foram adiados, disseram pessoas informadas sobre os planos da empresa.

Mas parte da contenção do Facebook às vezes retroage sobre seus próprios trabalhadores. Nesta semana, a companhia minimizou a pesquisa interna sobre a qual o WSJ havia baseado parcialmente suas reportagens, sugerindo que as conclusões foram limitadas e imprecisas. Isso irritou alguns empregados que tinham trabalhado na pesquisa, disseram três pessoas.

Eles se reuniram em bate-papos de grupo e lamentaram as caracterizações como injustas; alguns ameaçaram privadamente se demitir. Em um grupo de mensagens de texto compartilhado com The New York Times, cientistas e pesquisadores de dados do Facebook disseram que foram “envergonhados” por seu próprio empregador. Em um painel de mensagens da companhia, um empregado escreveu nesta semana: “Eles estão fazendo piada da pesquisa”.

“A equipe de pesquisa UX do Facebook é uma das melhores no setor”, disse Sahar Massachi, engenheiro do Facebook que trabalhou em integridade eleitoral e deixou a companhia em 2019. “Em vez de atacar seus funcionários, o Facebook deveria estar dando aos pesquisadores de integridade a autoridade para realizar seu trabalho mais plenamente.”

o Facebook adiou o serviço do Instagram para crianças (Reprodução/Barbara Mannara)

Facebook

O furor provavelmente não vai passar logo. No domingo, a denunciante que vazou a pesquisa interna e que é uma ex-empregada do Facebook deverá revelar sua identidade e discutir os documentos no programa de TV “60 Minutes”. Ela comparecerá a uma audiência do Senado na terça-feira, 5, para depor sobre o que descobriu enquanto realizava pesquisas no Facebook.

Kevin McAlister, porta-voz do Facebook, disse que a companhia esteve sob “intenso escrutínio, e só faz sentido formarmos equipes para consolidar as reações internas e externas, assim como para as equipes ajudarem a acelerar reparos em áreas onde precisamos melhorar”.

Desde que as reportagens foram publicadas no WSJ, a partir de 13 de setembro, as equipes de “Resposta Estratégica” do Facebook, que lidaram com muitas crises nos últimos anos, se debatem com as respostas. As equipes, lideradas por veteranos da empresa como Tucker Bounds e Molly Cutler, e agindo sob a direção de Clegg, buscaram insumos dos principais pesquisadores do Facebook, disseram as fontes. O Facebook então reagiu com posts em blogs que diziam que os artigos publicados no WSJ foram imprecisos e fora de contexto.

Os executivos também se reuniram para discutir o futuro da pesquisa no Facebook, segundo duas pessoas informadas das ligações. Alguns questionaram se a rede social deve continuar realizando pesquisa sobre seus produtos, porque eles disseram que companhias como a Apple não fizeram estudos semelhantes. Clegg apoiou continuar a pesquisa, disseram as pessoas, e outros afinal concordaram.

Mosseri também procurou os funcionários para aliviar temores sobre os produtos da empresa para adolescentes. Em um post interno no mês passado sobre “Bem-estar adolescente no Instagram”, ele disse que estava “orgulhoso” porque a companhia fez a P&D apresentada no artigo do WSJ e acrescentou que “nós investimos pesado em segurança e integridade”.

Um pesquisador do Facebook disse que um colega foi contatado pela equipe jurídica na última semana e indagado sobre um relatório de pesquisa que ele publicou há mais de dois anos. A equipe jurídica parecia estar buscando alguma pesquisa potencialmente recriminadora que poderia ser compartilhada com a imprensa, disse ele.

Seu diretor o havia aconselhado a não fazer pesquisas procurando termos específicos sobre seu antigo emprego ou fazer qualquer coisa que pudesse parecer suspeita, disse ele. Agora, disseram a ele, seria um bom momento para tirar férias.

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