‘Fadada ao fracasso’, diz Eduardo Bolsonaro sobre comissão do Senado que tentará negociar ‘tarifaço’ nos EUA
Por: Ana Cláudia Leocádio
23 de julho de 2025
BRASÍLIA (DF) – O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) emitiu uma nota pública na qual comentou sobre a comissão temporária do Senado, criada para tratar do “tarifaço” de 50% aos produtos brasileiros, imposto pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. Os oito senadores viajam nessa sexta-feira, 25, para buscar reuniões com senadores estadunidenses e o alto escalão de Departamento de Estado. Segundo Eduardo, a viagem será um fracasso porque não leva em conta o cerne da questão para resolver o impasse, que é a aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita, inclusive ao pai, Jair Bolsonaro (PL).
Liderada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), a comissão terá ainda os senadores Tereza Cristina (PP-MS), Jaques Wagner (PT-BA), Fernando Farias (MDB-AL), Marcos Pontes (PL-SP), Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Carvalho (PT-SE) e Carlos Viana (Podemos-MG). Eles devem permanecer na capital, Washington, até o dia 31 deste mês, véspera da entrada em vigor das tarifas anunciadas por Trump.
Na carta em que comunicou o Brasil das tarifas de 50%, no último dia 9, o presidente dos EUA criticou o processo penal movido contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como líder de uma organização criminosa que planejou um golpe de Estado, para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin, cujos desdobramentos culminaram nos ataques aos prédios dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro de 2023. Trump condicionou a negociação à paralisação do processo “imediatamente”. Desde então, vem publicando reiteradas cartas de apoio ao ex-mandatário do Brasil.

Eduardo Bolsonaro se mudou para os Estados Unidos, em março deste ano, em busca de sanções ao Brasil e contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator da ação penal na 1ª Turma, contra Bolsonaro e outros aliados. Ao lado de Paulo Figueiredo, o parlamentar se coloca como artífice das medidas anunciadas pelo governo dos EUA contra o País.
Na carta, Eduardo diz que a comitiva de senadores não fala em nome de Jair Bolsonaro e a classifica como uma iniciativa padrão, com “políticos que visam adiar o enfrentamento dos problemas reais, vendendo a falsa ideia de uma ‘vitória diplomática’, enquanto ignoram o cerne da questão institucional brasileira”.
O parlamentar considera a comitiva brasileira um desrespeito a Donald Trump, uma vez que este foi explícito na carta que enviou ao Brasil. “Buscar interlocução sem que o país tenha feito sequer o gesto mínimo de retomar suas liberdades fundamentais – como garantir liberdade de expressão e cessar perseguições políticas – é vazio de legitimidade. O constrangimento se agrava com a presença de senadores ligados ao partido de Lula, político que sistematicamente adota posturas hostis aos EUA”, afirmou.
Ao negar qualquer vínculo com a comissão do Senado, o deputado antecipa o fracasso dos parlamentares. “Mas confesso até simpatizar com a ideia de que venham: não por acreditar que terão sucesso, mas porque poderão constatar que aquilo que eu e Paulo Figueiredo temos dito – não há sequer início de discussão sem anistia ampla, geral e irrestrita!”, concluiu a nota.
Junto à nota, Eduardo anexou um vídeo de Paulo Figueiredo, informando aos senadores, de que está sendo consultado por autoridades dos EUA sobre os pedidos de reuniões feitos pela comissão brasileira. Para Figueiredo, o máximo que conseguirão será encontrar alguém de baixo escalão para dizê-los que estão perdendo tempo. Ele também chamou de traidores os senadores Tereza Cristina e Marcos Pontes, ex-ministros da gestão Bolsonaro, por estarem participando de uma comissão para pedir o fim do tarifaço sem se esforçar para que o Congresso Nacional, no Brasil, tome as medidas impostas por Trump.
“Se os senhores quiserem trair o Brasil, ir lá, arregar para a Ditadura, sem que nem um milímetro seja dado de avanço, por parte do nosso Congresso. Se vocês preferem impressionar o presidente dos Estados Unidos, em vez de pressionar o presidente do Senado, os senhores serão tratados como traidores e serão publicamente humilhados pelo fracasso que será a negociação dos senhores. E se eu estou falando isso, é porque eu tenho certeza do que vai acontecer”, disse.
Comitiva tentará “sensibilizar” colegas
Membros da comissão temporária do Senado têm uma reunião com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mário Vieira, nesta quarta-feira, 23, que deverá servir para obter informações sobre em que grau estão as tratativas por parte do governo brasileiro com o governo dos EUA em relação ao tarifaço.
Em entrevista à Rádio Senado, o senador Nelsinho Trad disse que o objetivo da missão “é ‘sensibilizar’ os colegas sobre as consequências da cobrança extra para a economia do Brasil”. Mostrar, por exemplo, que, ao contrário do que disse Trump, o comércio entre os dois países é superavitário para os EUA e que as medidas poderão também ser danosas ao mercado interno, com forte impacto aos consumidores estadunidenses.
“Não temos outra situação a não ser tentar voltar ao que era anteriormente. Muitos setores estão sendo prejudicados, setor da indústria, Embraer, setor do agro, suco de laranja, carne. Isso realmente vai afetar a geração de emprego no Brasil. Muitas demissões previstas, mas nós estamos otimistas de que a gente possa reverter isso”, disse Trad.
Para a senadora Tereza Cristina, que foi ministra da Agricultura no governo Bolsonaro (2019-2022), o Brasil precisa fazer uma negociação mais firme. “Acho que o governo precisa levar uma proposta firme e esgotar todos os esforços dentro da mesa de negociação, do diálogo, mostrando os nossos pontos e os Estados Unidos colocando os deles. Só assim, vamos conseguir avançar nesse tema. Agora, acho que mandar uma carta é muito pouco. Ou alguém deveria estar levando essa carta”, avaliou.