Falta d’água prejudica prevenção da pandemia na ilha do Marajó, PA


30 de maio de 2020
Falta d’água prejudica prevenção da pandemia na ilha do Marajó, PA
Moradores da Ilha do Marajó, no Pará, tem reclamado da falta de água em meio à crise sanitária. - (Foto: Filipe Gomes)

Da Revista Cenarium*

BELÉM – A Covid-19 alterou a rotina em Breves, cidade mais populosa do arquipélago do Marajó, no Pará. A doença já matou 57 pessoas e infectou 485; e o racionamento de água prejudica os cuidados para evitar a doença.

O Ministério Público Estadual chegou entrar na Justiça pela volta do “lockdown” em Breves, mas o pedido foi negado -a prefeitura é contra o “lockdown”, defendendo a flexibilização da quarentena. Breves, de 102,7 mil habitantes, entrou no radar de atenção nacional depois de um estudo da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) projetar a cidade como a maior em incidência da Covid-19 no país, entre 133 municípios analisados.

Na projeção, 24,8% da população de Breves tem ou já teve o novo coronavírus, algo em torno de 25 mil pessoas. Segundo o epidemiologista Pedro Hallal, a projeção se baseia em testagens da Ufpel, que permitem avaliar os cenários epidemiológicos, por amostragem.

“Nós fizemos 250 testes em Breves, dos quais 53 foram positivos. Ajustando-se para a validade do teste, a proporção estimada da população com coronavírus é de 24,8%. Pegando-se o número de moradores da cidade, e aplicando-se esse percentual, o número estimado de casos na cidade é de 25 mil”, diz Hallal.

A falta d’água afeta a vida na cidade. Em algumas áreas, diariamente o abastecimento é retomado apenas por duas horas a cada turno, de manhã e à noite. É curto o tempo para ter o essencial para a cozinha, para lavar as mãos ou para tomar banho.

É o que vive o estudante Robert Pinheiro Lisboa, 32, morador de Breves. Ele diz ter vários conhecidos e vizinhos infectados com a doença.
“É tenso, mas só para quem se preocupa. Muitos nem ligam. Depois do fim do ‘lockdown’, as pessoas abarrotaram as ruas. Churrasco, pessoas bebendo juntas, como se nada tivesse acontecido. E aqui é interior. Todo mundo se conhece. É difícil”, conta.

Ao todo, o arquipélago de Marajó (com 16 cidades) já somava 1.768 casos e 133 mortes até esta quarta (27). No Pará, são 33.699 casos confirmados e 2.715 vítimas.

Depois do Lockdown

O Pará suspendeu no domingo (24) o “lockdown”, medida mais rígida de isolamento, em 16 cidades, incluindo algumas do arquipélago. O Ministério Público ajuizou ação para a volta do regime em Breves, com o bloqueio a atividades não essenciais e circulação prorrogada por pelo menos mais 10 ou 15 dias.

Já a prefeitura defende a manutenção do comércio aberto. “Breves é uma cidade-polo. Concentra serviços de bancos para outros oito municípios e fica entre três capitais com altos índices de Covid-19: Belém, Manaus e Macapá. Cerca de 2.000 pessoas diariamente vêm de outras cidades buscar serviços”, diz o prefeito Toninho Barbosa. Para ele, o fato de Breves ter mais recursos hospitalares e receber pessoas doentes aumenta os índices da cidade. “Medidas preventivas são executadas desde março, quando o Pará registrou seu primeiro caso.”

O risco em Breves expõe o arquipélago, para Jaime da Silva Barbosa, presidente da Amam (Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó) e também prefeito de Cachoeira do Arari. “Por isso somos os mais atingidos, os mais vulneráveis. Dos 16 municípios, só Breves pode atender suspeitas da Covid-19, ou pacientes precisam ir a Belém.”

Nesta quarta, o governador Helder Barbalho recebeu em Belém o general Eduardo Pazuello, responsável interino pelo Ministério da Saúde. O governo do Pará informou que abrirá outro hospital de campanha, na cidade de Soure, com 60 leitos, dez de UTI. Antes, instalou o hospital de campanha de Breves para atender a região (com 50 leitos clínicos e dez de UTI). A taxa de ocupação do hospital é de 60%.

O Pará diz que tem ainda nove leitos de UTI no Hospital Regional do Marajó, também em Breves. Afirma que pacientes da região são atendidos ainda por hospitais de Belém e que transfere doentes quando isso é solicitado. O governo também diz que comprou medicamentos e os distribuiu às prefeituras.

*Com informações da Folhapress

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